Vida Longa para o Rádio
Imagine um tempo em que não havia
televisão, não havia internet, não havia celulares e nem sequer uma simples
calculadora eletrônica. Deu desespero, não deu? Pois é, esse tempo existiu. E é
nesse contexto que surgiu o rádio, o primeiro grande veículo de comunicação de
abrangência nacional. A primeira estação comercial de rádio, do mundo, foi a
Rádio KDKA de Pittsburgh, cidade do estado da Pensilvânia, Estados Unidos da
América. Essa emissora iniciou suas transmissões em 2 de novembro de 1920.
Portanto, em novembro deste ano, o rádio, como veículo de comunicação completará
100 anos de existência.
A primeira emissora de rádio brasileira
foi a Radio Sociedade do Rio de Janeiro – atual Rádio MEC –, inaugurada em 20
de abril de 1923 por Edgard-Roquette-Pinto. Mas foi somente nas décadas de 30 e
40 que o rádio se consolidou e se consagrou; época essa que entrou para a
história da radiofonia brasileira, como a “Era de Ouro” do rádio. Mas antes de
surgir o rádio, o que faziam as pessoas após o jantar, depois de um dia
exaustivo de trabalho? Quais eram os seus passatempos e distrações?
O fenômeno que hoje conhecemos como “comunicação de massa”, só passou a existir
com o advento do rádio. Até então, o que se tinha de informação para saber o
que estava acontecendo no Brasil e no mundo, eram apenas os jornais impressos,
e que caso não fossem os grandes jornais das capitais, não raro traziam
notícias com dias de atraso. Além disso, naquela época, comprar jornal para
ficar informado, era um luxo que a grande massa de trabalhadores não se
permitia. No entretenimento, poucas cidades dispunham de espaços culturais como
um teatro ou um cinema; e ainda que os tivessem, certamente seriam inacessíveis
à grande maioria de pessoas, assalariadas e pobres.
Foi nesse cenário de pouquíssimas possibilidades de informação, que o rádio
surgiu, provocando uma revolução social e cultural até então nunca vista. Com o
rádio ninguém mais estava só. O Rádio levou cultura e entretenimento a todos os
brasileiros, em todos os rincões do país, que tinham nele, um companheiro
inseparável.
Na longínqua década de 1930, num país subdesenvolvido e de proporções continentais
como o Brasil, quem mais poderia promover a integração dos grandes centros com
o interior, através do informativo oficial do governo a Voz do Brasil, senão o rádio? Quem poderia deleitar os corações
apaixonados, com as sempre românticas apresentações musicais dos grandes astros
e estrelas da música, como o Programa
César de Alencar, senão o rádio? Quem mais suscitaria o palpitar de
corações apreensivos e chorosos de senhoras e senhoritas, em seus lares, com o
desenrolar dos dramalhões como O Direito de
Nascer, senão o rádio? Quem mais levaria ao povo brasileiro, informações
“fresquinhas” do que estava acontecendo no Brasil e no mundo, através do noticiário
Repórter Esso, senão o rádio?
A importância do rádio, como veículo de comunicação de massa, chamou a atenção
de um grande número de pessoas idealistas, arrojadas e pioneiras, em todos os
quadrantes do país. Pessoas que perceberam que o rádio era peça fundamental
para o desenvolvimento social, cultural e econômico do Brasil. E entre essas
pessoas havia um são-carlense.
A história do rádio em São Carlos começa com uma emissora, cujos fundadores fazem
parte de um seleto grupo de pessoas que fizeram a história da radiofonia
brasileira. Estamos falando de Gisto Rossi e sua esposa Sylvia Yvone Keppe
Rossi, que, com coragem, garra, pioneirismo e inteligência, dedicaram suas
vidas, investindo tempo, energia e dinheiro, para driblar todos os percalços e
fundar a primeira estação de rádio da cidade: a ZYA-6 Rádio São Carlos. Inaugurada
em 10 de setembro de 1941, essa emissora, ainda em atividade, completará em
setembro próximo, 79 anos. Depois vieram as rádios coirmãs, que juntamente com
a Rádio São Carlos, alavancaram o desenvolvimento artístico, comercial e social
da cidade.
E para quem achava o rádio uma coisa ultrapassada, prestes a morrer, enganou-se.
Na era da internet o rádio se atualizou, se reinventou e está mais vivo do que
nunca. E na onda do streaming
chegaram os podcasts – que alguns consideram
um novo estilo de rádio –, para anunciar, que a nova era do rádio chegou. Pode
não ser de ouro, mas tem o seu valor!
Luís Carlos Barbano