Santa Casa nega atendimento à vítima de AVC
Por volta das 2h30 da madrugada do dia 27, a Santa Casa de São Carlos recusou atendimento a Cícero Hora da Silva, de 56 anos, que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O paciente estava internado em Matão desde as 17h do dia 26, mas o agravamento do seu quadro clínico originou a transferência para outra unidade hospitalar. Segundo a Assessoria de Imprensa do Hospital Carlos Fernandes Malzoni, de Matão, a transferência para São Carlos foi feita mediante a Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS) do Estado de São Paulo, órgão da Secretaria de Saúde Estadual que congrega ações voltadas para regulação do acesso à área hospitalar e ambulatorial, providenciando o ajuste da oferta assistencial.
Com a recusa da Santa Casa de São Carlos, o filho do paciente fez um Boletim de Ocorrência. Transferido novamente para Matão, durante o trajeto Silva sofreu duas paradas cardíacas. A Assessoria de Imprensa do hospital de Matão não pôde oferecer detalhes do quadro atual do paciente.
O médico Afonso Thadeu Pannacci, diretor técnico da Santa Casa de São Carlos, explica a recusa: “A Santa Casa está tendo uma série de problemas, e um deles é a neurocirurgia. Nós estamos recebendo pacientes de outras regiões e não temos condições de dar atendimento, nós não temos leitos de UTI, que estão lotados”.
Para exemplificar a situação, Panacci conta que no último final de semana 6 pacientes ficaram em respirador em sala que não era de UTI, e sim na sala de emergência: “Teve um paciente que chegou e ficou na ambulância até que um outro paciente que estava na emergência faleceu e o que estava na ambulância veio ocupar o leito dentro da emergência. Ele foi atendido, levado para o centro cirúrgico, fez a cirurgia e foi atendido. Estamos tendo problema de vaga na UTI, não temos a retaguarda que o paciente de neurocirurgia necessita”, ressalta.
Pannacci afirma que Edilson Abrantes, diretor clínico da Santa Casa, entrou em contato com o CROSS informando que o hospital não tinha condições de dar o atendimento aos pacientes de neurocirurgia: “Isso foi falado, essa vaga é sempre negada quando não temos condições, e o CROSS acaba mandando Vaga Zero, dizendo que temos condições de atender e temos de nos virar”, explica Pannacci.
O Vaga Zero, estipulado pela portaria 2.048 do Ministério da Saúde, afirma que, na urgência, o atendimento deve ser prestado independente da existência ou não de leitos vagos.
Possíveis explicações para falta de leitos de UTI
Segundo Pannacci, a Santa Casa de Araraquara está tendo problemas de equipe de neurocirurgia: “Não sei o motivo. Tivemos uma reunião da Diretoria Regional de Saúde (DRS) de Araraquara e foi falado que estavam tentando negociar com a neurocirurgia esses plantões. E de repente recebemos um recado de que lá não existe mais neurocirurgião e todos os pacientes estão vindo para cá”, explicou o diretor técnico da Santa Casa de São Carlos, completando: “A região de São Carlos tem 350 mil habitantes. A de Araraquara deve ter 450 mil. A nossa DRS deve ter ao todo 800 mil habitantes. Temos 3 neurocirurgiões em São Carlos, e claro que dão todo apoio aos pacientes da cidade. Quando o número de habitantes aumenta para 800 mil, isso causa um transtorno no nosso sistema, podendo levar a problemas para nossos pacientes, que vão chegar aqui e não vão ter vaga”.
Questionado se podemos ter outros problemas, Pannacci afirma: “Sem dúvida, ainda mais num final de semana prolongado, maior número de acidentes, e isso pode acarretar sérios problemas para São Carlos. Estamos entrando em contato com a DRS pra ver o que podemos fazer para não ter mais esse transtorno”.
Outro lado
Em nota, a Assessoria de Imprensa da Santa Casa de Araraquara informa que no começo de dezembro houve o pedido de demissão da equipe de neurocirurgia, o que ocasionou a não possibilidade de atendimento de pacientes nessa especialidade. “É importante ressaltar que a Santa Casa de Araraquara não transfere a livre escolha pacientes a qualquer hospital da região”, afirma a nota, que explica como funciona esse fluxo: “O médico que necessita transferir o paciente entra em contato com o CROSS passando o caso. O CROSS busca a vaga na unidade de saúde que tenha o serviço disponível (as transferências e encaminhamentos são sempre feitos via CROSS), e ele retorna informando para qual unidade hospitalar o paciente deve ser encaminhado”.
Segundo a Santa Casa de Araraquara, o CROSS está ciente da falta de neurocirurgiões no hospital, e cabe a eles encaminharem o paciente ao serviço de saúde que tenha a especialidade.
Existe uma central de vagas do SUS que encaminha os pacientes para as localidades onde tem vagas. Isso deveria servir apenas para cidades grandes, com vários hospitais. Usar este artifício em uma região como a nossa é complicadíssimo. O paciente tem o direito de ser atendido em QUALQUER lugar. A partir do momento em que sua cidade de origem não dá condições de assistência, a nossa cidade e nossos cidadãos são penalizados, pois nossas poucas vagas são preenchidas por pacientes de outras cidades. Caso um paciente de S.Carlos necessite, ele vai para onde? Isso tudo está errado, e a culpa é do SUS e sua secular eneficiência e da falta de especialistas médicos, que buscam sempre as especialidades mais rentáveis e menos trabalhosa, afora isso, brigam para não aumentar as escolas de medicinas, cursos técnicos e querem responder por tudo, até uma troca de band-aid. Acho que seria bom o governo federal buscar médicos em Cuba, tenho certeza que seria uma medida benéfica à população, principalmente do norte e nordeste.
Porque Araraquara que recebe grana do estado de SP pode se recusar a atender o paciente , e em São Carlos que quase nunca recebe nada (alias ´nos é tirado muita coisa daqui) tem que atender?