Pugilista sonha com medalha e casa para mãe
Após trabalhar como lavador de carros para custear os treinos de boxe e chegar ao título mundial, Everton Lopes tem agora dois objetivos: conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres e comprar uma casa para a mãe.
O pugilista baiano, de 23 anos, admite que sua vida melhorou desde que começou no esporte, há oito anos, mas ele acreditava que ao se tornar campeão mundial na categoria meio-médio-ligeiro, no ano passado, conseguiria dinheiro para comprar uma casa para a mãe, que mora em Salvador.
“Eu tirei minha mãe de onde ela morava e hoje em dia a gente mora de aluguel, mas a minha expectativa, o meu sonho, é a casa da minha mãe, como é meu sonho olímpico, o sonho da medalha”, afirmou Lopes em entrevista à Reuters.
O título mundial em 2011 não foi uma surpresa, já que ele é considerado por técnicos e dirigentes um dos melhores atletas do boxe olímpico de todos os tempos.
Mas, segundo Lopes, nada mudou desde o título no Azerbaijão, uma conquista inédita para o boxe brasileiro. O atleta não tem patrocinador e vive com recursos da Lei Agnelo/Piva, que destina parte da arrecadação das loterias para o esporte olímpico.
“Não tive uma ajuda. Tudo o que eu tenho hoje eu já tinha antes”, disse ele, que acredita finalmente num apoio caso conquiste uma medalha olímpica.
“Não é porque no Mundial não veio que na Olimpíada não vai vir. Eu tenho fé, e minha fé está me levando para que eu consiga as coisas que eu quero, que é a casa da minha mãe e a medalha olímpica. Tem que levantar a cabeça e trabalhar para que o sonho se realize.”
Lopes moraem São Paulohá sete anos e treina cerca de quatro horas por dia. Ele voltou recentemente da Bulgária e da Alemanha e viaja para Porto Rico em busca de um condicionamento físico e técnico melhor.
O esforço contínuo e as diversas viagens que tem feito sustentam sua esperança de que tem chances reais de levar a medalha de ouro em Londres, que seria a primeira do Brasil na modalidade.
“Estou trabalhando para conseguir o ouro, me empenhando ao máximo, viajando, pegando mais ritmo de luta, para que eu possa chegar bem e quebrar o tabu de 44 anos sem medalha”, declarou o medalhista de prata no Pan do Rio de Janeiro, em 2007, e bronze no Pan de Guadalajara, em 2011.
A única medalha olímpica do Brasil no boxe aconteceu nos Jogos de 1968, na Cidade do México, com o bronze de Servílio de Oliveira.
Em Pequim-2008, o país chegou às quartas de final com dois atletas, mas o jejum permaneceu. Lopes esteve na competição, mas perdeu na primeira rodada. Desta vez, ele espera “brilhar nas Olimpíadas”.
“Lopes tem um estilo dinâmico de lutar, se movimenta muito bem e é criativo. Por ser canhoto, tem um diferencial ainda maior”, comentou Carlos Alberto Carneiro, diretor-técnico da Federação de Boxe Olímpico e Profissional da Bahia.
“MUITO BRIGÃO”
Para chegar ao título mundial e participar de Olimpíadas, o pugilista revelou ter passado por muitas “dificuldades”.
“Eu lavei carro para conseguir ir para a academia. Na época eu não tinha condições de ir, às vezes eu ia correndo. Outras eu lavava carro para poder pegar o transporte. Aí dava para eu tomar um suco de laranja e voltar”, contou.
Lopes começou a trabalhar com 13 anos e também foi carregador de materiais e empacotador de supermercado.
Quando foi morarem São Paulopara treinar boxe, o dinheiro era contado. Ele disse que o pai –que tem outra família e não mora com ele– dava 200 reais por mês. Metade ficava com ele e metade com a mãe.
“Hoje em dia eu dou valor a tudo que tenho, por tudo o que eu passei, e eu não quero passar de novo”, declarou. “Tudo que vem fácil, vai fácil. Essas dificuldades fazem com que eu dê valor no que eu vou ter.”
O atleta, que estudou até a 8a série e iniciou os treinos no boxe porque “era muito bravo na escola, muito brigão”, disse que se não fosse o esporte não saberia onde estaria hoje.
“Eu tenho um dom, que muitas pessoas querem ter. Muita gente fala que eu sou uma lenda no boxe, uma pessoa fora do comum, eu não me sinto assim, mas eu tenho um dom, um boxe bonito que alegra muita gente. Isso faz com que a gente se empenhe mais para virem coisas novas”, afirmou.