Variante Delta gera reinfecção da Covid-19, adverte Fiocruz
Pesquisa aponta que vacinação de pessoas já infectadas por outras cepas é menos potente contra Delta em até 11 vezes
Reportagem: Hever Costa Lima
Estudos apontam que as vacinas aplicadas no Brasil têm menor eficácia contra a variante Delta do novo coronavírus, detectada inicialmente na Índia, embora a eficácia ainda oscile entre 55% e 85% e diminua a hospitalização e o risco de morte. A informação é do professor no Departamento de Medicina e do Curso de Pós-graduação em Gestão da Clínica e coordenador do Comitê de Controle do Coronavírus da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos – SP), Bernardino Geraldo Alves Souto.
Outro ponto que traz alerta é o estudo recém-publicado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o qual indica que a variante Delta pode aumentar o risco de reinfecção. A pesquisa aponta que a imunização de pessoas já infectadas por outras cepas é menos potente contra a Delta em até 11 vezes.
Em Brasília (DF), uma paciente de 66 anos, após adoecer pela variante Gama (antes conhecida como P1 – de Manaus), em abril, voltou a apresentar infecção pela Delta, no final de julho.
Segundo o médico da UFSCar, a variante Delta tem infectado pessoas com menos de 30 anos, inclusive crianças, com mais frequência do que o observado em relação às outras variantes: “E não parece que isto seja efeito exclusivo da menor vacinação entre jovens”.
Bernardino explicou ainda que as vacinas têm menor eficácia em impedir que as pessoas adquiram ou transmitam o vírus da variante Delta. “Esta cepa consegue driblar com mais facilidade os anticorpos produzidos pela vacina e também aqueles produzidos pela própria doença”. Com isso, há casos de reinfecção do vírus.
Segundo Bernardino, os estudos sugerem que a transmissibilidade da Delta pode variar de duas a sete vezes em comparação com outras variantes. O comportamento do vírus no corpo humano é influenciado por inúmeros fatores como proporção de pessoas vacinadas na população, tipo de contato em que a transmissão acontece e aspectos biológicos específicos das pessoas.
O levantamento feito pela Info Tracker, sistema de monitoramento da pandemia das universidades paulistas USP e Unesp, confirma que a variante Delta já responde pelo aumento dos casos no Rio de Janeiro e prevê que o mesmo aconteça em São Paulo a partir de setembro.
De acordo com a Gisaid – plataforma internacional de dados genômicos indicada pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) –, o número de casos mapeados da Delta no Brasil aumentou 74% nas últimas quatro semanas.
De todo modo, não há ainda estudos conclusivos sobre a velocidade do contágio da Delta em relação à variante Gama. Contudo, as pesquisas apontam para o crescimento acelerado, a exemplo do México e Estados Unidos. “Isso permite supor que a variante Delta deverá, em breve, se tornar majoritária no Brasil, como vem acontecendo no resto do mundo”.
Como já vem sendo difundido, nenhuma vacina tem 100% de eficácia e o grau de imunização, mesmo nos vacinados, varia de uma pessoa a outra devido a fatores biológicos próprios de cada indivíduo.
Bernardino afirmou que é comum que idosos, portadores de doenças crônicas degenerativas e imunodeprimidos, por exemplo, produzam resposta imunológica mais fraca, o que pode reduzir a eficácia das vacinas nestas pessoas. “Mesmo em pessoas jovens completamente sadias, a eficácia da vacina pode não alcançar 100%”.
O Brasil configura entre os países com baixa cobertura vacinal da população e alta transmissibilidade do vírus, o que interfere diretamente na efetividade da vacina. Nesse sentido, torna-se imprescindível a adoção das demais medidas preventivas, como uso de máscara, distanciamento físico, restrição de atividades, como tem sido amplamente divulgado desde o início da pandemia do novo coronavírus em março de 2020. “Pelo menos, até que se alcance elevada proporção ideal de 70% da população vacinada com duas doses, essas medidas serão essenciais”, relatou o professor.
CARGA ANTIVIRAL
Os estudos mostram que é muito importante que as pessoas tomem as duas doses da vacina porque a eficácia da primeira dose contra a variante Delta é muito reduzida, porém, melhora muito a partir da segunda dose.
“A transmissibilidade da variante Delta, o tempo que a pessoa fica transmitindo o vírus, caso fique infectada e o risco de adoecer e morrer é maior em quem não foi vacinado ou recebeu apenas uma dose”.
O professor afirmou que a tendência tem sido as vacinas produzidas no mundo perderem um pouco a eficácia global contra as novas variantes, especialmente a Delta. Entretanto, o êxito em reduzir o risco de internação e morte continua muito bom, inclusive em relação à variante Delta.
Análise
Estudo aponta que Coronavac é eficaz contra casos graves da variante Delta
O governador João Doria apresentou estudo feito por pesquisadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da província de Cantão (Guangdong), na China, que demonstra que a Coronavac evita em 100% o desenvolvimento de casos graves de Covid-19 causados pela variante Delta do SARS-CoV-2 e tem eficácia de 69,5% contra pneumonias decorrentes da doença.
“Esse é a conclusão do primeiro estudo publicado sobre a eficácia da Coronavac, vacina do Butantan e da biofarmacêutica chinesa Sinovac contra a Covid-19, na prevenção de pneumonias e casos graves causados pelo variante delta”, disse Doria.
As descobertas estão no artigo “Effectiveness of Inactivated Covid-19 Vaccines Against Covid-19 Pneumonia and Severe Illness Caused by the B.1.617.2 (Delta) Variant: Evidence from an Outbreak in Guangdong, China”, publicado em uma plataforma vinculada à revista The Lancet, uma das mais importantes publicações médicas do mundo.
Os pesquisadores concluíram que a imunização total com duas doses foi 69,5% eficaz para prevenir pneumonia, um dos desdobramentos mais graves da Covid-19. Entre os não vacinados, houve 85 casos (1,44%); entre os vacinados com uma dose, 12 casos (1,42%); e entre os vacinados com duas doses, cinco casos (0,35%).
Além disso, não foram registrados casos críticos entre os vacinados, indicando que os imunizantes analisados têm 100% de eficácia contra o desenvolvimento de casos graves de COVID-19 causados pela variante delta – entre os não vacinados, houve 19 casos graves ou críticos.
O estudo envolveu 10.813 pessoas e foi realizado entre maio e junho de 2021, durante um surto da variante Delta. Com exceção do grupo controle, os participantes haviam sido vacinados com uma das quatro vacinas de vírus inativado autorizadas para uso emergencial na China – a vacina da Sinovac (que no Brasil é chamada Coronavac), as vacinas HB02 e WIV04, da Sinopharm, e a BICV, da Biokangtai.
Dos quase 11 mil voluntários, 5.888 (54,45%) não foram vacinados, 3.130 tomaram a primeira dose e 1.795 tomaram as duas doses. Entre os participantes que tomaram a primeira dose, 48,57% (2.392 pessoas) foram imunizadas com a vacina da Sinovac; entre os que receberam as duas doses, o indicador foi de 58,28% (1.046 pessoas).
O estudo foi feito com pessoas não vacinadas e vacinadas com uma ou duas doses porque quando o surto da variante delta começou em Cantão, a imunização em massa ainda estava em andamento. Para a análise, os pesquisadores usaram dados de vigilância sanitária e de vacinação. (*Com agência de notícia do Governo Estado de SP)
Diagnóstico
Prefeitura envia a Botucatu amostras para identificar variante Delta
A Prefeitura de São Carlos (SP) pretende enviar 30 amostras de pessoas diagnosticadas com a Covid-19 para a UNESP em Botucatu (SP) a fim de identificar se já há circulação a variante Delta por aqui. No dia 29 de julho o resultado da amostragem do mês só identificou a Gama (P1). As novas amostras serão enviadas na próxima quarta-feira, 25.