Velório reúne mais de oito mil pessoas e silêncio impera em toda a cidade
Ao chegar em Borborema as bandeiras a meio mastro e com panos pretos já indicavam que a cidade estava de luto. No caminho até o ginásio de esportes, onde os corpos de 10 vítimas do trágico acidente ocorrido na noite de segunda-feira, próximo a Ibitinga, nenhum estabelecimento comercial estava aberto, as casas exibiam panos pretos, e nenhum som ecoava dos carros. Uma cidade em silêncio.
Era por volta das 17 horas quando os corpos começaram a chegar para o velório. No ginásio, uma fita branca isolava a área onde os caixões iriam ficar. Também neste local estavam colocadas cadeiras brancas, uma ao lado da outra. Neste local ficariam os familiares. De repente, o silêncio foi rompido pelo som de palmas. Chegava o corpo da primeira vítima. O caixão branco trazia a aluna Gabriela Cristina da Silva Rodrigues.
Enquanto o caixão com a estudante era colocado sobre os pedestais, o silêncio voltou a reinar pelo ginásio, mas assim que abriram o caixão um grito de dor tomou conta do local: “Meu Deus! Minha filhinha, minha filhinha! Por que isso, por que meu Deus”, clamava a mãe, desesperada, ao ver sua filha com o rosto cheio de hematomas.
Em seguida começaram a chegar os corpos das outras vítimas. Uma a uma, todas eram aplaudidas. O desespero aumentava a cada minuto, familiares choravam, pais desmaiavam. Bombeiros municipais abriam caminho e levavam as pessoas que passam mal até um ambulatório montando dentro do ginásio. Médicos e enfermeiros, todos com seus jalecos brancos, pedindo paz e o fim das tragédias, atendiam voluntariamente.
Quando entrou o caixão com o corpo da professora e coordenadora de cultura de Borborema, Márcia Martins Carvalho Biasotto, todos, sem exceção passaram a gritar o nome da educadora. Ela, segundo alunos e amigos, era alegre e uma entusiasta da educação.
LÁGRIMAS E FLORES
Por todo o canto via-se jovens, adultos e crianças chorando, soluçando. Olhos cheios de lágrimas. O ginásio de esportes parecia pequeno para as mais de cinco mil pessoas. Três mil estavam dentro do ginásio, outras aguardavam a vez de prestar as suas homenagens.
Mais de sessenta coroas de flores, coloridas, brancas, contrastavam com a pintura descascada do ginásio e davam o tom das homenagens. Terça-feira, até às 21h, quando escrevi este texto, a solidariedade foi a marca do velório. Quarta-feira, às 6h, uma missa de corpo presente marca o início dos enterros, que começam às 9h no cemitério de Borborema.