Cidade enfrenta maior chuva dos últimos 30 anos
Chuva de 160 milímetros causou alguns pontos de alagamentos e deixou famílias desabrigados na Região da Vila Esperança, antiga “favelinha”
Entre os dias 27 e 28 de dezembro (últimas terça e quarta-feiras), choveu em Porto Ferreira, em 24h, quase 160 milímetros, segundo o aplicativo Hidroweb, da ANA (Agência Nacional de Águas), com dados coletados da estação Marimbondo, que fica ao lado da antiga ponte metálica. É o maior volume de chuva registrada no município em apenas um dia desde que a Defesa Civil passou a fazer medições diárias, em 1991.
Na manhã de quinta, a régua que existe ao lado da ponte metálica marcava 4,84 metros de água numa medição que vai até 6,80 metros. A Defesa Civil de Porto Ferreira interditou no final da tarde da quarta-feira (28/12) três pontos que sofreram alagamento devido às fortes chuvas que caem no município desde a noite de ontem.
Os pontos interditados são: cruzamento das avenidas Vicente Zini e Professor Henrique da Motta Fonseca Júnior (MarGirius); rotatória do viaduto João Ruy (embaixo da via Anhanguera); e a estrada velha de Descalvado, no Jardim Esperança, na ponte sobre o córrego. A rodovia SP-215, na baixada do antigo abatedouro Maristela, também está com trânsito complicado devido ao transbordamento do córrego, que é o mesmo que passa no Jardim Esperança.
Antes disso, em apenas quatro vezes choveu mais de 100 mm num único dia. Até então o dia mais chuvoso dos últimos 30 anos foi 3 de janeiro de 2000, quando choveu 132,4 mm. Em seguida, vêm os dias 4 de fevereiro de 1995 (117,2 mm), 13 de abril de 2011 (105,4 mm) e 9 de janeiro de 2007 (104,2 mm).
As chuvas que caíram em Porto Ferreira na última semana de 2022 reacenderam a preocupação dos ferreirenses com um problema recorrente; as cheias do Rio Mogi Guaçu e os alagamentos em algumas regiões do município.
O rio foi o motivo do nascimento do município, já que a cidade nasceu através da navegação fluvial para o transporte do café no Século XIX. Porto Ferreira nasceu dos modais fluvial e ferroviário. Todo o café da região era transportado por barcas movidas à vapor e trazidas à ponte sobre o Mogi Guaçu, onde também passava a ferrovia. De lá o café seguia até o Porto de Santos e de lá para a Europa. A história conta as cheias do rio e a epidemia de febre amarela que matou muitas pessoas.
HISTÓRIA
Maior enchente do Mogi Guaçu ocorreu em 1970
A maior cheia do rio em toda a história da cidade foi a de 1970, há 50 anos. Na enchente de 1970, do lado direito da ponte metálica, em direção ao bairro Botafogo, residia o Sr. Ismael Hilário de Andrade, jardineiro municipal e responsável pela medida fluviátil. Enquanto as águas subiam da afamada cheia, os moradores ribeirinhos recebiam comunicados sobre o inevitável.
No entanto, Ismael, mesmo assim, quis permanecer em sua moradia, devido ao fato de sempre residir no local e nunca ter vivido qualquer ameaça. Não tardou muito para o munícipe gritar, sem cessar, pois, as águas invadiam sua casa. A ajuda veio do barco conduzido pelo prestativo “Toninho da Barra”.
Pouco tempo depois, o munícipe Valdomiro Antonio, conhecido como “Jaú”, percebeu que um gatinho, dos animais de Ismael, permanecera encurralado acima de um poste de madeira, instalado próximo da ponte, e, cercado pelas águas, miava desesperadamente. Preocupado com a situação, “Jaú” resolveu socorrer o felino, por meio de uma canoa.
Contudo, ao se aproximar do poste, diante do fluxo, a pequena embarcação virou e o cidadão se tornou nova vítima, clamando por socorro. Logo em seguida, o gatinho saltou do poste e nadou até a outra margem, ao passo que “Toninho da Barra”, novamente, retornava com o seu barco para salvar o “Jaú”.
Em 1990, a inundação atingiu a marca de 5m20cm, deixando as autoridades preocupadas e preparadas para qualquer infortúnio. Pela veiculação da gazeta “A SEMANA” (13 a 19.1.1990, p. 1), a avenida dos ranchos, Nossa Senhora Aparecida, “foi inundada numa extensão de 200 metros”, e dois jovens morreram em uma das lagoas naturais originadas na Vila Sibylla.
Cinco anos depois, o nível do rio alcançou 6m10cm, da régua instalada pela ANA (Agência Nacional das Águas), paralela à ponte metálica. Duas situações opostas foram documentadas pelo “JORNAL DO PORTO” (18.2.1995, p. 1), como se verifica: “A enchente deste ano fez centenas de desabrigados, que foram socorridos pela municipalidade [e] o rio tornou-se o ponto atrativo para a população que congestionava o tráfego sobre a ponte metálica.”. As áreas invadidas foram a Vila Sibylla – ranchos -, as Avenidas Totó Ramos e Lázaro José de Araújo, e o sítio São João (“A SEMANA”, 11.2.1995, p. 1).
Outras cheias de destaque foram: 1997, com 5m52cm na medição. Vinte pessoas desabrigadas permaneceram no abrigo provisório instalado no Ginásio de Esportes “Sylvio Marques Filho”; de acordo com o “JORNAL DO PORTO” (9.1.1999, p. 16): “Devido ao rompimento da barragem na cidade de Mogi Guaçu e a abertura das comportas no distrito de Cachoeira de Emas, em Pirassununga”, a marca superou os 4,58m.
No entanto, um cidadão de 32 anos faleceu, em decorrência de saltos da ponte metálica, costume imprudente por alguns nessa época; e, finalmente, 2000, quando 75 famílias tiveram seus lares ribeirinhos invadidos pelas águas. O citado Ginásio de Esportes, outra vez, serviu de asilo improvisado para as vítimas.
Aliás, como curiosidade, no território ferreirense, desembocam no rio Moji Guaçu os seguintes afluentes: Córrego da Pedra de Amolar, Ribeirão dos Patos, Córrego da Água Parada, Rio Corrente (Água Espraiada), Córrego São Vicente, Córrego do Barreiro, na margem direita; Ribeirão do Ouro ou da Laranja Azeda, Córrego da Boa Vista, Córrego Santa Rosa, Ribeirão Bonito e Córrego da Barra Grande ou Água Vermelha, na margem esquerda. Somam-se, também, alguns riachos anônimos.
