Desafios para a gestão habitacional e urbana
É preciso ter em mente que construir casas não é a única maneira de solucionar o déficit, é necessário pensar em outras modalidades
Nos últimos dez anos, São Carlos teve um crescimento populacional de 30 mil habitantes, superando a marca de 250 mil moradores. A região sul, conhecida como a grande Cidade Aracy, foi possivelmente a região que mais cresceu. Impulsionada pelo Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), ela teve um acréscimo de quase 5 mil unidades habitacionais, contando com os bairros que ainda estão em obras. Na cidade toda, o PMCMV financiou mais de 10 mil habitações, desde casas populares a casas voltadas para a classe média.
Entretanto, produzir unidades habitacionais não significa qualidade urbana. Os bairros populares fomentados pelo PMCMV carecem de infraestrutura como escolas, postos de saúde, áreas de lazer e linhas de ônibus adequadas. Para citar um exemplo: contando com mil unidades residenciais, o bairro Jardim Zaváglia foi inaugurado em 2011 e apenas em 2016 ganhou a primeira escola pública, e somente em 2020 entrou em funcionamento no bairro a Unidade Saúde da Família. Soma-se a isso a precariedade dos espaços públicos de lazer e a oferta de bens e serviços no bairro. É preciso pensar agora em ações que levem a estes bairros equipamentos públicos e privados de qualidade e acessíveis. Ainda, melhorar a quantidade e a qualidade das linhas de transporte público facilitando o deslocamento para outras regiões da cidade, uma vez que o bairro se encontra segregado socio espacialmente da dita cidade consolidada.
Enfrentar o déficit habitacional local vai se tornar um desafio ainda maior, visto que o principal programa de financiamento popular, o PMCMV, se encontra congelado para a faixa de habitação social. Porém, é preciso ter em mente que construir casas não é a única maneira de solucionar o déficit, é necessário pensar em outras modalidades como aluguel social ou subsídio para reforma de habitações precárias. Neste contexto, o desafio para a próxima gestão em relação à habitação e urbanização é promover uma cidade mais compacta, ocupando os vazios urbanos e cobrando uma função social dos inúmeros imóveis vazios que servem à especulação imobiliária. O aumento descomedido do tecido urbano tem como resultado bairros sem infraestrutura urbana e mal atendidos pela malha do transporte público, fomentando a segregação socioespacial e a vulnerabilidade social. A “cidade da tecnologia” não pode fechar os olhos para sua população pobre.
Thalles Vichiato Breda é Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos ([email protected]).