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Diretoria do Ciesp São Carlos traça perspectivas para Indústria

Diretor regional vê a vacina contra Covid-19 como vetor que irá definir sucesso ou fracasso da produção industrial no país

29/01/2021 08h35 - Atualizado há 4 anos Publicado por: Redação
Diretoria do Ciesp São Carlos traça perspectivas para Indústria Fotos: Divulgação

O diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Emerson Chu, fala sobre os desafios da indústria em 2021 com a pandemia do Covid-19 em curso e o que mais afetou o segmento no ano passado.

“O pessimismo ou o otimismo [do setor industrial] dependem de alguns vetores. A vacina é o grande vetor que, caso ocorra rapidamente, vai gerar uma rápida retomada da economia, o que traria otimismo para todos os setores“.

Entre os reflexos do período de resseção destaca-se a falta de insumos, como polietileno, afetou a indústria e reduziu a linha de produção. Chu afirmou que o parque industrial da região sofreu os mesmos efeitos da indústria nacional com ação direta na exportação.

O Ciesp reúne empresas industriais e parceiros ligados ao setor produtivo, dá suporte aos empresários e os representa junto à sociedade e aos governos municipal, estadual e federal. A Regional de São Carlos compreende também Ibaté, Ribeirão Bonito, Dourado, Trabiju, Boa Esperança do Sul, Descalvado, Analândia, Porto Ferreira, Pirassununga e Santa Cruz da Conceição.

Confira a entrevista na íntegra:

PRIMEIRA PÁGINA – Perto de um ano do início das restrições impostas pela pandemia, qual foi o maior desafio da Indústria regional?

EMERSON CHU – Na verdade, foi o mesmo desafio enfrentado por todas as indústrias do país, até porque, as indústrias da nossa região atendem a todo o Brasil e várias delas exportam. Mesmo com o início das restrições e com o lockdown no comércio e serviço, a indústria não parou. Continuamos trabalhando até para gerar os produtos necessários para abastecimento e consumo da população. Inicialmente, não sentimos tanto, mas com o passar do tempo, o lockdown fez com que houvesse uma queda brusca nas demandas das indústrias e se não há demanda, cai o faturamento e, consequentemente, aumentam os desafios de manter os empregos e conseguir pagar os impostos. Lidar com o vírus dentro das indústrias também foi um desafio, superado, porém, com a criação dos protocolos de segurança.

PP – O desabastecimento de insumos chegou a afetar a região? Qual foi o setor mais afetado? Já houve recuperação?

CHU – A retomada do comércio e dos serviços, após a liberação do Plano SP, gerou uma demanda maior para a indústria que, até então, estava com demanda reduzida e consequente redução de matéria-prima em seus estoques, até por falta de perspectiva em relação ao futuro. Com os subsídios do governo e o reaquecimento da economia, as indústrias voltaram a produzir rapidamente, mas os estoques estavam muito baixos. Então, os insumos de base, como aço, polímero e papel, foram os que mais fizeram falta. Só para se ter uma ideia, em 98% de todos os produtos, o polímero é utilizado, se não diretamente no produto, na embalagem. Então, todos os setores foram afetados, em algum momento, pela falta de insumos para produção. Como as indústrias na nossa região são, em sua maioria, do setor Metal Mecânico, o aço fez muita falta e foi o que mais gerou aperto para manter o abastecimento.

PP – A Indústria conseguiu manter a mão de obra qualificada com os programas de manutenção de emprego do governo federal?

CHU – Sim, isso funcionou até certo ponto. Ninguém quer mandar um funcionário embora, essa mão de obra qualificada é um capital humano muito valoroso para as empresas. Contratar ou recontratar demandaria mais gastos e muito tempo, e a indústria não tem mais tempo a perder. Então, de uma maneira ou de outra, os programas auxiliaram sim, muitos empregos foram mantidos em decorrência dessas iniciativas.

PP– A indústria ainda sofre com a falta de qualificação da mão de obra especializada?

CHU – Essa é uma necessidade eterna da indústria, porque com as novas tecnologias, os produtos vão se alterando e, consequentemente, os processos vão melhorando e sempre vão demandar mão de obra mais qualificada. Isso independe da situação atual, é uma necessidade constante no setor industrial.

PP – As perspectivas para 2021/2022 estão no grau do pessimismo ou do otimismo?

CHU – O pessimismo ou o otimismo dependem de alguns vetores. A vacina é o grande vetor que, caso ocorra rapidamente, vai gerar uma rápida retomada da economia, o que traria otimismo para todos os setores.

Outra questão importante é a da taxa de câmbio, que se mantém desvalorizada, o que reflete até nos preços de algumas matérias-primas. Mas a tendência para este ano é que o câmbio chegue a R$ 4,80. Com a valorização da nossa moeda, aquelas matérias-primas que estavam em falta porque serem exportadas, acabam tendo um recuo em seus preços.

A movimentação na construção civil também é muito importante para indicar se o caminho é positivo ou negativo. Uma vez que se consiga manter os juros baixos, a construção civil movimenta a economia e gera mão de obra, o que é bem positivo. Essa questão, somada ao surgimento da vacina e à melhora do câmbio, diminui o risco e os setores começam a ter uma reativação.

Agora, por outro lado, se não tivermos vacina distribuída rapidamente no Brasil e se não houver uma rápida recuperação da economia mundial, teremos um 2021 complicado. A segunda onda da Covid-19 está se acentuando, o que aumenta o risco-país, sendo um vetor negativo para as perspectivas em relação a este ano, porque se essa curva aumentar em definitivo, começaremos a ter nova deterioração do trabalho, entraremos em lockdown mais uma vez e, então, teremos que percorrer todo aquele ciclo, agora já conhecido, o que tornaria 2021 bastante tenso.

Esse cenário ainda pode mudar se a população colaborar, seguindo os protocolos de segurança à saúde e cumprindo o isolamento social. Sabemos que todos estão cansados, mas é preciso ter mais um pouco de paciência e de colaboração porque os casos de Covid-19 estão aumentando a cada dia. Então, é fundamental que cada um faça a sua parte.

PP – A vacinação coletiva é a palavra-chave para a retomada do segmento?

CHU – Não só para a retomada da indústria, mas de todos os setores. Sem dúvida, isso traria uma segurança muito grande para a retomada do giro econômico, inclusive com geração de emprego. É importantíssimo que a vacinação ocorra o mais rápido possível e por todos os caminhos possíveis, sem questões ideológicas ou, muitas vezes, políticas. A vacina tem que vir de maneira natural e ágil.

PP – O setor necessita da mão do Estado para políticas de isenção de impostos que possam proteger o produto nacional?

CHU – Essa também não é uma questão apenas do momento em que vivemos, é uma necessidade de melhoria da competitividade. Recentemente, vimos indústrias centenárias encerrando suas atividades no país, vimos que nos últimos 6 anos perdemos, em média, 17 fábricas por dia, ou seja, estamos em decadência com relação à produção no país. É preciso haver mudanças urgentes para que isso pare de acontecer.

Precisamos de políticas públicas de incentivo para que as indústrias voltem a produzir.  Há 25 anos, a indústria tinha 2 dígitos de participação no PIB, mas se as circunstâncias não melhorarem, corremos o risco de cair para 1 dígito, o que é lamentável, até porque, grande parte dos impostos é paga pela indústria e essa conta não fecha. Então, para que haja desenvolvimento econômico, é preciso que sejam instituídas políticas que reduzam impostos e aumentem a competividade, ou seja, é uma missão para o Poder Público. Essas são ações fundamentais para que possamos sair dessa roda negativa de queda da participação da indústria no PIB.

PP – Qual será o maior desafio do ano?

CHU – Resistir à crise e se manter vivo. A indústria, hoje com baixa demanda e sem perspectiva de melhorias num futuro próximo, ainda não consegue ver grandes alternativas à frente. Então, é um desafio enorme conseguir demanda, ter insumos para produção e, principalmente, manter os empregos. Isso porque conforme há queda de demanda, as empresas vão fechando, já que se passou muito tempo e elas estão sem fôlego financeiro. O desafio também é convencer o governo de que é preciso criar um ambiente favorável para a economia nacional; é um desafio do governo até. É preciso ter decisões mais rápidas a fim de melhorar o ambiente de negócio para que esse gráfico comece a se inverter para uma retomada, ainda que pequena, mas crescente.

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