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‘Cura gay’ é objeto de politização, acreditam religiosos

06/07/2013 18h34 - Atualizado há 11 anos Publicado por: Redação
‘Cura gay’ é objeto de politização, acreditam religiosos

O polêmico projeto que prevê a revogação de dispositivos de resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe os profissionais de participarem de terapias para alterar a orientação sexual e de tratar a homossexualidade como doença, já conhecido como projeto da “cura gay” foi alvo de politização, acreditam autoridades religiosas ouvidas pela reportagem do Primeira Página.

 

O projeto foi retirado de pauta na última terça-feira (2), mas o deputado Anderson Ferreira (PR-PE) tentou reapresentá-lo, o que não é permitido pelo Regimento Interno da Câmara. O projeto só poderá entrar em pauta novamente em 2014.

 “Tenho certeza que houve politização do tema”, disse o presidente do Conselho de Ministérios Evangélicos de São Carlos, o pastor Ismael da Silva. “Não existe ‘cura gay’. O que se queria é que os profissionais da área de psicologia pudessem conversar sobre o tema. Esses profissionais atendem a qualquer ser humano. Qual é o problema de atender a quem é homossexual?”, questiona.

Para o pastor Ismael, houve uma deturpação do assunto, o que na verdade era uma abertura para oferecer ajuda profissional. “A igreja trata a homossexualidade com muita naturalidade. Ela [a homossexualidade] existia antes de Cristo. A homossexualidade é uma opção, ninguém nasce homossexual. Aprendemos isso. Ou você nasce homem ou mulher. A igreja ajuda muito e respeita muito. Nós temos casos nas igrejas de São Carlos em que as pessoas procuram ajuda”, explica.

“A igreja não discrimina ninguém pelas suas opções, aliás amamos a todos e entendemos que os homossexuais, as lésbicas precisam ser precisam ser alcançados pelo amor de Deus”, acrescenta.

O pastor acredita que boa parte dos homossexuais carrega traumas de infância, quando foram submetidos a abusos. “Na igreja em que congregamos têm três casos de pessoas que foram abusadas pelos pais e tios que a igreja trata com ajuda pastoral e de psicólogos, por isso acreditamos que a psicologia pode ajudar muito”.

 

MISERICÓRDIA –  O pároco da Catedral, padre José Luís Beltrame, afirma que a igreja católica apoia a situação do povo em seus conflitos. “O parâmetro para os cristãos é o evangelho, na caridade, no amor e na misericórdia, todos são amados, independente das suas opções”, explica.

“Jesus é misericórdia e não exclui ninguém. A iniciativa do projeto tem uma intenção boa, mas sempre tem aquele que quer tirar proveito para desvirtuar o assunto”, acredita o padre em referência as dimensões que o assunto tomou na mídia.

 

Tratar homossexualismo como doença é retrocesso, afirma psicóloga

A psicóloga Larissa Locachevic da Silva afirma que a imprensa tratou o tema ‘cura gay’ de forma sensacionalista. Para ela, a psicologia encara cada pessoa como única, com seus aspectos pessoais que precisam ser considerados e trabalhados de forma individual com cada paciente. “Sendo homossexuais ou heterossexuais, os pacientes precisam ser considerados dentro do contexto em que vivem com suas particularidades. Sabemos que na nossa sociedade atual os homossexuais sofrem muito preconceito e recebem ‘rótulos’ devido sua orientação sexual”, explica.

“Não vem ao caso avaliar se a sexualidade é uma questão de escolha ou de nascença. O que deve ser enfatizado é que, homo ou heterossexuais precisam ser respeitados no local em que trabalham, na família, círculo de amigos e na sociedade como um todo”, complementa.

Larissa confessa que tratar o homossexualismo como doença é um retrocesso. “Sabe-se que homossexualidade não é doença, portanto não é passível de cura. A polêmica se criou porque as religiões têm pontos de vistas diferentes, a ciência e a sociedade também. Temas em que as pessoas não têm uma opinião comum geram sempre polêmica”, acredita.

A psicóloga acredita que tratar homossexualidade como doença pode criar efeitos colaterais como angústia, depressão e outras sensações. “O preconceito para com os homossexuais já gera muita angústia, depressão e até transtornos nessa população, pois se veem numa sociedade onde não são aceitos por muitos. Tratá-los como doentes, que precisam se curar, aumenta o preconceito, o tratamento diferente e a falta de respeito”.

 

Larissa conclui que o código de ética do psicólogo coloca que o trabalho do psicólogo deve se pautar no respeito e na promoção da liberdade, dignidade, igualdade e integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Sendo assim podemos interpretar que nossa classe profissional não deve ser conivente com o desrespeito ao próximo, independente da sua sexualidade”.

 

Igreja tem suas histórias de ‘cura gay’

A reportagem tentou, nessa semana, conversar com Roberto (nome fictício) que se mostrou reticente em conceder entrevista. “São Carlos é uma cidade muito pequena. Fica difícil a exposição desse jeito, prefiro não aparecer”, disse.

Hoje casado, pai de duas filhas e evangélico, ele resume a sua história. “Como homossexual, fui escravo do sexo e das drogas e foram os aconselhamentos da igreja que me ajudaram a sair desse mundo”, explica.

O pastor Ismael da Silva também relata um caso de conversão na sua igreja, a Assembleia de Deus, Ministério de Madureira. Ele conta que uma mulher, aos 19 anos, era questionada sobre o fato de não arrumar namorado. “Quando ingressou na universidade, ela se relacionava com moças. Isso ocorreu durante uns 12 anos”.

A mulher, segundo o pastor Ismael, passou a frequentar as reuniões. Depois de um tempo, expôs a sua condição. “Sempre a respeitamos. Acreditamos que a palavra de Deus tem o poder de mudar o ser humano”, explica. Hoje, a jovem tem 33 anos, conheceu um fiel da igreja, é casada e tem dois filhos.

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