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Biossensor detecta pesticida na água, no solo e em alimentos contaminados

18/05/2013 17h07 - Atualizado há 12 anos Publicado por: Redação
Biossensor detecta pesticida na água, no solo e em alimentos contaminados

A existência de grandes índices do pesticida metamidofós nos lençóis freáticos e nas grandes lavouras do Estado de Mato Grosso originou um trabalho de pesquisa conjunto entre o IFSC-USP e a UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso, o qual resultou na idealização, construção e patenteamento de um biossensor que é capaz de, num curto espaço de tempo (minutos), detectar a existência desse pesticida.

Natural de Cáceres (MT), a hoje pós-graduanda do IFSC, Izabela Gutierrez de Arruda, orientada pelo Prof. Dr. Romildo Jerônimo Ramos (UFMT) e co-orientada pelo Dr. Nirton Cristi Silva Vieira que durante o seu mestrado na UFMT, decidiu abraçar o projeto conjunto com o IFSC através do Prof. Dr. Francisco Eduardo Gontijo Guimarães (ex-orientador de Nirton).

A ideia surgiu em um encontro realizado sob os auspícios do INEO – Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica e, com os apoios da CAPES e do CNPq, as experiências do IFSC e da UFMT foram unidas para esse fim: a construção de um biossensor destinado a análises de pesticidas e com custo bastante baixo.

Este biossensor foi construído exclusivamente para detectar o pesticida metamidofós, mas ele está também preparado para ser adaptado para a detecção de outros pesticidas que pertençam às classes dos organofosforados ou carbamatos, o que aumenta a sua utilidade e importância.

O pesticida metamidofós não só é largamente utilizado nos trabalhos agrícolas do Estado de Mato Grosso, como também em todo o país e, por ser extraordinariamente forte, penetra facilmente no solo e, consequentemente, nos lençóis freáticos. Devido à sua composição química, este pesticida interage livremente no sistema nervoso central do ser humano, atacando-o rapidamente, causando danos irreversíveis no cérebro, podendo levar à morte.

Este biossensor é de fácil construção, sendo constituído por uma película muito fina – nanométrica, onde é imobilizada a enzima acetilcolinesterase (exatamente igual à que existe no cérebro humano). Quando a enzima entra em contato com as moléculas do pesticida, sua ação é inibida, produzindo menos prótons quando comparado com a enzima sem a presença do pesticida: essa diferença de prótons é lida e mostrada num pequeno aparelho onde é introduzida essa película, acusando, assim, os índices de contaminação.

Para o Prof. Dr. Francisco Guimarães, este é um daqueles trabalhos que visam diretamente o bem-estar social e, por isso a ideia foi patenteada – o primeiro registro de patente da UFMT, em quarenta anos de existência da universidade. Atualmente, todas as análises referentes a contaminação por pesticidas no Estado de Mato Grosso são enviadas para São Paulo ou Rio de Janeiro. Com este biossensor, pode não mais haver essa necessidade, pois o equipamento, do tamanho de um medidor de índices de diabetes, cujo protótipo está sendo desenvolvido no IFSC-USP, confere a resposta em poucos minutos.

A equipe de pesquisadores procura agora, preferencialmente, uma indústria nacional de biotecnologia que tenha interesse e que compre a ideia para a comercialização do aparelho completo (que poderá custar entre R$ 100,00 e R$ 200,00 cada unidade).

Izabela Gutierrez de Arruda está muito entusiasmada com esse trabalho, porque ele é de âmbito social e de impacto ecológico: “Este pesticida é utilizado em larga escala no Estado de Mato Grosso e em muitas regiões do nosso país: quando penso que a região do Pantanal poderá ser ameaçada por este pesticida, logo penso que, pela sua localização, outros países que fazem fronteira com o Brasil poderão sentir também esse perigoso efeito, até porque a contaminação pode chegar aos reservatórios de água potável e nos grandes rios do Estado”, comenta a cientista.

Confirmando a preocupação de Izabela, pesquisas feitas recentemente pelo Prof. Dr. Wanderlei Pignati, pesquisador da UFMT e um dos maiores especialistas nacionais em pesticidas, confirmou a presença de vários pesticidas nos principais rios, poços artesianos e, inclusive, em animais, no Mato Grosso. Outro trabalho de Pignati comprovou também a existência de índices de pesticidas no leite materno.

Sabe-se que a Anvisa está com um processo aberto para banir esse pesticida do mercado, proibindo sua produção, tal como já acontece em vários países da União Europeia.

“O desenvolvimento desse trabalho incluiu conhecimentos das áreas da física, química, biologia, e ciência e engenharia de materiais, valorizando todo o aspecto relacionado com interdisciplinaridade”, comentam Izabela e Nirton.

Além do registro de patente, um artigo foi aceito e outro foi enviado para revistas especializadas nas áreas de biossensores e nanotecnologia.

A jovem cientista Izabela Gutierrez de Arruda recebeu, recentemente, uma homenagem consubstanciada por uma Moção de Congratulações pela deputada estadual Luciane Bezerra (MT).

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