A Prefeitura de São Carlos avançou mais uma etapa no processo de revisão do Plano Diretor ao promover, na noite desta quarta-feira, 10, uma audiência pública dedicada exclusivamente ao debate sobre meio ambiente e mudanças climáticas. O encontro, realizado na sede da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de São Carlos (Aeasc), consolidou o tema climático como eixo central para o planejamento urbano da cidade nos próximos anos.
A especialista convidada, Paula Martins Escudeiro, com formação em Geografia, Administração e Marketing e pós-graduação em Geologia, Educação Ambiental, Gestão Ambiental, Recursos Hídricos, Mudanças Climáticas e Transição Energética, apresentou experiências de cidades brasileiras que já estruturam políticas robustas de adaptação climática, como Santos e Campinas. Ela destacou que São Paulo possui a Política Estadual de Mudança Climática, criada em 2008 e regulamentada em 2024, com participação ativa da sociedade civil e do poder público. Segundo Paula, a adaptação climática depende tanto de políticas públicas quanto de ação coletiva. “Muitas vezes, por desconhecimento, as pessoas fazem pequenas ações que geram grandes impactos ambientais. Se milhões de pessoas repetem o mesmo comportamento, o efeito se multiplica. Por isso, além das políticas públicas, precisamos de novos processos de conscientização”.
A palestrante explicou como os planos de ação climática mapeiam riscos, espacializam vulnerabilidades e orientam medidas de adaptação. Ela ressaltou o papel das tecnologias de geoprocessamento, que permitem identificar pontos críticos e prever impactos. Ao citar o caso de Santos, Paula detalhou os eixos temáticos do plano climático da cidade, que incluem arquitetura urbana sustentável, redução da vulnerabilidade social, soluções baseadas na natureza e gestão de saneamento. “As populações mais vulneráveis geralmente vivem nas áreas de maior risco, sujeitas a alagamentos e inundações, e isso precisa ser enfrentado com políticas específicas”, afirmou.
Paula também apresentou plataformas como o Adapta Brasil e o Índice de Vulnerabilidade Climática, que avaliam riscos e capacidade de adaptação dos municípios. Ela explicou que esses indicadores analisam emissões de gases de efeito estufa, segurança hídrica, saúde, queimadas, inundações, enxurradas e deslizamentos. “A água é fundamental para a sobrevivência. Quando falta água em uma cidade, tudo para. O mesmo vale para a energia elétrica, especialmente no Brasil, onde grande parte da matriz energética depende das hidrelétricas”, destacou. A especialista ainda relatou experiências pessoais com alagamentos e reforçou a importância de integrar dados ambientais, sociais e econômicos para orientar políticas públicas.
O assessor do prefeito Netto Donato, João Muller, avaliou a audiência como extremamente positiva. “Tivemos uma palestra muito importante da Paula Escudeiro, que trouxe exemplos de Santos e Campinas que podem inspirar São Carlos”, afirmou. Ele destacou que a cidade já sente de forma intensa os efeitos das mudanças climáticas. “Nossa topografia, a ocupação próxima aos córregos e a grande presença de água na área urbana aumentam o risco de transbordamentos. Além disso, enfrentamos períodos de seca prolongada, incêndios e doenças relacionadas ao clima”.
A audiência também contou com apresentações técnicas do engenheiro Eduardo Casado, do SAAE, que abordou água, esgoto, drenagem urbana e resíduos sólidos, e do secretário municipal de Meio Ambiente, Júnior Zanquim, que discutiu soluções baseadas na natureza e estratégias de adaptação. Após as exposições, moradores se inscreveram para apresentar sugestões e preocupações, reforçando o caráter participativo do processo.
Próxima audiência
O ciclo de audiências segue agora para os distritos. A próxima reunião será em Santa Eudóxia, no dia 17 de dezembro, às 18h, no salão da Igreja São Sebastião. O encontro discutirá a ampliação do perímetro urbano e a possibilidade de criação de uma zona destinada a chácaras de recreio próximas ao rio Quilombo. “Vamos apresentar à população a proposta de expansão urbana e decretar uma área de interesse ambiental próxima ao núcleo urbano, garantindo qualidade de vida. Convidamos todos os moradores de Santa Eudóxia para participar”, concluiu Muller.
