No último texto foi discutido sobre como o comportamento de mentir pode ocorrer de várias formas na infância, inclusive de maneira saudável. E também sobre algumas de suas consequências. Mas, e se isso passar de algo “comum” para algo mais sintomático?
É o caso da “mentira patológica” ou mitomania. O termo “patológico” se refere a um comportamento, sintoma de uma doença física ou transtorno psicológico.
Na mitomania (que também é conhecida como “síndrome do Pinóquio”), a pessoa tem uma necessidade compulsiva (é algo que se repete sem controle consciente e que serve para aliviar uma angústia) pelo mentir. Ou seja, não consegue controlar ou barrar esse comportamento conscientemente.
Nestes casos, os “mentirosos patológicos” costumam fazê-lo mesmo que o ganho não seja perceptível para os outros; e as mentiras contadas não costumam se sustentar, por apresentar falhas de continuidade e de lógica.
Contudo, aquele que mente passa a acreditar no que fala. Porque a realidade passa a ser distorcida pra essa pessoa, prejudicando a capacidade do indivíduo em manter relações românticas, de trabalho, com família ou amigos.
Este transtorno pode estar enraizado em traumas, numa psique que está fragilizada ou pressões externas exageradas. Assim, se criam falsas narrativas como forma de corresponder as cobranças internas e externas, nas quais, o mentir está como uma saída para preservar o psiquismo, a autoestima e a sanidade.
Além disto, por ser uma estratégia de sobrevivência psíquica, quem mente de forma patológica passa a normalizar o comportamento, dramatizando o que é corriqueiro repetidamente, já que isso gera um ganho secundário pra a doença.
Seja este de reafirmar uma identidade ou personagem que se gostaria de ser, a vontade de ser o centro das atenções, o desejo de reforçar a autoestima que está fragilizada, de negar os fracassos, de ser amado pelo outro ou não assumir responsabilidades. Por exemplo: falam sobre posses e dinheiro para manter uma ordem social; criam eventos e situações que justificam ausências; doenças e sintomas que geram afeto e carinho; promoções ou cargos que os coloquem como dignos de ser admirados; e dizem conhecer pessoas como forma de se conectar afetivamente com o próximo.
Por estas razões, é comum que a pessoa mitomaníaca tenha muita resistência ao ser confrontada sobre seu comportamento. O que não significa que o tratamento é impossível.
Neste sentido, a mitomania pode se manifestar junto a outros transtornos, como: ansiosos, depressivos, questões de personalidade ou de dificuldade no controle de impulsos. Por isso, pode se fazer necessário o acompanhamento psiquiátrico e medicamentoso junto ao da psicoterapia.
Na terapia com o psicólogo é possível que a pessoa perceba (desde que esteja disposta) sobre seu quadro de saúde mental, elabore sobre suas causas, entenda como a mitomania e outros transtornos podem estar afetando questões atuais (como percepção da realidade, autoconfiança, relacionamentos, trabalho, autoestima, ego, medos e ansiedades) e trate esse transtorno de uma forma saudável.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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