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Meninas da ginástica na corda bamba

24/02/2012 18h24 - Atualizado há 13 anos Publicado por: Redação
Meninas da ginástica na corda bamba

Uma campeã mundial que se tornou ídolo nacional, um treinador estrangeiro vitorioso, um centro de treinamento estruturado e apelo popular. A ginástica artística feminina do Brasil parecia estar no caminho para se posicionar entre as melhores do mundo. Movimentos mal executados, no entanto, derrubaram a equipe, que perdeu o equilíbrio e dificilmente vai brigar por medalhas nos Jogos de Londres neste ano.

Embalada pelos saltos de Daiane dos Santos, campeã do mundo no solo em 2003 – título inédito para a ginástica brasileira – a modalidade se tornou uma febre no Brasil durante o Pan 2007 no Rio de Janeiro e conquistou espaço na mídia e entre a população, que se entusiasmou com um esporte que mistura habilidade, força, graça e emoção.

Nada disso foi adiante, no entanto. Para os Jogos de Londres deste ano a equipe de ginástica artística feminina só conseguiu se classificar na repescagem. As principais atletas brasileiras são as mesmas que representaram o país há quatro anos em Pequim, e Jade Barbosa, o destaque da equipe, já pode ser considerada veterana hoje com 20 anos.

Após chegar a uma inédita final por equipes na Olimpíada de 2008, que muitos apostavam seria a plataforma para o crescimento no ciclo olímpico seguinte, o treinador ucraniano Oleg Ostapenko deu por encerrado seu trabalho na seleção feminina, que ele comandava desde 2001. Além disso, o projeto de manter a equipe permanente foi desfeito mediante a troca de comando na presidência da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG).

Os dois acontecimentos, junto com a decisão da nova administração da confederação de tirar o foco da ginástica artística para incentivar outras modalidades, com destaque para a ginástica rítmica e também incluindo modalidades não olímpicas como ginástica aeróbica, foram as causas para as meninas do Brasil terem perdido sua posição entre as melhores do mundo, disseram pessoas ligadas ao esporte à Reuters.

A ginástica rítmica, no entanto, não conseguiu se classificar para os Jogos de Londres e ficará de fora de uma Olimpíada pela primeira vez após três participações consecutivas.

“Quem sempre teve retorno foi a ginástica artística. A ginástica artística tem mostrado muito resultado, tanto no masculino como no feminino. Precisa dar valor para quem tem título”, disse a ginasta Daiane do Santos, que aos 29 anos se prepara para sua quarta e última Olimpíada, novamente como uma das principais integrantes da seleção brasileira. Mas agora sem o favoritismo que tinha antes de Atenas 2004, quando terminou em quinto lugar no solo.

“Acho que algumas coisas mudaram com a nova presidente (da CBG)… com tudo que aconteceu, o fim da seleção permanente”, acrescentou Daiane, que ainda hoje lamenta o fim da equipe treinada por Olegem Curitiba. Sobo comando do ucraniano o Brasil conseguiu os melhores resultados da história da modalidade: finais olímpicas em Pequim 2008 e Atenas 2004, o título mundial de Daiane e as medalhas em mundiais de Daniele Hypólito e Jade Barbosa, entre outras conquistas.

 

MUDANÇA NA CBG – Com a eleição de Maria Luciene Resende para presidir a confederação em2008, a entidade, antes com sede em Curitiba, onde desde 2001 funcionava o centro de treinamento da seleção feminina, se mudou para Sergipe, onde, como em toda a região Nordeste, a ginástica rítmica é muito mais praticada que a artística.

A entidade também decidiu acabar com a seleção permanente e mandar as atletas de volta para treinar com os técnicos de seus clubes, uma decisão polêmica que dividiu as próprias atletas entre as favoráveis à medida -como Jade e Daniele, que reclamavam do rigor do regime de concentração- e as que preferiam seguir treinando juntas, lideradas por Daiane. A piora nos resultados, porém, é incontestável.

As brasileiras voltaram do Mundial de 2011 no Japão sem terem disputado a final por equipes, tiveram no Pan de Guadalajara seu pior desempenho nos Jogos desde a edição de Mar Del Plata 1995 e precisaram disputar a repescagem no mês passado para conseguir classificar a equipe para os Jogos de Londres.

“Foi uma mudança bastante drástica. Optou-se por não se seguir com o trabalho, com a estrutura que estava criada com as seleções permanentes e passaram a ficar com os treinamentos nos clubes. Infelizmente, nós ainda não temos essa estrutura nos clubes”, avaliou Eliane Martins, ex-coordenadora da seleção brasileira e que atualmente chefia um projeto da Federação Paranaense de Ginástica com jovens atletas mirando os Jogos de 2016 no Rio de Janeiro, tendo Oleg como treinador.

“Os resultados não mentem. A gente treinava para ter um resultado internacional que representasse bem o Brasil”, acrescentou.

 

TODAS AS GINÁSTICAS – Na avaliação da nova administração da CBG, no entanto, a escolha por desfazer a seleção se justifica para fortalecer os clubes formadores de atletas pensando na renovação da seleção, o que não será o caso para Londres. Num esporte em que as melhores do mundo alcançam o auge na adolescência, Daiane terá 29, Daniele, 27, e Jade, 21, na Olimpíada.

“Quando o jovem atleta vê que está treinando (no clube) com a Jade, é muito mais fácil para nós treinadores conseguir tirar desse atleta o que ele tem capacidade pra render. Ser campeão mundial não fica sendo só um sonho que não é paupável”, afirmou o coordenador de seleções da CBG, Klayer Mourthé.

O dirigente negou que a federação tenha se concentrado na ginástica rítmica, de onde vem a presidente Maria Luciene, sem dar continuidade ao trabalho que já estava em andamento na ginástica artística.

“A principal diferença dessa administração é que existe um trabalho para todas as ginásticas”, disse ele.

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que trabalha para colocar o Brasil entre os 10 primeiros colocados do quadro de medalhas nos Jogos do Rio 2016, espera conseguir recuperar o antigo patamar da ginástica artística a partir da inauguração de um centro de treinamento no Rio e da contratação de técnicos estrangeiros para comandar a seleção.

“Conseguimos tirar o cara da Austrália, ele é muito bom, um monstro”, disse o superintendente-executivo de Esportes do COB, Marcus Vinícius Freire, com confiança no trabalho do treinador bielorrusso Vladimir Vatkin, que estava no comando da equipe da Austrália.

O treinador será o encarregado da seleção masculina, que representa um alívio para a modalidade nas mãos de Diego Hypólito e Arthur Zanetti -ambos classificados para Londres apenas em provas individuais e com chances de medalhas.

Com as meninas ficará a mulher dele, Margarita, e a expectativa de que o período pós-Londres recoloque a equipe em condições de brigar por medalhas quando o país receber a Olimpíada de 2016.

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