Crime organizado no Brasil “é muito pior do que em outros países”
“A Secretaria de Justiça tem muitos desafios. Talvez hoje, dentro das políticas que a Secretaria trabalha, a mais difícil é a de política sobre drogas. Hoje enfrentamos uma situação muito difícil de consumo e de oferta de droga, então acredito que o tema mais difícil hoje é esse. Talvez seja o tema mais difícil não apenas aqui, para o governo do Estado, mas para todos os governos do mundo todo”, afirmou Fabiano Marques de Paula, Secretário Adjunto da Justiça, em visita ao Primeira Página.
Questionado se há uma escalada de violência no Estado, Marques respondeu: “Hoje as forças de segurança em geral, tanto a polícia militar, quanto a polícia civil, têm uma atuação muito forte no combate a criminalidade organizada, e na medida em que esse combate é reforçado há, como uma das possíveis conseqüências, uma maior tentativa de organização do crime. Essa é também uma luta difícil, um processo difícil, e temos que vencer uma batalha a cada dia”, afirma.
Segundo Fernando Manuel Araújo Moreira, pesquisador da área de Segurança e professor da UFSCar, o crime organizado no Brasil é muito pior do que em outros países: “As pessoas não têm noção como funciona o terror do tráfico nos morros cariocas ou em São Paulo. O Jardim Ângela (zona sul da capital paulista) foi muito mais violento do que Beirute, do que a Faixa de Gaza, ou do que a Colômbia. Na Guerra do Vietnã, que até hoje é uma marca a fogo nos EUA, morreram, em 20 anos, 70 mil soldados. No Brasil, entre 1980 e 2000 foram mortas 517 mil pessoas”, afirma Moreira, que acredita ser o uso da tecnologia um importante caminho no combate ao crime organizado: “Sou membro do Conseg (Coordenadoria Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança) desde 2004, e tenho dado palestras dizendo que o que sempre vai fazer a diferença entre nós, que estamos do lado certo, e o bandido, é a capacidade de usar tecnologia, principalmente na inteligência. O bandido ainda não conseguiu recrutar gente com conhecimento avançado, mas é uma questão de tempo. É uma questão de pouco tempo”, diz Moreira, que define: “Crime organizado é tráfico de entorpecentes, de armas e de pessoas. Essas são as três maiores indústrias do mundo. Elas faturam mais do que a Coca-Cola”.
Violência em São Carlos
Nos meses de setembro e outubro deste ano já ocorreram 9 vezes mais homicídios do que no mesmo período do ano passado. Em setembro de 2011 não aconteceu nenhum assassinato na cidade, enquanto que em setembro deste ano ocorreram 4. Em todo mês de outubro do ano passado, ocorreu 1 homicídio. Até hoje, dia 28 de outubro, já ocorrem 5 homicídios.
Segundo delegado Edmundo Ferreira Gomes, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), a situação da violência em São Carlos começou a ganhar contorno atípico em setembro: “No início desse mês aconteceu um homicídio que, depois, passou a ser a característica dos outros. Nos casos anteriores nós conseguimos definir a origem, a procedência, e a partir de setembro começaram a ser execuções: a pessoa chegava e dava vários tiros. E muitas das vítimas já tinham passagem na polícia. Então é uma série de homicídios atípica, tanto em relação ao número ocorrido quanto à forma que os homicídios estão sendo praticados”, afirma.