Estudo da UFSCar aponta potencial de transmissão da variante Delta
Vacinação tem se mostrado pouco efetiva em impedir transmissão comunitária da nova mutação do coronavírus
A UFSCar (Universidade Federal de São Carlos – SP), por meio do Comitê de Controle do Coronavírus, coordenado pelo médico especialista em epidemiologia, o professor Bernardino Alves Souto, apresentou uma análise sobre os dados de contágio e letalidade do novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19 no mundo.
O estudo indicou que as pesquisas em desenvolvimento no mundo admitem que a variante Delta do SARSCoV, além de mais transmissível que todas as outras mutações, pode também cursar maior letalidade e maior resistência às vacinas.
Bernardino considera que as vacinas existentes no mundo ainda apresentam boa proteção contra as formas graves da doença, mesmo com o contágio da variante Delta. “Ao que tudo indica, a vacinação não consegue vencer ou barrar a alta transmissibilidade da variante Delta, todavia, colabora pela redução da mortalidade”.
No contexto do crescimento do contágio do novo coronavírus no mundo se destaca a variante Delta com característica de prevalência em vários lugares do mundo, indicando ser mais rápida na transmissão que outras variantes já catalogadas pela literatura médica. “No Reino Unido, por exemplo, a prevalência da Delta cresceu de zero a 100% em apenas 3 meses”.
O professor apresentou nesta quinta-feira, 22, um documento analítico que trabalhou com dados estatísticos para traçar as expectativas sobre a Covid-19 no Brasil para o segundo semestre de 2021 com base nas informações disponíveis até 20 de julho.
Os dados analisados foram extraídos do site do Worldometers, plataforma que agrega informações que são atualizadas em tempo real. Nele você encontra dados de diversos segmentos divididos em blocos, como população mundial, governo e economia, sociedade e mídia, saúde e outras frentes. Para a pandemia da Covid-19 o site mostra em tempo real o número de contágio, mortes e presença de variantes relacionadas à doença.
EFICÁCIA – O documento da UFSCar considerou, em seu texto, que a vacinação tem se mostrado pouco efetiva em impedir a transmissão comunitária da variante Delta, porém se mantém eficaz na redução das formas graves da doença. “Esta contingência tem a vantagem de reduzir a mortalidade por Covid-19 e a sobrecarga assistencial de saúde em ambientes com alta cobertura vacinal”.
O estudo ponderou que se a incidência do contágio pela variante Delta for alta, ainda que a letalidade seja menor em ambiente de alta cobertura vacinal, poderá haver crescimento do número de pessoas com sequelas pós-Covid ou com necessidade de afastamento do trabalho, aumento da demanda da vigilância epidemiológica com rastreamento e monitoramento de casos e contatos, e aumento absoluto de novas mortes diárias.
PRÉ-REQUISITOS – Bernardino pontuou que a elevada cobertura vacinal da população é um dos pré-requisitos para evitar o crescimento do número diário de novas mortes e a sobrecarga sobre o sistema de saúde; a vacina não poderá ser a única medida para o controle da pandemia; o vírus que tem taxa de transmissão alta traz acentuado potencial de mutação genética que afeta diretamente no surgimento de novas variantes com potencial de dificultar o controle da pandemia ou agravar seus efeitos da doença tornando-se ineficaz a vacina disponível atualmente no mundo.
“Portanto, especialmente no caso da variante Delta, é indispensável a adoção de medidas eficazes contra sua transmissão com o uso universal e sistemático de máscara, distanciamento físico, não aglomeração e higiene pessoal em especial às mãos, para evitar nova onda epidêmica, bem como é preciso acelerar a cobertura vacinal para evitar aumento do quantitativo diário de mortes e sobrecarga ao sistema de saúde”.
Tendência
“Pandemia no mundo mostra-se heterogênea”, diz estudo da UFSCar
De acordo com o relatório desenvolvido pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), por meio do Comitê de Controle do Coronavírus, coordenado pelo médico especialista em epidemiologia, professor Bernardino Alves Souto, o cenário mundial aponta para o crescimento do número de novos casos diários, embora mostre uma tendência de estabilidade do número de novas mortes, contudo, o quantitativo óbito seja ainda elevado.
O levantamento mostrou ainda que há diversidade da atividade do vírus em outros países. “O formato da curva epidêmica não é o mesmo em cada país ou região. Há variações como nos Estados Unidos em que se registram casos em crescimento e mortes em estabilidade ou na Itália que os casos estão em crescimento e as mortes em queda. Inversamente proporcional está a situação da África do Sul com casos em queda e mortes em crescimento”.
BRASIL – Com base nos dados, o Brasil configura com casos e mortes em declínio ao contrário da Indonésia que apresenta casos e mortes em crescimento. Atualmente, já se somam 14 países no mundo com prevalência da variante Delta maior que 50%.
Segundo Bernardino, vários fatores locais podem influenciar esta heterogeneidade como a cobertura vacinal; transmissibilidade e letalidade das variantes virais circulantes; qualidade e quantidade da cobertura assistencial e da notificação epidemiológica, por exemplo.
O documento apresentou que no caso do Brasil, no primeiro mês de detecção da variante Delta, o crescimento foi de zero a 2,7% com correspondente queda na prevalência da variante Gama (atualmente em 93%). “Considerando que a variante Delta por aqui concorrerá com a Gama, que também é de alta transmissibilidade, talvez o crescimento não seja tão rápido quanto o visto no Reino Unido, embora possa se tornar majoritária ao longo dos próximos meses”, ressaltou Bernardino.
Mesmo com declínio de contágio Brasil corre risco de nova onda epidêmica
Os dados do documento da UFSCar mostram que o momento atual brasileiro é de declínio das curvas epidêmicas de novos casos e novas mortes em um ambiente de cobertura vacinal abaixo de 50%, sob a ameaça posta pela recente introdução da variante Delta em território nacional. “Portanto, diante da experiência internacional com a elevada transmissibilidade da variante Delta e com o efeito da vacinação sobre a epidemia por esta variante, é possível supor que o Brasil esteja sob o risco de interrupção da queda do número diário de novos casos e de mortes por Covid-19 e de sofrer nova onda epidêmica”.
AÇÕES – Para o médico especialista em epidemiologia da UFSCar, o professor Bernardino Alves Souto, para evitar que isto aconteça, o país precisará urgentemente: acelerar a distribuição de vacinas para alcançar a máxima cobertura populacional no menor tempo possível, no sentido de tornar a vacinação mais acelerada do que a transmissibilidade da variante Delta. Esta medida poderá evitar a perda da continuidade do declínio da curva de novas mortes diárias. A adoção de medidas para a prática sistemática do distanciamento físico entre as pessoas. Outra ação é aplicar medidas que garantam o uso correto e sistemático de máscara adequada por todas as pessoas e em todos os ambientes. Estas decisões poderão evitar novo crescimento do número diário de novos casos, reduzir a chance de novas mutações virais e colaborar para a efetividade da vacina em reduzir a ocorrência de casos graves e de mortes.
“Portanto, é indispensável as duas coisas ao mesmo tempo: o uso de máscara para ajudar a conter a transmissão comunitária e reduzir o risco de novas mutações virais; a vacinação para reduzir a ocorrência de casos graves e de mortes”.
A análise feita pelo documento da UFSCar conclui que as quedas nas curvas epidêmicas de casos e de mortes por Covid-19 no Brasil podem ser comprometidas pela presença da variante Delta no país.