Trabalhadores reivindicam vacinação contra Covid-19 nos cemitérios municipais em São Carlos
Aumento no número de sepultamentos de vítimas de coronavírus na cidade causa preocupação aos funcionários
Os trabalhadores que atuam nos cemitérios municipais de São Carlos (SP) estão apreensivos e preocupados, diante da falta de imunização da categoria, que diariamente enfrentam o aumento dos sepultamentos na cidade, das vítimas fatais do novo coronavírus (Covid-19).
No final da tarde desta quinta-feira (18), a reportagem do Jornal Primeira Página esteve presente no Cemitério Municipal Nossa Senhora do Carmo, e mantendo os protocolos de segurança e o distanciamento adequado, acompanhou como é realizado o sepultamento de uma vítima da doença. Na mesma data, segundo o Boletim Coronavírus nº 313, divulgado através do Comitê Emergencial de Combate ao Coronavírus, mais duas mortes foram registradas no município, cujas vítimas, se tratam de dois homens, sendo um de 45 anos, que estava internado em hospital público desde o último dia 3, e outro paciente de 57 anos, que também estava em hospital público, porém, internado desde o último dia 9. Eles faleceram devido a complicações causadas pelo vírus, totalizando 171 mortes pela Vigilância Epidemiológica até o momento.
Diante das mortes ocasionadas pela Covid-19, vale ressaltar que 90% dos sepultamentos são realizados em cemitérios municipais são-carlenses, no período das 8 às 17 horas todos os dias. Os coveiros, que são os responsáveis por manusear caixões com os corpos das vítimas, temem por mais segurança para o exercício da função, uma vez que somente foram fornecidos para utilização EPIs (Equipamentos Individuais de Segurança), o que não é o suficiente.
“A alta dos enterros está ocorrendo todos os dias, somente nessa semana, foram abertos mais ou menos umas 60 novas covas”, disse um dos funcionários anonimamente, com medo de sofrer represálias.
Indagado pela reportagem sobre o risco que está exposto, um dos trabalhadores afirmou que procurou por ajuda junto a vereadores, mais nada passou de promessas até o presente momento. Um outro funcionário, que preferiu não se identificar, disse que manteve conversas com seus superiores, porém, em busca de solução ao caso apenas persiste o problema que está amedrontando não só a eles, mas também seus familiares, que ficam apreensivos em serem contaminados pelo novo coronavírus.
“Somos ou não grupo de risco? Pois diariamente recebemos familiares e pessoas próximas das vítimas da Covid-19, que se foram por complicações da doença, que vêm até as unidades para marcar pessoalmente o sepultamento, o que é obrigatório, e em tal ocasião não temos como nem medir a temperatura de cada cidadão. Carregamos os caixões com corpo altamente contaminado, entramos na sepultura somente utilizando dos EPIs entregues pela prefeitura, e isso somente protege? “, destacou um dos coveiros.
Sem recursos, os funcionários pediram ajuda à reportagem do Jornal Primeira Página. Eles disseram que não têm mais a quem buscar para a solução do problema. “Vereadores e a administração pública pouco vêm até aqui (cemitério), eles têm o conhecimento que essa área é ponto alto de contaminação e mesmo assim nos obrigam a trabalhar sem vacina, nesta complicação, também sou funcionário público e gostaria de mais respeito”, ressaltou. “Minha esposa, meus filhos, minha mãe idosa com alto risco, vivemos na mesma casa e o meu maior medo é contrair a doença e infectar quem mais amo, a minha família”, finalizou o funcionário.
AGENTES FUNERÁRIOS – Embora os agentes funerários sejam de empresas particulares, quem disponibilizou a imunização para a categoria foi a gestão pública. O que também causa revolta e a cobrança por parte do funcionalismo público por melhores condições de segurança diante do vírus foi o fato de diversas outras pessoas que não atuam no chamado ‘grupo de risco’, nem sequer têm o mesmo contato com vítimas ou ficam expostos de tal maneira ao vírus, já terem sido imunizadas.
SINDSPAM – Na última quarta-feira (17), o presidente do SINDSPAM, Adail Alves de Toledo, encaminhou um ofício ao Secretário Municipal de Saúde, Marcos Antônio Palermo, e também ao Secretário Municipal de Comunicação da Prefeitura de São Carlos (SP), Mateus de Aquino, que é o Coordenador do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 no município, solicitando que os coveiros, um pequeno grupo de profissionais, sejam incluídos na relação para o recebimento da vacinação contra a Covid-19, anexando ao pedido uma listagem de sete folhas, com a relação dos agentes funerários que já foram imunizados na cidade e têm a mesma igualdade de exposição ao coronavírus quanto os funcionários públicos não vacinados.