Lula justifica demissão de Nísia
Presidente diz que demitiu ministra porque precisa de ‘mais agressividade na política’
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Adriana Victorino/AE
O presidente Lula disse que demitiu Nísia Trindade do comando do Ministério da Saúde porque precisa de mais “agressividade na política”. O petista afirmou ser “amigo pessoal” da agora ex-ministra, a quem chamou de “companheira de alta qualidade”.
“A Nísia é uma companheira da mais alta qualidade, minha amiga pessoal, mas eu estou precisando de um pouco mais de agressividade na política. O governo tem que aplicar mais agilidade, mais rapidez e, por isso, estou fazendo algumas trocas”, afirmou Lula em entrevista à TV Record Litoral e Vale.
Lula demitiu Nísia nesta terça-feira, 25, após uma “fritura” de meses, motivada por insatisfações do Congresso, de integrantes do governo e do próprio presidente, que cobrava uma marca forte da pasta. No ano passado, Nísia já havia enfrentado pressões para deixar o cargo, mas foi blindada pelo petista, que chegou a pedir à ex-ministra: “Cuide da gestão e se preserve. Da política, a gente cuida.”
O presidente anunciou Alexandre Padilha, que comanda a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), para assumir o cargo de Nísia. Durante a entrevista, Lula assumiu já ter o nome do substituto para Padilha na SRI, mas disse que ainda não conversou com a pessoa. O cargo agora é visado por integrantes do Centrão, que antes cobiçavam o Ministério da Saúde, e até mesmo por membros do PT.
“Eu já tenho a pessoa escolhida, mas eu não posso avisar porque eu não conversei com a pessoa ainda. Então, eu não quero que a pessoa saiba que ela vai ser ministro ou que ele vai ser ministro pela Record. Eu quero que ele saiba da minha boca”, afirmou o presidente.
Pressionado pela queda de popularidade, Lula falou sobre a reforma ministerial, e disse ter muito cuidado ao fazê-la. “Você sabe, um técnico de futebol, quando ele tem que tirar um e colocar outro, sabe? Normalmente, o que sai, sai de cara feia, o que entra sabe que tem que fazer melhor do que ele. E como eu tenho um time muito coeso, as pessoas são muito decentes comigo”.
Após a demissão, Nísia fez uma despedida para servidores da pasta e afirmou que a saída da Esplanada não a “diminui em nada” “O governo pode ser pensado como um grande time ou orquestra, e o técnico desse time tem todas as bases e os elementos para definir que perfil, que jogador ele quer no momento, no segundo tempo. Isso não me diminui em nada”, disse a ex-ministra.
DECISÃO
Lula decidiu na terça-feira (25) substituir a ministra da Saúde, Nísia Trindade, que estava no cargo desde janeiro de 2023. O substituto será o atual ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que já foi ministro da Saúde entre 2011 e 2014.
Em nota, o Palácio do Planalto disse que Lula comunicou a saída de Nísia em reunião na tarde de terça-feira. A posse de Padilha está marcada para o dia 6 de março. “O presidente agradeceu à ministra pelo trabalho e dedicação à frente do ministério”, diz a nota.
PADILHA
Nascido em São Paulo (SP), em 14 de setembro de 1971, Alexandre Rocha Santos Padilha é médico infectologista formado pela Universidade de São Paulo (USP), com doutorado em Saúde Pública pela Universidade de Campinas (Unicamp). Também atua como professor universitário.
Deputado federal reeleito pelo PT de São Paulo, está licenciado do cargo para compor a equipe ministerial do presidente Lula. Também foi ministro nos governos Lula (2009-2010) e Dilma Rousseff (2011-2014), tendo chefiado as pastas das Relações Institucionais e da Saúde, respectivamente.
Ainda assumiu as mesmas pastas durante a gestão de Fernando Haddad (2015-2016) na Prefeitura de São Paulo.
DESPEDIDA
Pouco antes da formalização da troca no ministério, Nísia participou de cerimônia no Palácio do Planalto onde anunciou uma vacina 100% nacional e de dose única contra a dengue. Já em clima de despedida, ela foi a primeira a falar, pediu que os secretários da pasta ficassem de pé para serem aplaudidos por seu trabalho e foi ovacionada por servidores presentes no evento.
Em nota divulgada na penúltima sexta-feira (21), Nísia avaliou que a pasta, sob o comando de Lula, vem cumprindo com o compromisso de reestruturar o SUS e de cuidar da saúde da população “com resultados concretos”, citando feitos como 100% dos medicamentos do programa Farmácia Popular com gratuidade e o aumento da cobertura vacinal no país após mais de seis anos de quedas consecutivas.
Antes de assumir a Saúde, em janeiro de 2023, Nísia Trindade ocupava o posto de presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desde 2017. (Com Agência Brasil)