Petistas demonstram pessimismo com mensalão
Os votos dos ministros do STF indicados pela presidente Dilma Rousseff, favoráveis à condenação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) na ação penal do chamado mensalão, surpreenderam líderes petistas, que já veem com pessimismo o resultado do julgamento para os réus políticos e se preparam para mais danos à imagem dos candidatos da sigla nas eleições de outubro.
Pelo pouco tempo na Corte, os votos dos ministros Luiz Fux e Rosa Weber, os únicos indicados por Dilma, eram vistos como uma incógnita até por advogados de defesa.
Assim como a ministra Cármem Lúcia, os dois votaram pela condenação do deputado paulista na sessão de segunda-feira, acompanhando quase que integralmente o relator Joaquim Barbosa. Apenas o voto de José Antonio Dias Toffoli foi pela absolvição de João Paulo nessa sessão.
Petistas ouvidos pela Reuters nesta terça-feira, 28, demonstraram especial surpresa com o voto de Fux, que condenou por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro o deputado, acusado de receber vantagens para autorizar contratos irregulares entre a Câmara dos Deputados e agências de publicidade do empresário Marcos Valério quando presidiu a Casa.
“Ele jogou para o alto os autos do processo”, comentou uma liderança do PT de São Paulo, sob condição de anonimato, ao se referir ao entendimento de Fux de que não é necessária a comprovação do ato de ofício – isto é, ordem expressa do ocupante de cargo oficial, para a condenação por corrupção.
Em seu voto, na sessão de segunda do Supremo Tribunal Federal (STF), Fux argumentou que “se o policial exige a propina, não precisa deixar de multar. A solicitação já levou ao delito”.
Havia entre petistas a perspectiva de que os dois ministros indicados por Dilma fossem mais “garantistas” e reconhecessem que não havia provas suficientes de crime nos autos.
No entanto, Fux e Rosa Weber, assim como Cármen Lúcia, rejeitaram a tese de caixa dois, apresentada pelas defesas, além de apontar que serão rígidos ao avaliar as denúncias de lavagem de dinheiro e corrupção.
“A situação do núcleo político ficou mais difícil”, reconheceu um integrante da Executiva Nacional do PT, também sob condição de anonimato.
Grande parte dos petistas, em plena campanha pelo país para eleger prefeitos e vereadores, adotou o discurso de que é preciso esperar a conclusão do julgamento, sem data prevista, para avaliar os danos e definir estratégias.
Em Osasco, entretanto, onde João Paulo concorre à prefeitura, as tensões são maiores, já que o STF pode chegar a uma maioria que aponte a condenação do deputado na quarta.
“Qualquer decisão lá deverá ser negociada com o candidato”, desconversou um petista.
Até o momento, João Paulo tem quatro votos pela condenação e dois pela absolvição por corrupção. Como a Corte tem 11 integrantes, é preciso seis votos para maioria –em tese, os ministros podem mudar seus votos até o final do julgamento.
FORA DO EIXO
Do resultado do julgamento até agora, petistas realçam a absolvição de Luiz Gushiken, ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social de Lula. Pedida pelo Ministério Público Federal por falta de provas, a absolvição foi acompanhada por todos os seis ministros que votaram até o momento.
Mais distantes do centro do país, candidatos do Norte e Nordeste afirmam que o julgamento do mensalão tem ficado longe de suas campanhas municipais.
O senador Wellington Dias (PT-PI), candidato à Prefeitura de Teresina, afirma que o escândalo não apareceu, até agora, na pauta de seus eleitores.
“O dano político foi feito há muito tempo”, diz ele, referindo-se às eleições de 2006 e 2008.
Denunciado em 2005, o mensalão foi um suposto esquema de desvio de dinheiro público para compra de apoio parlamentar no Congresso, que se tornou a pior crise político dos oito anos de mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.