Falta medicamento para sedar e entubar pacientes
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Além
da dificuldade de ampliar o número de leitos de UTI e respiradores, Estados
brasileiros enfrentam agora a falta de sedativos e relaxantes musculares usados
na entubação de pacientes graves com covid-19, destaca o Estadão. Sem
esses remédios, a ventilação mecânica não pode ser feita de forma adequada e o
paciente corre maior risco de morrer.
Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), todas as
secretarias estaduais relataram à entidade ter um ou mais medicamentos dessa
classe em falta ou com estoque crítico. Já há investigações abertas em ao menos
dois Estados (Rio e Amapá) para apurar óbitos de pacientes que não tiveram
acesso a essas medicações.
Segundo médicos e gestores ouvidos pelo Estadão, a situação deve-se
principalmente à crescente procura por esses medicamentos por causa do alto
número de doentes que precisam ser entubados e do período prolongado de
internação desses pacientes em UTIs. “É um uso prolongado e geralmente é
usada uma combinação de drogas de acordo com a gravidade e o objetivo. Todos
ficaram falando do risco de colapso por falta de leito, mas agora temos o risco
da falta desses medicamentos essenciais para a sobrevivência do paciente”,
destaca Ederlon Rezende, membro do conselho consultivo da Associação de Medicina
Intensiva Brasileira.
Com a alta inesperada na demanda, dificuldade de importação de matérias-primas
e alta do dólar, o mercado nacional não estaria conseguindo suprir a procura,
dizem gestores. Secretarias da Saúde consultadas pelo Estadão informaram
alta de mais de 700% na utilização desses medicamentos desde o início da
pandemia. Em Alagoas, o número de doses utilizadas do relaxante muscular
rocurônio subiu 787%. No Rio Grande do Norte, o aumento na utilização de
anestésicos e betabloqueadores foi de 200%. No Pará, a alta foi de 100%.
O rocurônio é o que reúne o maior número de queixas de problemas no
abastecimento. Levantamento feito pelo Conass com todas as secretarias da Saúde
revelou que, das 25 pastas que responderam ao questionário, 24 têm problemas no
abastecimento do item. Os números foram apresentados ontem em reunião de comissão
da Câmara dos Deputados.
Presente no encontro, um representante no Conass relatou que o órgão mandou
ofício para o Ministério da Saúde no dia 14 de maio solicitando auxílio do
governo federal aos Estados na relação com fornecedores. O problema foi tema de
novo ofício, enviado no dia 29. Hoje, a maioria desses medicamentos é comprada
diretamente pelos Estados e municípios ou pelos hospitais, mas as secretarias
avaliam que uma intervenção do ministério junto à Anvisa e aos fabricantes pode
facilitar a compra. Questionado, o ministério não respondeu. Ao Conass,
prometeu auxiliar na negociação com fornecedores.
Também presente na reunião, o presidente do Sindicato da Indústria de Produtos
Farmacêutico (Sindusfarma), Nelson Mussolini, disse que laboratórios estão
trabalhando em máxima capacidade para dar conta da demanda e agora a produção
está normalizada. “Tivemos problema quando houve “lockdown” na
Índia e estamos tendo dificuldades com frete internacional. O número de voos
foi reduzido e o preço subiu. Antes pagávamos US$ 2 por quilo transportado e
agora, US$ 15.”
A Secretaria Estadual da Saúde do Amapá não respondeu aos questionamentos da
reportagem.