Republicanos tentam conter danos de insultos a latinos em comício de Trump
O evento foi marcado pela retórica mais sombria e agressiva de Trump até o momento na campanha
Reportagem – Estadão Conteúdo
Republicanos, aliados e o comando da campanha de Donald Trump correram na última segunda-feira, 28, para tentar reduzir o prejuízo causado pelas declarações racistas e insultos a latinos, especialmente aos porto-riquenhos, feitos durante o comício do ex-presidente na noite de domingo, no Madison Square Garden, em Nova York.
O evento foi marcado pela retórica mais sombria e agressiva de Trump até o momento na campanha. Logo na abertura, o comediante Tony Hinchcliffe se referiu a Porto Rico como “lixo” e zombou da população de origem latina, que segundo ele não usa métodos anticoncepcionais. “Há uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano neste momento. Acho que se chama Porto Rico”, disse Hinchcliffe.
Os comentários tiveram efeito imediato. Várias celebridades porto-riquenhas ou de origem hispânica, como o rapper Bad Bunny, a atriz Jennifer Lopez, e os cantores Luis Fonsi e Ricky Martin, citaram os comentários para declarar apoio à candidata democrata Kamala Harris – que coincidentemente havia apresentado propostas para Porto Rico.
A preocupação da campanha de Trump não é com os mais de 3 milhões de habitantes da ilha, um território autônomo americano, que não têm direito a voto. Mas com os 6 milhões de americanos de origem porto-riquenha que vivem nos EUA – estima-se que pelo menos 300 mil votem na Pensilvânia, Estado que será crucial na eleição da semana que vem.
Danos
Rapidamente, assessores de campanha e membros do Partido Republicano correram para apagar o incêndio provocado pelos comentários, principalmente em Estados com alta densidade de eleitores hispânicos, como Flórida e Pensilvânia. “A piada feita no comício não reflete a visão de Trump”, afirmou Danielle Alvarez, uma das porta-vozes da campanha.
“Estou enojada com o comentário racista de Tony Hinchcliffe, chamando Porto Rico de ‘ilha flutuante de lixo’. Essa retórica não reflete os valores do Partido Republicano”, afirmou a deputada republicana María Elvira Salazar, filha de cubanos, que viveu em Porto Rico e enfrenta uma reeleição difícil no 27° Distrito da Flórida. Hinchcliffe, o comediante que desatou a crise, não voltou atrás, nem lamentou a piada. “Esse povo não tem nenhum senso de humor”, afirmou.
Ataques
Os democratas aproveitaram a indignação dos porto-riquenhos. O presidente Joe Biden, que votou ontem em Delaware, disse que os insultos racistas foram “constrangedores”. “Isso não é digno de nenhum presidente”, disse. Kamala chamou os comentários de “absurdos”. “Nada do que ele diz satisfaz as aspirações e os sonhos do povo americano.”
A maior dor de cabeça para Trump, no entanto, veio do astro do reggaeton Bad Bunny – cujo verdadeiro nome é Benito Antonio Martínez Ocasio, vencedor de três Grammys. Porto-riquenho, ele tem mais de 45 milhões de seguidores no Instagram e vinha sendo cortejado pela campanha democrata há vários meses. Logo após o comício de Trump em Nova York, ele compartilhou um vídeo de Kamala e anunciou seu apoio formal.