Déficit em conta corrente soma US$ 3,32 bi
A queda nas remessas de lucros e dividendos de multinacionais instaladas no país e o melhor desempenho da balança comercial reduziram no mês passado o déficit em conta corrente do Brasil, ao mesmo tempo em que o Banco Central indicou que o país deve receber mais Investimento Estrangeiro Direto (IED) neste ano.
“Estamos financiando, com certa margem, o déficit em transação corrente com investimento (estrangeiro) direto”, disse o chefe do Departamento Econômico da autoridade monetária, Tulio Maciel.
Em março, o saldo em transações correntes – que integra operações do país com o exterior, como balança comercial e gastos com viagens internacionais – ficou negativo em 3,320 bilhões de dólares no mês passado, queda de 42,1 por cento sobre março de 2011, quando o saldo estava negativo em 5,737 bilhões de dólares.
O resultado do mês passado ficou aquém da própria estimativa feira pela autoridade monetária para o período, de 4,5 bilhões de dólares, e de economistas consultados pela Reuters, que previam saldo negativo de 4,2 bilhões de dólares. Com isso, no acumulado em 12 meses encerrados em março, o déficit em conta corrente do país ficou em 1,98 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
O melhor resultado da conta corrente nacional veio com as remessas de lucros e dividendos que, em março, somaram 1,965 bilhão de dólares. Um ano antes, foram de 3,716 bilhões de dólares.
A explicação é a maior valorização do dólar frente ao real neste mês o que desestimulou as empresas a mandar recursos para o exterior.
“O câmbio desestimulou as remessas”, afirmou Maciel, acrescentando que, em abril até o dia 20, o saldo líquido das remessas estava em 618 milhões de dólares.
Em março, a balança comercial registrou superávit de 2,019 bilhões de dólares, sendo que um ano antes, foi de 1,554 bilhão de dólares.
O dólar mais alto também desestimulou em parte a viagem de brasileiros ao exterior. No mês passado, essas despesas tiveram saldo líquido negativo de 997 milhões de dólares, com brasileiros gastando 1,627 bilhão de dólares no exterior.
O governo tem combatido a valorização do real frente ao dólar através de intervenções do BC no mercado cambial e através de medidas, como a imposição da cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em captações externas de empresas.
A atuação do governo teve reflexo em diversos aspectos da conta externa. Nos três primeiros meses do ano, houve queda de 39,15 por cento dos valores captados por empresas no exterior. De janeiro a março, foram embolsados 3,259 bilhões de dólares, enquanto que no mesmo período de2011 acaptação havia somado 5,356 bilhões de dólares, de acordo com o BC.
“A imposição de IOF contribuiu para essa queda”, afirmou Maciel.
No mês passado, o volume de investimento de estrangeiro em ações negociadas no país somou 144 milhões de dólares, sendo que os títulos de renda fixa negociados no país ficaram em 334 milhões de dólares.
INVESTIMENTO PRODUTIVO
O déficit em transações correntes foi totalmente financiado pelo IED, que somaram 5,887 bilhões de dólares em março – chegando no ano a 14,939 bilhões de dólares-, também acima das estimativas do BC, de 4 bilhões de dólares para o mês passado.
Segundo Maciel, o bom desempenho de agora mostra que a estimativa da autoridade monetária para o investimento em 2012, de 50 bilhões de dólares, tornou-se conservadora diante do resultado trimestral do IED. Fazendo uma conta “grotesca”, nas palavras do chefe do Departamento Econômico, o IED chegaria a 60 bilhões de dólares no ano. (reportagem adicional de Luciana Otoni e Alonso Soto)