Nove milhões de jovens não têm proteção contra o sarampo
A
cada dez casos confirmados de sarampo no País, três foram em jovens
na faixa de 20 a 29 anos. Nos últimos 90 dias de surto ativo, essa
faixa etária foi a mais acometida pela doença, com 1 729 casos,
concentrando 30,6% das confirmações. Por ser o mais afetado, o
grupo é o foco da segunda etapa da campanha nacional de vacinação
contra o sarampo que começou nesta última
segunda-feira, 18, em todo o País.
Na primeira fase, a campanha
focou a vacinação de crianças de 6 meses a 4 anos, que têm mais
riscos de complicações – seis bebês com menos de 1 ano morreram de
sarampo neste ano. Agora, o foco é o grupo com maior incidência da
doença e mais desprotegido. O Ministério da Saúde estima que 9,4
milhões de pessoas de 20 a 29 anos não estejam imunizadas ou tenham
tomado só uma dose – são necessárias duas.
O infectologista
Celso Granato, professor da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), explica que um dos motivos para a faixa de 20 a 29 anos
estar mais suscetível à doença é que a maioria só se vacinou uma
vez. “O Brasil demorou a introduzir a segunda dose na caderneta
de vacinação. Nos anos 90, ficou claro que era necessário aplicar
a segunda dose. Só que esse protocolo só passou a ser adotado em
2004.”
O Ministério da Saúde estima que o surto de
sarampo levará, pelo menos, entre seis a oito meses para ser
contornado. Nos últimos 90 dias, foram registrados 5.660 casos da
doença, com 6 mortes. Os registros estão espalhados por 18 Estados,
mas a maioria ocorreu em São Paulo.
Desafio
– Entre
junho e agosto, foi realizada na capital paulista uma campanha focada
em jovens de 15 a 29 anos, que foi ampliada para outras cidades da
Grande São Paulo. Solange Saboia, da Coordenadoria de Vigilância em
Saúde, órgão ligado à Secretaria Municipal de Saúde, diz que
convencer esse público a se vacinar é um desafio. “Conseguimos
vacinar 44% dessa população, apesar dos esforços. As fake news
estão atrapalhando e há jovens que desconhecem a doença.”
Para a nova mobilização, a estratégia vai ser imunizar em
universidades, escolas e empresas.
O instalador de
ar-condicionado Davi Richard Souza, de 21 anos, só se vacinou depois
de ter sido alertado pela mãe. “Foi tranquilo, não deu efeito
nenhum. Agora sei que estou protegido”, disse Souza, morador de
Sorocaba, município com 46 casos confirmados. As reações adversas
da imunização são raras e mesmo quem perdeu o cartão e não sabe
se tomou as duas doses pode se vacinar. Diretora do Programa Estadual
de Imunização da Secretaria de Estado da Saúde, Núbia de Araújo
diz que os jovens devem ir aos postos para verificar se é necessário
completar o esquema vacinal. “Esses jovens não viram o sarampo
e não conseguem valorizar a vacina. A eficácia é de 95%, é uma
vacina excelente, mas uma dose não é suficiente (para proteger).”