Projeção é de ao menos 28 mil óbitos por Covid-19 em 2020
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País tem recorde de 751 mortes em 24h, segundo Ministério da Saúde
O Brasil bateu seu terceiro
recorde na semana e registrou 751 mortes decorrentes do novo coronavírus em 24
horas, segundo atualização feita pelo Ministério da Saúde na última sexta-feira
(08). Com isso, o total oficial de vítimas da covid-19 no País subiu de 9.146
para 9.897. E uma projeção da consultoria americana Kearney, que trabalha com
cenários há mais de 80 anos e está presente em mais de 40 países, prevê, na
melhor das expectativas, que o País chegue a 28 mil vítimas até 20 de dezembro.
Segundo a plataforma de estatísticas
Worldometers, o País continua a ser o segundo em registros no mundo, atrás
apenas dos EUA, que relataram 1.570 novos óbitos por infecção em 24 horas. O
número de casos confirmados da doença no Brasil saltou de 135 106 para 145.328,
com 10.222 novos registros entre quarta-feira (06) e quinta-feira (07). Isso
sem considerar os casos de subnotificação.
Para a Kearney, a flexibilização de medidas de
isolamento social e a falta de ações que ampliem urgentemente a estrutura de
saúde do País poderão fazer com que o Brasil se torne o recordista mundial de
vítimas da doença. O Estadão teve
acesso exclusivo a um estudo concluído na semana passada pela empresa, que
analisou em detalhes a evolução da doença em todo o mundo e, a partir de dados
oficiais do Ministério da Saúde e dos Estados, fez simulações para as próximas
semanas e meses do Brasil.
As projeções mostram que, em um cenário
intermediário, o Brasil chegará a cerca de 78 mil mortes por covid-19 até
dezembro. No mais pessimista, o estudo aponta 295 mil mortos até 20 de
dezembro. Seria como se a população inteira de uma cidade do porte de Taubaté
(SP), Petrópolis (RJ) ou Governador Valadares (MG) fosse dizimada. São números,
portanto, de referência, que podem variar muito conforme as medidas que forem
tomadas.
Pico
Conforme as projeções, o Brasil ainda não
atingiu o pico de casos, o que deve acontecer entre 2 e 11 semanas (10 de maio
a 5 de julho), conforme a região do País. Medidas locais de combate à doença,
no entanto, podem abreviar ou reduzir esse prazo. “O cenário é
extremamente preocupante. A mensagem clara que tiramos disso, em síntese, é que
a coisa ainda vai piorar muito, antes de melhorar”, diz Joaquim Cardoso,
líder sênior da prática de saúde da Kearney Brasil.
Uma das principais fragilidades do Brasil em
lidar com o avanço da doença está em sua infraestrutura de saúde. A Kearney fez
um levantamento detalhado sobre o que está disponível dentro da rede pública do
SUS e o que há na rede privada de saúde. Os dados consideraram um total de 34
mil leitos de UTI para adultos no País – com a covid-19 e outras situações, o
número atual avançou um pouco para 40 mil. Considerando os números anteriores
da consultoria, na prática isso significava que, enquanto a média de leitos é
de 40 unidades para cada 100 mil pessoas entre aqueles que têm plano de saúde,
esse número caía para 9 leitos para cada 100 mil na rede pública. “O que
vemos agora é a desigualdade na saúde cobrando a conta”, diz Joaquim Cardoso,
da Kearney Brasil.
O cenário fica ainda mais delicado quando
considerado que cerca de 16 mil leitos já estavam em utilização por outras
doenças antes da chegada da covid-19. Nas estimativas da Keaney, as
implementações de hospitais de campanha não são suficientes para sequer trazer
equilíbrio a esse cenário.
Sugestões
A consultoria faz sugestões para minimizar
problemas. “É preciso um plano urgente para as UTIs, que seja feito por
Estados e cidades e considere a contratação de UTIs da rede privada pelo poder
público”, afirma Cardoso. “É preciso avaliar também a possibilidade
de transporte de pacientes entre cidades, regiões e Estados. Isso foi feito na
França. Temos aviões, é uma alternativa.”
O estudo aponta que os Estados que sofrem com
maior falta de leitos, principalmente na rede pública, estão nas Regiões Norte
e Nordeste, como Amazonas, Pará, Amapá e Ceará. O colapso na rede de
atendimento, porém, também se aproxima das redes de Acre, Rondônia, Roraima,
Pernambuco, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Espírito Santo e Rio de
Janeiro.
Em um cenário otimista, o relatório estima que
haverá falta de ao menos 2,5 mil leitos de UTI no pico das contaminações, mas
esse número pode chegar à falta de aproximadamente 24 mil leitos em situação
mais crítica. Com base nas experiências internacionais, a consultoria alerta
para a necessidade de se revisar políticas públicas, além de adotar medidas
para reduzir as subnotificações.