Disputas municipais tumultuam base
A proximidade das eleições municipais irá exacerbar nos próximos meses a insatisfação da base aliada com o Planalto para além do PMDB, principal parceiro do PT, e deve obrigar a presidente Dilma Rousseff a apressar a liberação de recursos para emendas parlamentares.
Lideranças de partidos que formam o governo, ouvidas pela Reuters, criticam a falta de autonomia dos ministros e da concentração da distribuição de emendas no Planalto, em ritmo que classificam como “conta-gotas” – queixas repetidas desde o início da gestão Dilma Rousseff, mas que se tornaram mais agudas agora por se tratar de um ano eleitoral.
Um fato agravante foi o de que o contingenciamento determinado no último mês pelo governo ter cortado 100 por cento dos recursos destinados às emendas parlamentares.
O descontentamento já transparece nas votações do Congresso. Nesta quarta-feira, 7, o Senado rejeitou a recondução de Bernardo Figueiredo à diretoria da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), como queria a presidente Dilma. Na Câmara, aliados querem ressuscitar a discussão sobre o Código Florestal – o que levou o governo a ameaçar retirar o texto de votação. Na última semana, o PSB e o PDT foram majoritariamente contrários à aprovação na Câmara do Funpresp – fundo de previdência complementar do funcionalismo público -, proposta prioritária para a presidente.
A insatisfação é grande porque, para deputados e senadores, atender com emendas ou ações de governo suas bases eleitorais, candidatos a prefeito e vereador é essencial para sobrevivência política e pesa nos votos que terão na reeleição ou próxima campanha.
Como agravante há o fato de parte dos deputados serem candidatos a prefeitoem outubro. Segundoo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a estimativa é de que pelo menos 100 deles irão concorrer nas eleições em cidades importantes.
“As reclamações do PMDB não são diferentes das do PP, do PSB”, diz Maia. “Há sempre tensão entre o Executivo e o Legislativo, e em anos eleitorais as pressões aumentam”, afirma o petista.
Para o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), um dos principais descontentes do partido aliado, atender emendas parlamentares “não é bondade do governo, é obrigação, está na lei”. A insatisfação do partido ainda foi formalizada na terça com a apresentação de manifesto ao vice-presidente Michel temer reclamando da falta de prestígio da sigla nas decisões de governo.
Entre o rosário de reclamações citadas pelos peemedebistas estão a desigualdade entre os orçamentos comandados pelo PT e pelo PMDB no governo. Um senador da sigla, que falou sob condição de anonimato, deu como exemplo prático o fato de ministros com mais recursos poderem viajar o país para lançar programas do governo que acabam entendidos pela população como ações “do PT”.
“Ministros do PMDB não tem autonomia nem recursos”, diz o senador. O PT conta com 16 ministros no governo, enquanto o PMDB tem 5.
Outro fator que preocupa os aliados é que o Planalto comece a tomar decisões movido pelas eleições, como atribuem alguns a indicação do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para a pasta da Pesca e Aquicultura. Na avaliação de alguns peemedebistas, a indicação de Crivella teve o objetivo de beneficiar a candidatura de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo, pois atrairia o apoio do pré-candidato do PRB na cidade, Celso Russomano, à chapa petista
“É um amontoado de coisas que em ano eleitoral se agudizam”, diz o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves.
Segundo ele, nem mesmo parlamentares petistas, apesar de receberem mais privilégios dos ministros do partido, estão contentes com o ritmo de liberação das emendas.
Alves afirma que a votação do PSB contra o Funpresp, o fundo de previdência complementar dos funcionários públicos, na última semana, teve como razão
“Todos estão insatisfeitos nessa relação, queremos discuti-la, não desfazer o casamento”, afirma Alves, citando a aliança dos dois principais partidos que sustentam o governo Dilma.