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Crianças vendidas por adultos na internet: a erotização precoce

IA/Canva

O vídeo de denúncia intitulado “Adultização” continua a reverberar nas notícias. Publicado pelo influenciador Felipe Bressanim (conhecido como “Felca”) no dia 06/08/2025, expõe sobre como menores de idade são expostos nas redes e têm seus conteúdos vendidos por seus responsáveis.

O vídeo, já com mais de 47 milhões de visualizações só na plataforma Youtube, acelerou a discussão de projetos de lei sobre a proteção de crianças e adolescentes nas redes. Ademais, surgem discussões sobre problemas atuais, como: erotização precoce, abuso sexual de menores de idade e saúde mental.

A erotização precoce é o processo no qual a criança ou adolescente são estimulados a comportamentos sexuais e eróticos de forma inadequada a faixa etária. Contrasta-se a idade com o que é esperado de forma sexual e sem o consentimento deles.

Colocam-se os menores de idade em posições vulneráveis, a partir das quais eles se tornam vítimas de diversas formas de abuso. Os transformam em objetos para serem devorados pelo olhar e toque. Seja por músicas, fotos, vídeos ou pelo abuso físico e emocional.

Está ilustrada no caso Hytalo Santos, no caso Caroliny Dreher, no caso Flor de Lis com seus filhos adotivos, em conteúdos sugestivos de menores de idade presentes nas redes e sobretudo, em conteúdos pornográficos e ilegais desses menores. Tudo isso que está sendo consumido por adultos que se atraem por essas crianças e adolescentes em posições erotizadas e vulneráveis.

Pensando nesses retratos reais e nos dados científicos das questões de desenvolvimento psicológico de gênero e sexualidade, entende-se que a erotização precoce e o abuso têm um impacto direto na saúde mental a curto e longo prazo dos menores de idade.

A formação da identidade de alguém, por exemplo, depende tanto do meio em que se vive, quanto de questões internas. Portanto, caso se esteja em um lugar no qual se é erotizado ao crescer e o abuso é rotineiro, o desenvolvimento psíquico interno é diretamente influenciado.

Pois, se torna comum associar esta violência do abuso às relações funcionais do dia a dia. Aqui, “quem protege” e “quem abusa” se misturam em uma só figura, uma única pessoa. E isso gera uma confusão mental em que está criando a própria identidade.

Tudo isso significa que esse menor de idade irá crescer com uma inversão de valores em suas relações, afetos, ansiedades, medos, angústias e sexualidade. Há uma dificuldade de nomear os traumas e violências sofridos. Se cria a ideia de que o sexo é a moeda de troca necessária para o afeto e segurança.

E, nomear esse agressor, mesmo para poder se libertar da violência, pode significar reconhecer a perda do pouco de “normalidade” que a pessoa tem na instabilidade com que cresceu. Mesmo porque ninguém mais está dizendo algo sobre isso, todos estão em um pacto de silêncio e conformidade.

Como resultado de todo esse processo, tem-se: confusão mental, estado constante de medo, insegurança, normalização da violência, problemas de autoestima, traumas físicos, emocionais e sexuais, abusos constantes, abusos de substâncias, transtornos de imagem, identidade, alimentação, autoagressões, transtornos psíquicos, de conduta e ideações suicidas.

Nesse contexto, é muito relevante a atuação da psicoterapia com um psicólogo. Pois é possível trabalhar as questões da erotização sobre a saúde mental, tais quais: elaborar os traumas, inclusive os da parte sexual, melhorar as relações, identificar as violências sofridas, ter relações mais saudáveis, lidar com transtornos psíquicos e abusos de substâncias e trabalhar para que a pessoa não chegue ao ponto de tirar a própria vida.

 

Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)

Psicanalista especializado em gênero e sexualidade

Redes: @psicologo_matheuswada

WhatsApp: (16) 99629 – 6663

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