Dor de cabeça crônica é sequela da Covid-19
Estudos feitos no Reino Unido e Noruega indicam que infecção pelo coronavírus afeta memória após desenvolvimento da doença
As sequelas após a infecção pelo novo coronavírus é motivo de estudo em várias partes do mundo, sendo a Inglaterra pioneira na pesquisa. O médico neurologista Fábio Henrique Limonte, de São José do Rio Preto, estuda as consequências neurológicas causadas pela Covid-19.
Estudos indicam um crescimento de 25% nos casos de dor de cabeça pós-infecção. Relatos mostram que o paciente adquire este sintoma que pode perdurar por até duas semanas ou um período mais prolongado. Há ainda um índice maior que indica o agravamento da dor de cabeça em 60% dos pacientes que já tinham o sintoma, antes de desenvolver a doença.
“Neste sentido não foi a Covid-19 que desencadeou, mas piorou o sintoma. Por isso, o número significativo de relatos. A doença, além de causar novo padrão de dor, ainda tornam mais agudos os episódios de quem já sofria com o sintoma”, relatou.
O médico explicou que a falta de oxigênio no cérebro, causada pela dificuldade que o paciente tem de respirar, quando o pulmão é afetado, é o que leva à dor de cabeça. “O sintoma tem se manifestado inclusive em pacientes que não tiveram o quadro clínico agravado”.
Segundo Limonte, o estudo desenvolvido no Reino Unido com pacientes que morreram de Covid-19 descobriu que neurônios corticais no cérebro tinham a presença do vírus. “Isso denota que o novo coronavírus tem um espalhamento no tecido cerebral, esparramando toxinas inflamatórias na região do sistema nervoso central, o que pode levar ao quadro de dor de cabeça”.
MEMÓRIA – Os pacientes que desenvolveram o quadro infeccioso da Covid-19 relataram, no estudo, deficiência na memória de processamento. São lembranças do dia a dia da pessoa de situações corriqueiras, como ir ao supermercado e esquecer o que tem de comprar. Em outro estudo norueguês, 12% das pessoas que tiveram o quadro clínico agravado pelo vírus, dentro da amostragem da pesquisa, desenvolveram esquecimentos.
O Instituto do Coração (Incor), no Brasil levantou em sua pesquisa que 80% dos pacientes pós-Covid-19 tinham dificuldades em responder um teste cognitivo para avaliar o grau de memória.
“São pacientes que já apresentavam perda de cognição e o quadro agravou após a Covid-19. A pesquisa mostrou que o quadro ficou mais acentuado em pacientes com baixa escolaridade e condições econômicas mais limitadas”, relatou.
Neste caso, o médico indica uma avaliação neuropsicológica para identificar o grau de deterioração cognitiva e entrar com uma reabilitação com novos aprendizados, para aumentar a reserva cognitiva. “Existem métodos de terapia para estimular a memória”.
Contudo, Limonte ressalta a importância da avaliação para que não se confunda com a falta de atenção que é desenvolvida pela ansiedade. “O sentimento de estresse gerado por ter vivenciado de perto o agravamento da Covid-19 pode promover uma falta de atenção nas atividades cotidianas. ”