As feridas na perna decorrem em 75% dos casos devido à insuficiência
venosa crônica, 20 % devido à insuficiência arterial, enquanto 5% ocorre devido às
queimaduras, anemia falciforme, entre outros. Ainda, a diabetes e as feridas estão
intimamente ligadas devido à neuropatia diabética (danos nos nervos que reduzem a
sensibilidade) e à má circulação sanguínea, que dificultam a cicatrização e
aumentam o risco de infecções, principalmente nos pés.
Existem diversos fatores que contribuem para que o paciente não realize o
tratamento de maneira adequada, isto é, medo, desconforto, problemas de pele
(como as dermatites), restrições financeiras e recomendações inadequadas
transmitidas pelos profissionais de saúde são as principais razões, além da
dificuldade que os pacientes apresentam para assimilar e aplicar os ensinamentos
curativos e preventivos da equipe de saúde. Estes fatores aumentam o risco de não
cicatrizar a ferida ou favorecem o retorno da ferida.
Em relação aos tratamentos, a dificuldade em usar medicamentos tópicos,
ocorre devido à péssima aparência adquirida pela ferida, que se torna úmida e
dificulta o vestuário, causando certo constrangimento ao paciente em aparecer nos
locais públicos, principalmente quando ocorre a demora no processo de cicatrização,
ou seja, as lesões estão abertas. Nestas feridas haverá entrada de microorganismos
e outros corpos estranhos, muitas vezes de linhagens mais resistentes,
responsáveis pela contínua infecção e dificuldade de cicatrização.
Para acelerar o processo de cicatrização de feridas pesquisadores vêm
utilizando uma terapia inovadora para tratamento de ferida, que consiste na
combinação de vacuoterapia com laser.
A vacuoterapia utiliza a ventosa e mecanismo a vácuo para sucção,
promovendo a mobilização da pele e dos tecidos adjacentes, como as estruturas
vasculares e linfáticas, o que resulta no aumento do fluxo sanguíneo e no aumento
do aporte de oxigênio celular para que ocorra a cicatrização. Também, filtra os
fluidos e resíduos celulares, diminuindo a inflamação, além de promover drenagem
linfática, com eliminação das toxinas. Esta alteração metabólica, faz com que ação
da luz seja mais eficiente para acelerar o processo de cicatrização.
O tratamento através da luz é chamado de fotobiomodulação e têm vários
efeitos terapêuticos, como a regulação da inflamação, o aumento da vascularização
e da síntese de colágeno que acelera o processo de cicatrização, além de promover
a ação analgésica. Quando a fotobiomodulação é aplicada com substâncias
fotossensíveis (por exemplo: o azul de metileno) adquire o nome de Terapia
Fotodinâmica (TFD), que é amplamente utilizada no tratamento do câncer de pele e
para inativação de microorganismos (vírus, fungos, bactérias). Neste contexto, a
TFD é fundamental para descontaminação de feridas, auxiliando no processo de
cicatrização.
A Profa. Fernanda Rossi Paolillo da Universidade do Estado de Minas Gerais
(UEMG), coordena vários projetos financiados pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG – APQ-04648-24; PIB-00018-24;
APQ- 01982-23; APQ-03204-22) e, atualmente, promove atendimentos clínicos com
este tratamento inovador para cicatrização de feridas, beneficiando a população de
Minas Gerais.
Segundo a aluna do curso de Enfermagem da UEMG, Emily Vasconcelos
Gonçalves, “o paciente do sexo masculino com 51 anos de idade, insuficiência
venosa periférica, linfedema, hipertensão arterial e obesidade apresentava uma
ferida que não cicatrizava a 3 meses, realizou 1 sessão de vacuoterapia com laser e
na semana seguinte (após 7 dias), surpreendeu a equipe, sua ferida estava
cicatrizada e a perna não estava inchada”.
Segundo a Profa. Amanda Conrado Silva Barbosa, docente do curso de
Enfermagem da UEMG, “a técnica é promissora e, em 2025, será criado um
ambulatório de diabetes na UEMG de Passos/MG, onde a população será
beneficiada com este tratamento”.
O projeto também conta com o apoio do Prof. Vanderlei Salvador Bagnato do
Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC/USP) e da
Enfermeira Elissandra Moreira Zanchin, Pós-Graduanda em Estomaterapia,
Proprietária da Clínica Cicatrizze e Consultora da MM Optics.
Segundo Elissandra Zanchin, “o paciente do sexo masculino com 64 anos,
diabético e hipertenso e com indicação de amputação do pé devido à infecção em
mal perfurante plantar, existente há 4 anos e meio, também surpreendeu a todos,
pois houve a cicatrização após 2 sessões de terapia fotodinâmica com azul de
metileno durante a aplicação da vacuterapia com laser”.
Profa. Fernanda Paolillo da UEMG ressalta que para beneficiar a saúde da população,
trouxe para Minas Gerais estes modernos tratamentos desenvolvidos no Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF) do IFSC-USP na época do seu Pós-Doutorado financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), sob supervisão do Prof. Vanderlei Salvador Bagnato.
Fontes: Profa. Fernanda Rossi Paolillo; Profa. Amanda Conrado Silva Barbosa e; a discente Emily Vasconcelos Gonçalves da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Unidade de Passos; Elissandra Moreira Zanchin da Clínica Cicatrizze e Consultora da MMO; Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato – Coordenador do CEPOF – INCT – IFSC – USP, e Ms. Kleber Jorge Savio Chicrala – Jornalismo Científico e Difusão Científica – CEPOF – INCT – IFSC – USP
