A “Operação Contenção”, ação policial realizada na terça-feira, 28 de outubro de 2025, no Rio de Janeiro, se tornou a mais letal do país e resultou em 113 prisões. À frente até mesmo do massacre do Carandiru, em que houve 111 mortos, em outubro de 1992.
No total, no Rio de Janeiro, 119 pessoas foram mortas. Destas, 115 eram civis sem relação com o crime e 4 eram policiais que combatiam esse crime. Isso de acordo com o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, em entrevista para a imprensa. Mas ele também admite que o número de mortos a serem encontrados ainda pode aumentar.
Enquanto especialistas, estudiosos, organizações sociais, membros do governo federal e moradores classificaram a operação como uma “chacina”, o governo carioca classificou como uma operação de sucesso. Isso pois foram apreendidas armas e drogas.
As vítimas civis foram socorridas, retiradas e veladas pelas próprias famílias, sem nenhuma assistência. Já na internet, houve aqueles que comemorassem todas estas mortes. Mas, o que leva alguém a estar feliz por um massacre?
Para a Psicologia e Psicanálise há o estudo dos mecanismos psíquicos de “identificação”. É o processo fundamental de constituição de quem se é e como alguém entende a si mesmo, da construção do seu próprio “EU” através da interiorização de características e traços que se vê nos outros (ao longo da vida).
Adjacente a este, para a Psicologia Social, há os chamados “marcadores sociais da diferença”. São categorizações sociais nas quais as pessoas são colocadas. E a partir disso são estigmatizadas e postas em posição de desigualdade, como: raça, gênero, idade, regionalidade, classe social, orientação sexual, status matrimonial, etc.
Quando uma pessoa não se identifica com um outro indivíduo, pois não se vê nele, uma das causas mais comuns é a presença desses marcadores. Como para aqueles que praguejam nas redes sociais sobre as mortes do RJ.
Pois, para quem comemora, as pessoas mortas têm uma outra cor, classe social diferente e são de outra região geográfica e cultural. Quem foi morto está tão marcado pela diferença que deixa de ser um ser humano. Se torna algo a ser exterminado.
Tudo isto resulta em processo de criação de preconceito, na normalização de frases como “bandido bom é bandido morto”. Afinal, nessa lógica perversa, quem é “bandido” não merece nada além de extermínio.
Inclusive, se mata quem socializa com bandido, quem deu à luz, quem combate, quem mora perto, sem nenhuma distinção. A violência a tudo justifica, contanto que seja com quem não se pareça nem um pouco com a própria pessoa. É um odiar à distância e pedir que o outro realize a violência em seu nome.
Tendo tudo isto em mente, a terapia com um psicólogo é um local importante para que se entenda e combata estes e outros preconceitos que acabam por definir a maneira de pensar e agir. Funcionamentos que normalizam a violência como linguagem na sociedade. E mais importante, é um espaço em que se preserva a humanidade em frente a barbárie.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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