General preso orientava líderes de acampamento no QG do Exército
olícia Federal identificou mensagens por WatsApp que mostram como Mário Fernandes atuava
Pepita Ortega/AE
Peça central na nova fase da investigação sobre golpe de Estado supostamente gestado no governo Jair Bolsonaro (PL), o general de brigada Mário Fernandes atuava como orientador do “pessoal do agro”, caminhoneiros e bolsonaristas alojados no acampamento montado em frente ao QG do Exército em Brasília após as eleições de 2022. A Polícia Federal identificou mensagens por WatsApp que mostram como ele atuava. Os investigadores rastrearam também solicitações ao general.
A PF quer investigar se suas orientações também chegaram aos invasores da sede da corporação em Brasília na noite de 12 de dezembro de 2022. Em relatório de 221 páginas que embasa a Operação Contragolpe, a PF cita três interlocutores de Fernandes – além dele, outros três militares e um policial federal foram presos sob suspeita de tramarem o plano “Punhal Verde e Amarelo” para o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Os interlocutores do general, segundo a PF, eram Rodrigo Yassuo Faria Ikezili, marido de Klio Damião Hirano, apontada como uma manifestante radical presa na Operação Nero por participação nos atos de 12 de dezembro; Lucas Rotilli Durlo, o “Lucão”, caminhoneiro que estava no QG do Exército, apontado como um dos líderes do movimento; e Hélio Osório de Coelho, que se dizia militar e cujo contato estava salvo no celular do general como “comunidade evangélica”.
‘PONTO FOCAL’
Os investigadores encontraram mensagens de Fernandes com civis e militares. Com os colegas de farda, ele externava “ideais golpistas”, diz a PF. Já as mensagens trocadas com caminhoneiros e acampados levaram a PF a classificar o general como o “ponto focal” do governo Bolsonaro com os manifestantes.
“Além de receber informações, também servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes antidemocráticos instalados nas adjacências do QG-Ex em Brasília, que teve papel fundamental na tentativa de golpe de Estado perpetrada no dia 8 de janeiro de 2023”, afirma a PF, estabelecendo uma relação com a depredação nas sedes dos três Poderes em Brasília.
Rodrigo Ikezili buscou a ajuda de Fernandes entre 9 e 13 de dezembro de 2022, por meio de diversos áudios enviados ao general. Em um deles, ele pediu apoio do militar para viabilizar a entrada de uma tenda no acampamento montado em frente o QG do Exército.
‘CHURRASCO’
Em outra mensagem, ele narrou que estava se deslocando para a Esplanada dos Ministérios, possivelmente para participação em alguma manifestação, e afirmou: “Bom dia, general. A gente tá indo lá pra Esplanada, pra manifestação da Esplanada, ok? É… E eu preciso falar urgente com o senhor, sobre aquela… Aquele churrasco. É… se conseguiu alguma orientação aí. Tá bom? Gratidão.”
Em 11 de dezembro, Rodrigo Ikezili peiu a Fernandes uma informações sobre o dia seguinte, “possivelmente se referindo a algum ato que seria realizado no Palácio do Planalto”, diz a PF.