Fiocruz analisa esgoto para mapear circulação do coronavírus
Estudo inédito no Brasil será realizado em Niterói
Uma pesquisa da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) em parceria
com a prefeitura de Niterói e a concessionária Águas de Niterói começou a
mapear a presença do novo coronavírus no esgoto da cidade, localizada na região
metropolitana do Rio de Janeiro. O estudo é inédito no Brasil e pode
servir como um instrumento capaz de identificar a chegada do vírus a uma
localidade antes da confirmação dos casos pelo sistema de saúde.
Com testes laboratoriais do tipo RT-PCR, os pesquisadores conseguem reconhecer
fragmentos genéticos do coronavírus que chegam ao esgoto após serem excretados
nas fezes de pessoas infectadas. O objetivo da primeira etapa da pesquisa é
monitorar sua disseminação em 12 pontos da cidade durante ao menos quatro
semanas. Só é possível fazer esse acompanhamento em cidades em que uma parcela
significativa da população seja atendida por rede coletora de
esgoto e onde a operadora do serviço tenha controle sobre o sistema. No
caso de Niterói, a rede atende a cerca de 95% da população.
A análise do material coletado em 15 de abril confirmou a presença do
microorganismo em cinco dos 12 pontos estudados – quatro deles no bairro de
Icaraí. As amostras pesquisadas também são dos bairros de Jurujuba, Camboinhas,
Maravista e Sapê, e das comunidades do Palácio, Cavalão, Preventório, Vila
Ipiranga, Caramujo, Maceió e Boa Esperança.
As coletas foram planejadas e realizadas pelo Departamento de Saneamento e
Saúde Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
(ENSP/Fiocruz), em colaboração com a concessionária Águas de Niterói. Já as
análises são lideradas pelo Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do
Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em colaboração com o Laboratório de Vírus
Respiratórios e do Sarampo, que também é do IOC/Fiocruz e foi recentemente
considerado referência em coronavírus nas Américas pela Organização Mundial da
Saúde (OMS).
Segundo os pesquisadores, investigar a presença do coronavírus no esgoto pode
ser uma forma de melhorar o entendimento de sua circulação em uma determinada área,
já que o vírus também terá sido excretado nas fezes de pessoas
assintomáticas. A partir disso, as autoridades podem otimizar os recursos
disponíveis e fortalecer medidas de prevenção de forma localizada.
Apesar de a presença no vírus nas fezes de pessoas infectadas
já ter sido confirmada, não há evidências científicas de que o vírus
excretado ainda é capaz de infectar outras pessoas, já que a transmissão do
coronavírus é principalmente respiratória.