Julieta – Mais uma mulher de Almodóvar
“As mulheres fortes que lutam para sobreviver que são ao mesmo tempo trágicas e engraçadas, essas mulheres que estão em todos meus filmes"
Pedro Almodóvar
Por essa frase do próprio autor, podemos afirmar que Julieta é uma dessas mulheres da infância de Pedro Almodóvar, porém é a parte trágica delas, já que a heroína do novo filme do diretor espanhol não tem nada de cômica. Por ter crescido rodeado por tantas mulheres, Pedro desenvolveu uma compreensão inigualável da alma feminina e seus filmes costumam mostrar mulheres fortes, cheias de vida, mas também vulneráveis, humanas, que cometem erros e tocam a vida com força e segurança.
As mulheres de Almodóvar são personagens que transbordam, seja emoção, dor ou vontade de viver. Personagens redondos que ele faz questão de retratar como as da vida real. Isso se deve, talvez, ao fato dele ter sido criado muito próximo de mulheres especiais, como sua mãe e duas irmãs, cheias de histórias para contar. E muitas dessas histórias já vimos retratadas na filmografia do espanhol.
Julieta não é a melhor delas, mas o filme vale a pena. Pois ele repete esta mistura de mistério e uma maestria em descrever mulheres, aliás, lindas mulheres. Destaque para a Julieta na fase inicial, a atriz Adriana Ugarte, que tem uma beleza que prende o olhar à tela.
Os diálogos nesta trama demonstram um domínio de um autor que tem o que dizer e sabe como fazê-lo. A narrativa nos leva por caminhos surpreendentes, nos faz acreditar que vamos enredar por um caminho e de repente tudo muda, como na cena do estranho no trem. E é no trem também que acontece a cena mais quente do filme, sexo com as surpreendentes cores de Almodóvar.
Julieta tem como enredo o drama de vida da personagem-título, apresentada em dois momentos capitais em sua vida: na juventude e na meia idade. Um segredo, que vamos tentando decifrar em cada cena, conduz a narrativa, que transborda de personagens fortes, até mais que a protagonista, e muito bem construídas. Madri, cenário principal do filme, pelo menos na fase da meia-idade de Julieta, é recriada de forma linda, requintada e elegante.
Temas presentes na história ajudam na teia do enredo, como a traição do pai de Julieta, que troca a mãe que enlouqueceu por uma mulher jovem e fértil – uma traição abrandada devido à tragédia, deixando a entender que era melhor a dor da traição à culpa. Deuses e lendas são citados sempre no drama, pois Julieta é professora de literatura clássica e ter uma amiga que cria esculturas de significados folclóricos. Além disso, a agua é um tema recorrente e significativo, seja pelo mar ou por um corpo que se deixa abandonar em uma banheira.
A música principal do filme, um tipo de bolero composta por Alberto Iglesias, confere mais cor a trama e a fecha com delicadeza, drama e magia o novo filme do gênio Almodóvar.