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“Não existe aumento de TDAH e nem de autismo”, o que isso significa?

Reprodução

O psiquiatra Luís Augusto Rohde se tornou o primeiro brasileiro a receber o chamado “Nobel da Saúde Mental”, o Prêmio Ruane. O qual é concedido pela BBRF (Fundação de Pesquisas de Comportamentos Cerebrais, tradução livre), dos EUA.

A premiação avalia os maiores pesquisadores da psiquiatria mundial. E Rohde foi reconhecido por suas contribuições científicas sobre o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) em crianças e adolescentes. De acordo com o mesmo, não houve um aumento significativo nos casos de TEA (Transtorno do Espectro do Autismo) ou de TDAH na população nos últimos anos.

Pois, ao realizar a revisão da literatura científica dos últimos 30 anos, ele afirma que o TDAH afeta cerca de 5% da população de crianças e adolescentes no mundo, “sem diferença entre países ou aumento da prevalência ao longo do tempo”. Sobre o autismo, também diz que não houve um aumento real do número de casos.

Mas, o que explica tal fala?

O TDAH, por exemplo, é inicialmente descrito em 1798 como “dificuldade de inquietação” e depois como “defeitos de controle”. Em 1980 é classificado como um Transtorno pelo DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). E em 2000 há maiores pesquisas sobre o mesmo. Mas ainda era considerado como algo que afetava apenas meninos no período da infância. E historicamente associado com a hiperatividade. Excluindo mulheres e pessoas de outras faixas etárias.

Já o TEA foi descrito na medicina em 1943, como uma “dificuldade afetiva” em meninos. Só em 1994 é incluído no DSM como um transtorno de desenvolvimento. Era caracterizado apenas por dificuldades de socialização e verbais. E também historicamente excluía as mulheres, além de jovens e adultos. Com muitos dos seus critérios diagnósticos sendo passados como “particularidades pessoais”. Em 2013 passa a aumentar os sintomas para diagnóstico e ser chamado de “espectro”, englobando: diversidade de sintomas, transtornos, perfis de funcionamento e níveis de suporte necessários no cuidado.

Já no Brasil, os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2022) publicados oficialmente em 26/5/2025, demonstram que 1,2% da população tem autismo. Porém, que os diagnósticos estão concentrados em pessoas e famílias com maior taxa de escolaridade e nos estados com mais acesso ao sistema de saúde, facilitando o diagnóstico.

Ou seja, o que ocorreu foi uma melhor definição e categorização dos sintomas, junto ao maior acesso à informação pela população e instituições (como escolas) resultando no aumento da busca por serviços de saúde para o diagnóstico. Assim, criou-se a impressão no senso comum que há mais pessoas com TEA e TDAH. O que não é verdade.

Essa falha estrutural e histórica não levou apenas à ideia de um aumento explosivo de casos. Mas também sistematicamente excluiu pessoas em sofrimento por nunca serem reconhecidas. Afinal, o TDAH é reconhecido pelo DSM há 45 anos apenas e o TEA há 31 anos (em 2025).

Todos estes indivíduos foram estigmatizados como: estranhos, preguiçosos, ruins, malcriados, loucos e tantos outros termos pejorativos. E colocados cada vez mais à margem da escola, do trabalho e da sociedade como um todo.

Por isto, o diagnóstico e acompanhamento clínico se fazem ainda mais importantes. Pois, através da terapia com um psicólogo, por exemplo, a pessoa pode ser informada, validada, acolhida e fortalecida para garantir sua inserção social e de direito. Além disso, é neste espaço que a psicoterapia, junto à psicoeducação, pode trazer benefícios para o suporte do tratamento ao transtorno.

 

 

Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)

Psicanalista especializado em gênero e sexualidade

Redes: @psicologo_matheuswada

WhatsApp: (16) 99629 – 6663

 

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