Vitórias dos “dois Marios” levam alegria à Itália
A Itália vibrou nesta sexta-feira, 29, com o sucesso de seus dois “Super Marios”, um no campo de futebol e outro na cúpula europeia, e ambos vistos como uma doce vingança contra a Alemanha, a implacável financiadora da zona do euro.
A vitória da seleção italiana sobre a alemã por 2 x 1 na semifinal da Euro 2012, levada a cabo pelo meia-atacante Mario Balotelli, desencadeou horas de comemoração exultante nas ruas do país na noite de quinta-feira e uma onda de manchetes alegres nos jornais, muitas tripudiando sobre a Alemanha.
O êxito foi amplamente comparado ao do primeiro-ministro Mario Monti em Bruxelas, onde forçou a chanceler alemã Angela Merkel a desistir de suas objeções ao uso de fundos de socorro europeus para conter os custos dos empréstimos em países da zona do euro afetados como Itália e Espanha.
A vitória inesperada sobre os alemães foi vista como muito mais do que o renascimento da seleção italiana após o desastre na Copa do Mundo de 2010, até mesmo despertando esperanças de que o novo status de Balotelli como herói italiano ajude a reduzir o racismo explícito com o qual sofreu a vida toda.
O resultado foi claramente mais gratificante por conta da vítima. “A Alemanha vai para casa e só as nações supostamente fracas da zona do euro continuam no campo”, disse o jornal romano Il Messaggero.
“Eles podem ser os chefões da Europa, mas não no futebol. Nisso nós somos os alemães”, declarou o respeitado Corriere della Sera.
“Seria um erro considerar Itália-Alemanha como se fosse só uma partida de futebol. O futebol também é economia, política”, declarou Aldo Cazzullo, redator de esportes do diário.
Dois jornais próximos do ex-premiê Silvio Berlusconi exibiram manchetes com ataques obscenos a Merkel. O Il Giornale, cujo dono é irmão de Berlusconi, disse que a final contra a Espanha “é a vingança esportiva dos países mediterrâneos, tão humilhados pelos professorezinhos do rigor que querem nos dar lições de moralidade”.
Os sentimentos italianos foram compartilhados pela Grécia, onde Merkel é amplamente odiada por impor a austeridade severa que causou profundo sofrimento econômico. “Eles a levaram à falência”, afirmou o jornal Sports Day. “Somos todos italianos”, publicou o Goal News.
ESPERANÇA CONTRA O RACISMO
Também surgiram esperanças cautelosas de que os feitos de Balotelli terão um impacto poderoso para reduzir o arraigado racismo na Itália, do qual ele foi uma das vítimas mais salientes.
Balotelli trocou a Inter de Milão pelo Manchester City em 2010 em parte motivado, acredita-se, pelo racismo gritante que sofreu, especialmente dos torcedores da Juventus.
O atacante de 21 anos nasceu de pais ganenses na Sicília e foi adotado por italianos, crescendo na cidade de Brescia -um escrave do xenófobo Partido da Liga Norte.
Ele sofreu com o racismo de forma constante durante a juventude e, como outros filhos de imigrantes, teve que esperar fazer 18 anos para passar por um processo burocrático complexo e difícil para obter a cidadania italiana.
Simon Martin, historiador do futebol italiana, disse que Balotelli “fez uma diferença num primeiro momento, mas obviamente é um longo processo. Não creio que fará uma diferença enorme da noite para o dia”.
Segundo ele, a Itália está na mesma situação da Inglaterra nos anos 1970, onde era costumeiro ouvir jogadores sendo chamados de macacos e ver bananas sendo atiradas no campo.
“É preciso haver pioneiros, mas possivelmente ele tem mais influência em potencial que qualquer outro naqueles tempos na Inglaterra, por ser tão danado de bom”, disse ele.