Cientista Político vê protesto como rejeição difusa à classe política
O professor e coordenador do Centro de Estudos de Partidos Políticos (CEPP), que pertence ao departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Pedro Floriano Ribeiro, faz uma análise do movimento que tem protestado, em tese, contra o aumento das passagens de ônibus urbano. Contudo, as manifestações vêem ganhando contornos diferenciados no decorrer dos últimos dez dias. Confira as entrevista abaixo.
Primeira Página – O movimento, na visão do senhor, tem foco nas passagens de ônibus urbanos ou esse grupo protesta contra “tudo”?
Pedro Floriano Ribeiro – Em primeiro lugar, qualquer afirmação mais peremptória seria precipitada, pois os protestos ainda estão ocorrendo, e é prudente esperar os próximos desdobramentos. No entanto, fica claro que a questão da passagem foi apenas o estopim, que abriu as portas para a expressão de insatisfação frente a outros tópicos específicos, como a questão da inflação, o fracasso das políticas de educação e saúde em todos os níveis de governo, e o mau uso dos recursos públicos nas obras da Copa e das Olimpíadas. Mas, os protestos expressam uma rejeição difusa à classe política e aos partidos, de “A” a “Z”; nesse caso, a questão da corrupção assume um lugar de destaque, e afeta a todos os grandes partidos. Essa rejeição dos jovens à classe política e à atividade política é generalizada não só no Brasil, mas em praticamente todas as democracias atuais. Não se trata, assim, de protestos contra a Dilma, ou contra o Alckmin: é uma rejeição geral à política institucional, incluindo os partidos. Mas qual seria a alternativa? Esse é o problema: não há alternativa melhor que a democracia, e não se conhece democracia moderna sem partidos políticos.
PP – O vandalismo empregado em situações ocorridas durante essa semana é habitual em protesto?
Ribeiro – Sim, é habitual, pois há aqueles que se aproveitam do anonimato conferido pela multidão para praticar atos de selvageria que, isoladamente, não teriam coragem de praticar.
PP – É possível identificar (e necessário) quem está “financiando e promovendo” esse movimento?
Ribeiro – Não é necessário, e parece que se trata de um movimento bastante difuso, com várias lideranças, e em alguns casos sem nenhuma liderança visível.
PP – Existe espontaneidade de organização em um movimento de tamanha proporção?
Ribeiro – Em parte há espontaneidade sim. Por outro lado, há os pequenos partidos de esquerda, e parcelas do movimento estudantil, que parecem estar à frente em muitas cidades.
PP – A internet através das redes sociais tem um papel fundamental no agrupamento. Como quantificá-la ou dimensioná-la para identificar o poder e aglomeração da internet?
Ribeiro – A internet tem um papel relevante na coordenação desses grupos. Não à toa, são os mais jovens que estão nas ruas, depois de se articularem e se motivarem pela internet.
PP – Essas manifestações terão fim com as Copas das Confederações ou o palco continuaria armado até 2014 com Eleições e Copa do Mundo?
Ribeiro – Não há como saber no momento. A Copa do Mundo pode fazer os protestos renascerem com força, já que a indecência no uso de recursos públicos na construção de estádios, como se vê em São Paulo, Rio, BH, Brasília, entre outras cidades, parece estar muito clara para amplas parcelas da população. Por que construir, com recursos públicos, um estádio caríssimo em São Paulo, e que será doado a uma entidade privada, quando há enormes déficits em habitação, saúde e educação na cidade e no estado? Essa lógica simples não está mais passando despercebida, felizmente.