Chorandosemparar
A nova versão gráfica para o insubstituível evento da nossa cidade “Chorando sem parar” permite alguns comentários. Certamente, é resultado da tendência da comunicação eletrônica, sempre buscando economizar espaços. Também é possível entender como um natural comportamento da língua, que, antes de ser escrita, é falada e, portanto, com fluência muito mais evidente. Tanto que nós, professores, estamos acostumados a ver nos menos escolarizados a interferência da oralidade na grafia com a junção de palavras diferentes como se fossem uma só.
Neste ano, por motivos diferentes, só assisti a uma apresentação do evento: a da Orquestra Experimental da UFSCar, sob regência da professora Ilza Zenker, com a contribuição alternada do músico Lenon. A seleção das músicas não podia ser melhor, incluindo obras de Edu Lobo, Caetano Veloso, Mozart Terra, Chico Buarque, Djavan, Ernesto Nazareth. Antônio Adolfo Saboia, e como não podia deixar de ser – da homenageada do ano, Chiquinha Gonzaga. Coerentemente com o título, os espectadores fomos presenteados com vários choros em belíssimos arranjos. A vitalidade dos jovens componentes da orquestra e a sua competência, resultante de sérios estudos, encantou a todos ali presentes. Pessoalmente, a força emotiva do choro-gênero começou a me provocar choro-pranto.
Instintivamente, me acudiu uma nova interpretação para a versão modernizada do título: a consonância das músicas, o socorro vigilante dos vários instrumentos fazem lembrar a curso ininterrupto de um rio. As batidas dos choros, quando muito eram acompanhadas por movimentos corporais, mas não quebravam a fluência melódica, nem interrompiam a fluidez das emoções dos espectadores. Era um chorandosemparar.
(*) O autor é professor de português e revisor de textos – [email protected] / [email protected]
