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“Só vou descansar quando o bandido que matou meu amigo estiver preso”, diz repórter que acompanhava cinegrafista morto

07/11/2011 22h00 - Atualizado há 13 anos Publicado por: Redação
“Só vou descansar quando o bandido que matou meu amigo estiver preso”, diz repórter que acompanhava cinegrafista morto

O corpo do cinegrafista da Band Gelson Domingos, 46, foi sepultado na tarde desta segunda-feira (7), no cemitério Memorial do Carmo, zona portuária da cidade. Ele morreu ontem (6), atingido por um tiro de fuzil, no peito, quando cobria ação policial contra traficantes na favela de Antares (zona oeste do Rio de Janeiro).

“Só vou descansar quando o bandido que matou meu amigo estiver preso. Já temos o nome de um possível traficante que atingiu nosso amigo. Existe até a possibilidade de ele ser preso ainda hoje. Estou acompanhando todas as investigações com a polícia”, disse o repórter Ernani Alves, 32, que acompanhava o cinegrafista na operação.

Ricardo Domingos, irmão do cinegrafista morto, disse que ele “amava o que fazia”. “Ele era muito forte. É um vazio que fica e também chama a atenção de todos, pois poderia ser um de vocês. Agora, ele é uma estatística. Espero que outras famílias como a nossa não venham a sofrer. Alguma coisa tem que ser feita”, disse.

Para Rogério Marques, 61, diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, o ocorrido é um alerta para a imprensa. “As empresas de comunicação têm que desestimular a presença de repórteres ao lado do policial, na linha de frente do tráfico. Assim, ele se torna alvo fácil.”

O coronel Frederico Caldas, coordenador de comunicação social da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, disse que o cinegrafista “era muito querido”. “As lágrimas são invisíveis, mas o nosso sentimento é profundo. A operação foi planejada pela inteligência do Choque com o apoio do Bope. O que aconteceu foi uma fatalidade, e não devido a uma postura da PM. Os jornalistas têm que pensar o seu limite. A PM não tem autoridade para aprovar ou não a entrada da imprensa em operações. Até que ponto vale buscar a informação a qualquer preço?”, questiona.

O âncora do Jornal da Band, Ricardo Boechat, diz que o tráfico no Rio é uma realidade que não se pode ignorar. “Ninguém recebe a orientação: vá lá e se mate para trazer a informação. É como dizer a um correspondente de guerra para deixar de fazer o seu trabalho. O profissional que está em campo que entenda o que é oportuno fazer”, disse.

O caso

O cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos da Silva, 46, foi morto no domingo (6) enquanto fazia a cobertura de uma operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na favela dos Antares, na zona oeste do Rio de Janeiro, para combater o tráfico de drogas. Seis traficantes foram presos e quatro criminosos foram mortos na operação, que teve início durante a madrugada.

Segundo a PM, o objetivo da operação, que reuniu cem policiais do Bope, “era checar informações da área de inteligência de que líderes do tráfico fortemente armados se reuniam no local”. Houve apreensão de armas e drogas.

 

O cinegrafista foi atingido com um tiro na região do tórax, segundo informou em nota a Secretaria de Estado de Saúde. Ele chegou a ser levado a uma  UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), onde chegou às 7h40, já sem vida. Foram feitas tentativas de reanimação, mas sem resultados. O corpo já foi transferido para o IML. 

 

Em nota, o Grupo Bandeirantes lamentou a morte do cinegrafista e informou que ele estava usando colete à prova de balas, o que é obrigatório para jornalistas que acompanham as operações policiais e permitido pelas Forças Armadas, mas que ele “provavelmente foi atingido por um tiro de fuzil” que teria perfurado o colete. 

 

Gelson Domingos deixa três filhos, dois netos e mulher. Repórter cinematográfico da TV Bandeirantes, ele já trabalhou em outras emissoras como SBT e Record e “sempre foi reconhecido pela experiência e cautela no trabalho que exercia”, diz a nota da emissora.

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