“Adolescência” é o nome de uma recente minissérie da plataforma de streamings Netflix. E conta a história de um garoto de 13 anos acusado de matar uma colega de classe da mesma idade.
O pano de fundo para a discussão da série é o movimento “incel”. Essa é a abreviação para “celibatários involuntários”. O movimento foi criado em 1993 e hoje se tornou uma subcultura online.
É geralmente composto por homens heterossexuais que não se consideram capazes de encontrar parceiras românticas devido às suas dificuldades de interação social. As discussões incels giram em torno de temas como supremacia branca, racismo, “redpills”, superioridade do sexo masculino, obrigatoriedade da submissão da mulher e violência contra pessoas sexualmente ativas.
Assim, os incels recorrem a discursos de ódio contra o sexo feminino e tudo que o cerca, além de atos de violência para com as pessoas que não correspondem suas investidas sexuais ou românticas. Como exemplos, há o Massacre do Realengo (2011) e o Massacre de Suzano (2019). E mais recentemente houve o caso de adolescentes que planejavam queimar uma pessoa em situação de rua viva.
Embora muitos participantes do movimento comumente usem do autodiagnóstico para justificar suas ações, ser um incel não é algo da esfera da saúde física ou mental. É a adesão a um movimento de ódio.
Por isso, o que deve ser debatido aqui é: por que estes adolescentes não são capazes de lidar com a frustração de não serem escolhidos por aqueles que desejam e assim recorrem à raiva e ao ódio?
Quando se discute sobre a frustração, se fala sobre não atingir o que se esperava e não ser escolhido como objeto de amor. O que pode resultar em diversos afetos negativos, como decepção, insatisfação e raiva.
O que acontece, nesses casos, é que os adolescentes (devido ao seu período de formação) não estão ainda completamente equipados psiquicamente para lidar com as frustrações maiores que vêm acompanhadas de algumas cobranças sociais. Como a de precisar ter uma parceira sexual para comprovar algo aos seus pares ou guardiões.
Isso resulta em sentimentos de exclusão, isolamento, medo de compartilhar seus sentimentos e raiva por ter que viver essa situação. Contudo, ao entrar nestes fóruns incels, há a oportunidade de: em vez de ter que lidar com esses sentimentos e se preparar para a vida adulta; poder jogar tudo isso que é difícil de experienciar em uma outra pessoa de forma agressiva.
Deste modo, o ideal é que a discussão seja no sentido de ajudar o adolescente a suportar e lidar com suas frustrações de maneiras saudáveis; aprender sobre suas capacidades de interação social; entender o porquê de se justificar a violência contra o outro como uma saída para a raiva; e encontrar uma estratégia saudável para lidar com esses afetos negativos.
E tudo isso pode ser feito com a ajuda de um profissional da saúde mental, devidamente preparado para essas discussões, um psicólogo. Em um ambiente livre de preconceitos e que o adolescente possa se sentir confortável, como o da terapia.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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