ARTIGO

Feminicídio: uma ferida aberta

Marco César Aga*

É a extrema violência contra a mulher. Não apenas homicídios, mas de assassinatos por conta do gênero, crimes que revelam uma desigualdade estrutural, machismo e covardia oriunda de uma relação de poder que ainda persiste na sociedade brasileira. No Brasil o assunto ganhou destaque com a criação da Lei do Feminicídio. A raiz do problema é que ele é o ponto final de um ciclo de violência que começa de forma silenciosa: controle emocional, ciúmes excessivos, isolamento, agressões verbais, violência psicológica, sexual e física. A falta de apoio às vítimas, a dependência econômica, o medo e a ausência de uma estrutura educacional profunda que combata a cultura patriarcal de posse sobre o corpo e a vida das mulheres contribuem para que muitas mulheres permaneçam em relacionamentos abusivos que se tornam irreversíveis e fatais. As consequências sociais e familiares são profundas e provocam impactos além da violência direta. Gera ondas traumáticas que atingem famílias, comunidades e toda uma sociedade. Filhos se tornam crianças órfãs e com traumas permanentes. Presenciam muitas vezes a morte da mãe e desenvolvem medo, depressão, ansiedade, dificuldade de socialização, tornam-se órfãos de mãe e de pai, que é preso ou comete suicídio após o crime. As mulheres que sobrevivem à tentativa de feminicídio e os familiares das vítimas, ficam com marcas profundas: transtornos de ansiedade e depressão, transtorno de estresse pós-traumático, dificuldade de recomeçar a vida, perda de confiança em si mesma e no ambiente ao redor. A violência por gênero não mata apenas mulheres, ela destrói sonhos e possibilidades. Esse drama exige um papel mais efetivo da sociedade e do Estado, uma ação conjunta, garantindo políticas eficazes, como delegacias especializadas, abrigos, medidas protetivas rápidas e programas de educação e autonomia econômica para as mulheres vitimadas. A sociedade por sua vez, precisa denunciar casos de violência, apoiar vítimas e romper o silêncio, combater discursos de ódio e machismo, educar crianças e jovens para relações baseadas no respeito e no amor ao próximo, compreender que a violência contra a mulher não é problema dos outros e sim uma mazela social. Enfim, o feminicídio é uma tragédia anunciada que pode ser evitada quando há prevenção, consciência e políticas públicas adequadas. Falar sempre sobre isso é essencial para romper ciclos de violência e construir uma sociedade que valorize a vida, o respeito e a igualdade. Enquanto mulheres continuarem morrendo por serem mulheres, não teremos uma sociedade justa e livre. A responsabilidade é de todos e começa com compreensão, diálogo e compromisso com a vida.

 

*Marco César Aga – ex-prefeito de Casa Branca/SP.

Compartilhe:

Recomendamos para você

Eleições 2026
Partido critica Tarcísio e quer criação de Ministério da Segurança
Há 33 minutos
PEC/Segurança Pública
Presidente da Câmara quer mais debate com líderes partidários
Há 5 horas
Há 19 horas