Cotas na USP. Debate aberto
A implantação do sistema de cotas na USP ainda trará muito debate. Na linguagem das redes sociais, a treta está só começando.
A Folha de São Paulo de sábado traz um bom exemplo. Em seu artigo, o Reitor da USP, Marco Zago, destaca o caráter histórico da decisão de acelerar a inclusão e a diversidade social e étnica, convencido de que o desempenho dos novos alunos não implicará queda de qualidade.
Mas alerta para o desafio de fortalecer os mecanismos de apoio à permanência estudantil, como moradia, alimentação, saúde. A maior dificuldade de estudantes pobres está em se sustentar economicamente durante os anos do curso, especialmente nos de tempo integral, sem poder trabalhar para ajudar as famílias ou custear os estudos.
Um professor da FEA USP, Sergio Almeida, se encarrega de dar voz aos céticos e aos opositores dessa política. Da dúvida sobre a responsabilidade da universidade na luta por justiça social à ameaça de queda da qualidade do ensino e da pesquisa, boa parte de seus argumentos são bem conhecidos.
A eles agrega o risco de um efeito bumerang: famílias de classe média poderiam fraudar as cotas levando seus filhos à escola pública e ocupando as vagas destinadas aos mais pobres. Parece um argumento contraditório na medida em que maior presença da classe média na escola pública certamente teria um efeito positivo na melhoria do ensino.
Ainda haverá muita polêmica e dificuldades concretas. Mas talvez falte nesse debate um argumento importante: a convivência com a diversidade social e étnica fará muito bem aos não cotistas, majoritariamente brancos e de renda média ou alta.
Uma nova composição, mais plural, das salas de aula permitirá aos alunos (e professores) estar mais perto do Brasil real e começar a derrubar os muros do condomínio fechado em que a universidade pública se transformou.
Professor Titular do IAU USP São Carlos
