Renato Feder (*)
Há um consenso que atravessa fronteiras e governos: a educação de qualidade é o único caminho sustentável para o desenvolvimento. Mas é preciso reconhecer que, nas últimas décadas, o Brasil tem enfrentado um dilema persistente. Como conciliar a formação básica dos jovens com as demandas urgentes do mundo do trabalho.
Em São Paulo, essa equação começou a mudar. Um dos movimentos mais significativos dos últimos anos realizado pela Secretaria da Educação do Estado foi o crescimento expressivo do ensino técnico integrado ao ensino médio. Quando a atual gestão assumiu, havia pouco mais de 30 mil alunos matriculados em 772 escolas da rede espalhadas pelo Estado. Muitos jovens, no ensino médio, já buscavam o primeiro emprego. Um desejo legítimo, mas que, na prática, resultava muitas vezes em evasão escolar ou no ingresso precoce no ensino noturno.
A resposta veio com uma política pública que alia educação e empregabilidade, entendendo que o jovem não quer apenas o diploma, mas um projeto de vida. Desde o início, o governo Tarcísio de Freitas estabeleceu como meta oferecer alternativas reais, permitir que o estudante siga aprendendo, sem precisar escolher entre estudar e trabalhar.
Em apenas três anos, São Paulo viu o ensino técnico se transformar em um dos pilares de sua política educacional. Para o ano de 2026, o Estado deve alcançar 230 mil matrículas em 11 cursos técnicos, oferecidos em 2.212 escolas distribuídas por todas as regiões.
Os cursos abrangem áreas como Ciências de Dados, Administração, Enfermagem, Hospedagem, e mais duas novas formações já estão a caminho, Meio Ambiente e Eletrônica. É uma ampliação que dialoga diretamente com o que apontam organismos internacionais como a OCDE. Os países que mais crescem são aqueles que apostam em uma educação técnica robusta, conectada à inovação e às transformações do mercado.
Entretanto, o mérito da política paulista não está apenas na expansão da oferta. A grande virada foi entender que a formação técnica só cumpre seu papel quando se traduz em oportunidades reais de inserção profissional.
Foi com esse espírito que nasceu o BEEM – Bolsa Estágio Ensino Médio, programa que oferece aos estudantes uma chance concreta de vivenciar o mundo do trabalho, em estágios compatíveis com o que estão cursando. O governo garante seis meses de bolsa com valores que chegam a R$ 851 mensais, enquanto as empresas abrem suas portas para acolher essa nova geração de talentos.
O resultado é expressivo: 2.500 empresas já participam do programa e mais de nove mil estudantes estão em estágios remunerados. Empresários e educadores são unânimes ao atestar que esses jovens chegam preparados, motivados e com vontade de aprender. Muitos já foram efetivados após o período inicial de estágio, sinal de que a ponte entre escola e empresa começa a se consolidar.
O ensino técnico é mais do que uma modalidade de ensino. É um projeto de transformação social. Ele dá sentido ao aprendizado, amplia horizontes e devolve à juventude a confiança de que o esforço e o estudo são recompensadores.
Em 2026, a meta é alcançar 30 mil estagiários, com a entrada de novas empresas e setores. Mas, mais do que números, o que está em jogo é a mudança de mentalidade, é entender que o futuro do país depende da valorização do conhecimento aplicado, da inovação e do trabalho qualificado.
O ensino técnico e o programa BEEM não são apenas políticas pontuais. São um legado, um investimento nas próximas gerações, que transforma a escola em porta de entrada para o futuro e o aluno em protagonista da própria história.
(*) Renato Feder é secretário da Educação do Estado de São Paulo.
