Anvisa quer abolir cigarros aromatizados
Em março, os diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) irão votar sobre o fim do uso de aditivos nos cigarros que tornam o produto aromatizado. Essas substâncias dão sabor ao cigarro, como menta e chocolate, mascarando o gosto amargo do tabaco e o cheiro desagradável da fumaça. O motivo do adiamento foi o impasse quanto à exclusão do açúcar na produção do cigarro.
Direcionados aos adolescentes entre 18 e 25 anos, na maioria universitários, esse tipo de cigarro atinge uma parcela pequena nas vendas das tabacarias, como relatou quatro donos de lojas especializadas em cigarrosem São Carlos.“Não passa de 15% das vendas totais”, afirma Joelma Eiras, dona da Tabacaria Eiras, no Mercado Central.
Ela reforça que o público mais velho e fumante nem mesmo conhece esses produtos. “E quando provam, eles não gostam”, declarou.
A proposta original da Anvisa era excluir o açúcar, os aromatizantes, flavorizantes e ameliorantes (aditivos) de todos os produtos do tabaco. No entanto, o relator e diretor da agência, Agenor Álvares, alterou o texto autorizando a adição do açúcar em casos excepcionais, que serão definidos pelos técnicos no prazo de um ano.
A mudança gerou controvérsias. O diretor presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, levantou a dúvida se a ausência do açúcar inibe a iniciação de jovens e adolescentes ao hábito de fumar e à adesão de novos fumantes. “Ele [fumante] simplesmente vai parar de usar esse [cigarro com açúcar] para usar outro [sem açúcar]. Não entendi o benefício e o impacto”, disse Barbano.
Na avaliação de Fábio Martello, da Toda Hora Tabacaria, no bairro Cidade Jardim, esses produtos têm um nicho específico que são os jovens. “Para uma faixa etária maior de idade, até uns 25 anos, esse produto atinge perto de 40% das vendas”, disse ao lembrar que a exclusão do produto no mercado nacional, abre porta para o contrabando de similares produzidos na América Latina.
“Não coloco contrabando em minha loja, mas garanto que pelo menos uma vez por semana tenho na minha porta alguém oferecendo esses e outros produtos. A Anvisa poderá ampliar esse mercado negro do tabaco”, analisa.
Uma opinião contrária tem o dono da loja Rei do Tabaco, no Mercado Central, Isequiel Spiranello. Ele diz que a retirada desse produto em nada vai afetar a venda em sua loja. “Seria um favor para mim que não fossem mais comercializados. O público desse produto não é fiel e compra mais por farra. Isso tudo não passa de modismo”, revelou.
Anvisa afirma que aroma acelera a absorção da nicotina
A análise técnica da Anvisa afirmou que o açúcar é usado para acelerar a absorção da nicotina pelo organismo, tornando a pessoa mais dependente do tabaco. Já existe tecnologia, inclusive no Brasil, para fabricar cigarro sem açúcar. A indústria alega que a retirada do ingrediente inviabiliza a produção do cigarro feito do tabaco tipo burley, o mais consumido no país. A justificativa é que o burley perde o açúcar natural durante o processo de secagem, fica amargo e, por isso, necessita da adição de açúcar no processo de fabricação do cigarro.
Outro argumento de pressão dos fabricantes, que compareceram à reunião aberta ao público, é que cerca de 50 mil famílias de fumicultores de burley ficarão sem emprego, o que também pesou na decisão de adiar a votação.
“Em primeiro lugar, temos que ser pautados pela questão sanitária e da saúde do povo brasileiro. Em segundo lugar, temos que considerar a questão econômica. Não podemos simplesmente chegar para todos os agricultores que produzem esse tipo de tabaco e dizer que não tem mais renda”, disse Álvares, após a reunião.
A ideia, de acordo com o texto, é que os cigarros com sabor saiam do mercado nacional 18 meses após a resolução ser aprovada.
Há três anos a Anvisa debate sobre o fim dos cigarros aromatizados. Em dezembro passado, uma audiência pública reuniu entidades de saúde e representantes da indústria tabagista para debater o tema.