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Dilma tenta, mas não alavanca investimento privado

21/12/2012 19h51 - Atualizado há 12 anos Publicado por: Redação
Dilma tenta, mas não alavanca investimento privado

Percorrido metade do mandato, o governo da presidente Dilma Rousseff enfrenta a dura lição de que, sozinha, a redução do juro não está sendo suficiente para garantir ao país uma expansão econômica liderada pelo investimento.

 

Empresários, investidores e economistas, embora concordem que o governo diagnostica corretamente os problemas que condenam a economia doméstica a frequentes voos de galinha, avaliam que o governo está falhando no esforço de criar um ambiente mais amigável para investimentos.

A principal crítica tem a ver com a aparente iniciativa estatal de estabelecer um teto para ganho dos investidores, especialmente na área de infraestrutura, como contrapartida compulsória ao cenário de custo de capital mais baixo, tática esta que ficou explícita na proposta de renovação antecipada de concessões do setor elétrico.

“O governo está com uma estratégia de estipular o retorno que as empresas devem ter. Isso tem que se dar via competição. Quando ele (governo) estabelece o retorno, as empresas pensam em aplicações que rendem mais”, disse o presidente do Comitê de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José de Freitas Mascarenhas.

Aceitar uma rentabilidade menor parece não incomodar alguns investidores, como os interessados em participar dos leilões de concessão de rodovias e ferrovias, ainda por acontecer. Pelo menos essa é a avaliação do presidente da estatal Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo.

“Quando você fala de uma TIR (Taxa Interna de Retorno) de 5,5 por cento em termos reais, e que vai ter um financiamento de até 80 por cento do investimento a juro de 2 por cento, a remuneração do capital próprio do investidor vai ser de 9 ou 10 por cento, o que não é baixo”, disse Figueiredo, escolhido por Dilma para modelar o plano de investimentos em logística.

De fato, com a taxa básica de juro Selic no piso recorde de 7,25 por cento ao ano, comprar a exclusividade de prestação de um serviço público de 20, 30 ou 40 anos, que ofereça uma TIR ao redor de 10 por cento não parece má ideia.

E a miríade de oportunidades de obras infraestrutura num país que aposta nelas para elevar a taxa de investimento da economia dos cerca de 17 por cento para perto de 25 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), para se aproximar do ritmo de economias emergentes que crescem mais rápido, parece formar o cenário ideal para isso.

Então, qual a explicação para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) de julho a setembro ter caído pelo quinto trimestre consecutivo?

“Um problema de confiança está se formando”, disse o sócio fundador do BTG Pactual, o banqueiro André Esteves, mencionando os ruídos criados no mercado com medidas governamentais em alguns setores da economia. “Isso tem que ser mitigado imediatamente.”

Diferente de outros tempos, a maior intervenção estatal não está sendo encarada deliberadamente como um palavrão. Ao contrário, em muitos aspectos tem sido elogiada, especialmente nas iniciativas contracíclicas para proteger o país dos efeitos das crises externas dos últimos anos.

Parte relevante do empresariado também tem apoiado outras medidas, como a renovação antecipada de concessões do setor elétrico, que traz consigo a promessa de corte médio de 20 por cento dos custos de energia, tida como uma das mais caras do mundo.

Porém, há uma sensação crescente de mudança nas regras do jogo, o que é particularmente complicado em se tratando de investimentos de longuíssimo prazo, segundo o economista Simão Silber, professor da Universidade de São Paulo. “Além disso, as aplicações financeiras têm liquidez, o capital produtivo não, especialmente na infraestrutura”, disse.

Talvez por isso, o cardápio de incentivos – incluindo juros reais negativos em algumas linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e incentivos fiscais – não está alavancando o investimento privado.

Uma pesquisa recente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) mostrou que cerca de 60 por cento das empresas com ações na Bovespa planejam investir em 2013 no máximo o mesmo que fizeram neste ano. Algumas delas, como a Vale, por expectativa de baixo crescimento da economia global.

Em segmentos ligados ao mercado doméstico, como o financeiro, as instituições privadas estão preferindo focar em ganho de eficiência em vez seguir os passos de Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que receberam ordem expressa do governo federal para crescer. O Santander Brasil recentemente anunciou mil demissões no país. O Citi vai fechar 14 agências no Brasil.

“Não é simplesmente bater um tambor em Brasília para fazer as coisas acontecerem”, afirmou o estrategista-chefe e chairman da Rio Bravo Investimentos, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. “Não é só o custo de capital, mas uma filosofia de trato, de respeito e de aceitação do investimento privado.”

Muitas companhias elétricas, incluindo a estatal Eletrobras, estão com um discurso de apertar o orçamento até ficar mais claro como ficarão suas receitas após a renovação das concessões.

 

MERCADO ACIONÁRIO

Em outra frente, a CPFL Energias Renováveis, parceria entre a CPFL Energia e a Ersa, cancelou um plano de listar suas ações na Bovespa com uma oferta inicial de ações superior a 1 bilhão de reais, após investidores ficarem receosos com o plano de renovação das concessões do governo.

“Esse é um tipo de coisa mais sutil que talvez o governo não perceba”, disse o sócio da área de infraestrutura do Pátria Investimentos, Andre Sales.

Termômetro mais visível da opinião do mercado sobre perspectivas para a economia, as ações mostram desempenhos bastantes distintos por setores em 2012.

Enquanto o índice do setor elétrico acumula perda de cerca de 14 por cento no ano, o de consumo – de empresas na maioria beneficiadas por medidas do governo para incentivar compras de bens como eletrodomésticos – subiu 40 por cento. O Ibovespa, que reúne os papéis com maior liquidez, tem alta de perto de 8 por cento até o fechamento de 20 de dezembro.

“O intervencionismo estatal está no preço”, disse o diretor de gestão de recursos do Itaú Unibanco, Paulo Corchaki, para quem a tendência vai se manter em 2013. (reportagem adicional de Leonardo Goy) (A Reuters publica uma série de matérias especiais sobre as perspectivas para o Brasil em 2013 e 2014)

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