Construção civil acumula alta de até 90% no preço de insumos
Conselho Consultivo da AEASC pondera que alta nos preços trouxe compasso de espera no lançamento de projetos imobiliários
A alta de custo dos insumos para a construção civil atingiu o maior patamar em 27 anos, desde o início do Plano Real, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O reflexo da elevação se deu com a paralisação do segmento no lançamento de novos projetos no último ano.
O ano de 2021 mostra indícios de uma retomada do mercado, tanto que a contratação de mão de obra para o setor já triplicou nos primeiros dois meses do ano segundo o Caged, do Ministério da Economia.
No entanto, o segmento tem tentado driblar a alta dos insumos básicos da Construção, como indica o levantamento feito pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (SindusCon-SP), o qual aponta que nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro deste ano, os preços dos materiais de construção subiram 26,34% e, de forma desagregada, alguns produtos registraram aumentos superiores a 90%.
Para o engenheiro civil, membro do Conselho Consultivo da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de São Carlos (AEASC), José Eduardo de Assis Pereira, a alta nos preços trouxe um compasso de espera no lançamento de novos projetos imobiliários. Os custos tiveram de ser repensados para que o negócio seja atrativo, mas não traga prejuízo. “O aumento dos produtos traduz em custo maior e lucratividade menor para o empreendedor e ainda gera desemprego para o setor”
A realidade é vivenciada por Rodrigo Furlan, dono de uma loja de material de construção em São Carlos, que observa um descontrole dos preços. “Após o início da pandemia ficou complicado comprar para quem não tem capital de giro e espaço para formar grandes estoques”, afirmou ao ressaltar que este motivo inibe a manutenção de preço.
“Quem monta um projeto de construção civil hoje terá de contar que daqui a uma semana, no máximo em 15 dias, encontra os preços 80% mais caros”.
Segundo o comerciante, o setor vem sofrendo com a demora para a entrega dos materiais, que em alguns casos chega a até a um mês. Este atraso impacta no preço da obra, pois a equipe de construção precisa ser paga independente da metragem edificada.
Para Pereira, o atraso e a falta de material no mercado se deve à redução do quadro de funcionários da indústria, imposta pelas regras de distanciamento social da autoridade sanitária do país.
Segundo ele, o mercado brasileiro é autossuficiente na produção de insumos da Construção Civil. Em determinados segmentos, o País inclusive exporta. Porém, a pandemia trouxe um reajuste na produtividade do setor que gerou em um determinado momento a escassez de produtos.
PREÇOS – A experiência de comerciante de Furlan aponta que o aço e a linha de tubos e conexões são os tipos de produto que mais foram afetados pela alta de preços com índices que chegam a 80% de variação.
No índice do SindusCon-SP, o fio de cobre teve alta de 91%, assim como o aço, que subiu 75%, e o cimento, 50%. “Se pegarmos a lista dos insumos que entram na composição do CUB (Custo Unitário Básico), que são 26, todos sofreram reajuste”.
Corresponde à alta a comparação de Furlan: o milheiro do tijolo baiano que em março do ano passado custava R$ 420,00, atualmente custa R$ 850,00. Este raciocínio se aplica aos principais itens do custo das obras.