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Satélite sino-brasileiro com assinatura USP/São Carlos

16/12/2014 23h19 - Atualizado há 10 anos Publicado por: Redação
Satélite sino-brasileiro com assinatura USP/São Carlos

No dia 7 de dezembro, os pesquisadores e técnicos envolvidos na cooperação espacial entre Brasil e China, uma parceria criada em 1988 com o título CBERS – China-Brazil Earth Resources Satellite, acompanharam ansiosamente o lançamento do foguete Longa Marca 4B, que aconteceu no Taiyuan Satellite Launch Center, China, que teve o objetivo de colocar em órbita o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres CBERS-4, 55% desenvolvido e produzido no Brasil. Em especial, duas das quatro câmeras que compõem a carga útil do satélite foram desenvolvidas e produzidas pela empresa OPTO Eletrônica S/A – uma spin-off do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo. Em 2006, a OPTO ganhou a concorrência internacional promovida pelo INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e trabalha desde então na construção bem sucedida dessas câmeras.

Esta missão, que estava programada para acontecer no final de 2016, foi antecipada devido à falha registrada em um dos estágios finais do lançamento do foguete que levaria para órbita o CBERS-3, um acidente que destruiu todo o equipamento em dezembro do ano passado. Como há sempre grandes chances de ocorrerem falhas em missões como esta, os cientistas brasileiros e chineses já tinham se precavido, tendo produzido outros dois conjuntos de equipamentos, o que possibilitou uma nova tentativa de lançamento, desta vez realizada com sucesso. “Foi uma frustração enorme quando assisti ao acidente do CBERS-3, em dezembro de 2013, mas já prevíamos tais riscos e estávamos preparados para esse caso”, afirma o Prof. Dr. Jarbas Caiado de Castro Neto, docente do Grupo de Óptica do IFSC-USP, um dos principais desenvolvedores do projeto, empreendedor e acionista da OPTO.

O CBERS-4, que pesa aproximadamente duas toneladas, é constituído por quatro câmeras, sendo as duas principais, a Câmera Multispectral – totalmente construída pela empresa são-carlense – e a Câmera Imageadora de Amplo Campo de Visada -, igualmente desenvolvida e construída pela OPTO em parceria com outra empresa nacional. Entre os diversos objetivos do CBERS-4, destacam-se o monitoramento de áreas de desmatamento da Amazônia, expansão de regiões agrícolas, aplicações em mapas de queimadas e, inclusive, pesquisas de desenvolvimento urbano e bacias hidrográficas. As câmeras produzidas pela spin-off do IFSC-USP possuem sensores CCD visíveis e infravermelhos que destacam, através de imagens de cores distintas, as áreas de desmatamentos.

O processo de desenvolvimento das duas câmeras englobou aproximadamente os 450 funcionários da OPTO, em especial os 75 membros do P&D – Pesquisa e Desenvolvimento -, que contam com diversos pesquisadores, ex-alunos de graduação e pós-graduação do IFSC-USP e engenheiros. “Desenvolver as câmeras foi um trabalho que exigiu muita capacidade de projetar, construir, alinhar e testar esses equipamentos de alta tecnologia e complexidade. Um projeto de grande importância como este traz diversos desafios que nos empolgam”, diz Jarbas Caiado, sublinhando que esse projeto, que durou aproximadamente oito anos, começou quando o Prof. Luiz Carlos Miranda, presidente do INPE em 2006 e pai do Prof. Dr. Paulo Barbeitas Miranda (IFSC-USP), o procurou e, posteriormente, contratou a OPTO para realizar esse importante trabalho. 

Após esta missão bem sucedida, a empresa brasileira já está desenvolvendo outro grande projeto: o satélite Amazônia, 100% nacional, cuja câmera inovadora – uma versão entre a WFI e a MUX – está sendo desenvolvida pelos pesquisadores da OPTO. Este novo satélite, desta vez produzido inteiramente no Brasil, deverá ser lançado em 2018. “O tempo de revisita – imagem completa da terra – da câmera MUX é de vinte e sete dias. A WFI possui uma largura de imagem maior, o que permite que ela faça uma imagem completa da Terra a cada cinco dias, compondo as imagens obtidas a cada uma das cinco voltas que o satélite faz por dia”, explica Jarbas Caiado.

A Câmera Multispectral (MUX), que possui alta resolução no solo – 20 metros – e largura de imagem de 120 Km, é formada por quatro equipamentos, sendo eles o MOB – conjunto ótico constituído por 11 lentes e um espelho -, o RBNA – modulo que faz a aquisição de imagem -, RBNB – eletrônica responsável pelo controle térmico, ajuste de foco e controle interno do sistema de calibração – e o RBNC – responsável por gerar os relógios de leitura do sensor CCD, e pelo processamento das saídas CCD analógicas em sinais digitais e de codificação de dados. 

Já a Câmera Imageadora de Amplo Campo de Visada (WFI), que fornece imagens de média resolução (64 metros) no solo e largura da imagem de 866 Km, teve como grande desafio a melhora por um fator de 2X da resolução espacial, em comparação com os sensores presentes no CBERS-1 e CBERS-2, alem da inclusão de quatro bandas espectrais não presentes nos modelos anteriores.

Para o docente, esse projeto, assim como a missão do CBERS-4, é prova de que o nosso país tem profissionais com grande capacidade para superar dificuldades, bem como um total controle nas produções ópticas de satélites. “O Brasil necessita de grandes desafios. A OPTO, que está ligada a instituições como o INPE e IFSC-USP, é um grande exemplo de que somos capazes de reagir aos desafios tecnológicos apresentados. O segredo está em ter uma equipe de pesquisadores e técnicos de alta competência como a equipe que o diretor de P&D da Opto, Mario Stefani, doutor em física pelo IFSC, montou para esse projeto. O sucesso do CBERS-4 deverá abrir novas portas internacionais para a empresa, no restrito clube de países que dominam essa tecnologia”, conclui Jarbas Caiado, que acrescenta: “Tanto o CBERS-4, quanto seus antecessores, como, inclusive, o próximo satélite brasileiro, tem a assinatura do Instituto de Física de São Carlos e, por consequência, o fingerprint da Universidade de São Paulo, o que muito nos orgulha e incentiva.

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