Eleição deve seguir descolada do mensalão no 2º turno
O julgamento da ação penal do chamado mensalão entra na fase final às vésperas do segundo turno da eleição municipal, mas, assim como na primeira rodada, o impacto nas urnas deve ser limitado, com eleitores mais preocupados na solução de problemas locais e deixando em segundo plano as implicações do caso.
O Supremo Tribunal Federal (STF) selou na semana passada a condenação por corrupção ativa do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, do ex-presidente do PT José Genoino e do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares por envolvimento no esquema de compra de apoio parlamentar ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O julgamento da antiga cúpula petista foi iniciado na semana anterior ao primeiro turno da eleição municipal, e o impacto nas urnas foi pequeno, na opinião de analistas, apesar da grande exposição na mídia e do uso do caso por alguns candidatos.
“A despeito da propaganda massiva e do destaque nos noticiários, o impacto não foi visto. Houve certo distanciamento dos eleitores da questão. (O julgamento) não foi variável determinante”, disse o professor de ciência política do Ibmec Belo Horizonte Oswaldo Dehon.
O pleito municipal é visto com certo descolamento da política nacional. Os eleitores estão mais preocupados com as soluções de problemas próximos, como transporte, educação e saúde, sem grande influência de questões consideradas distantes, como o julgamento do mensalão.
Eleitores tendem, também, a votar em perfis conhecidos e não em partidos, o que reduz ainda mais o possível efeito do julgamento no voto municipal.
“O eleitor está querendo soluções para suas regiões, seus bairros, suas cidades. O eleitor não vota em partido, vota em pessoas e perfis”, disse o professor da Universidade de São Paulo (USP) Gaudêncio Torquato.
“O efeito eleitoral (do julgamento) é muito pequeno. Na hora H, isso não funciona, mas não quer dizer que não seja importante”, disse.
Apesar de sair derrotado em capitais importantes como Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife, o PT foi, ao lado do PSB, o único partido entre os grandes a ter crescimento em 2012, elegendo mais prefeitos nesta eleição do que há quatro anos.
CASO COMPLEXO
No primeiro turno, o mensalão foi usado com moderação pelas campanhas, especialmente nas cidades onde as disputas principais ocorreram entre candidatos de partidos que integram a base aliada da presidente Dilma Rousseff.
Agora, com a polarização da disputa entre dois lados, o tema poderá ser mais explorado no segundo turno.
Em São Paulo, maior cidade do país, o segundo turno repetirá a rivalidade nacional entre PT e PSDB, o que acontecerá em outras duas capitais – Rio Branco e João Pessoa. O tucano José Serra, que saiu com ligeira vantagem na primeira rodada, enfrentará o petista Fernando Haddad.
As primeiras pesquisas divulgadas na semana passada colocaram o petista com vantagem de 10 pontos sobre Serra: no Datafolha, Haddad lidera por 47 por cento a 37 por cento, e no Ibope, por 48 por cento a 37 por cento.
“Não houve impacto nas primeiras pesquisas”, disse o professor Dehon, do Ibmec, ao comentar a influência do julgamento do chamado mensalão nas intenções de voto.
O baixo impacto nas pesquisas também pode ser explicada pela alta complexidade do caso, a maior ação penal da história da Corte em número de réus, cujo julgamento ocorre por capítulos. A pena dos condenados só ocorrerá na fase final.
“Para o eleitor o caso (do mensalão) é muito complicado (de compreender)”, disse à Reuters a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, em entrevista antes do primeiro turno.
Após a confirmação da condenação da antiga cúpula petista na semana seguinte ao primeiro turno, em que ministros do STF classificaram o esquema de “golpe” e de “assalto aos cofres públicos”, a oposição passou a contar com mais munição ainda.
Em São Paulo, por exemplo, assim que os candidatos do segundo turno foram definidos, Serra deu o tom da campanha. O tucano prometeu tratar de “valores” que, segundo ele, andavam fora de moda, mas estavam sendo resgatados pelos magistrados do STF.
A ex-cúpula petista será julgada ainda por formação de quadrilha, o último item a ser analisado, o que deve ocorrer antes do segundo turno que será realizado em 28 de outubro.
O marqueteiro da campanha vitoriosa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, Duda Mendonça, também ainda será julgado pelos ministros do Supremo.