Enem começa hoje e precisa dar certo
Este final de semana não é só decisivo para os cerca de 5,3 milhões de candidatos que vão fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2011. Cercando a prova de cuidados, o MEC (Ministério da Educação) e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) tentam fazer com que os problemas das últimas edições não se repitam.
Para isso, nas palavras do ministro Fernando Haddad, o Enem se cercou do “melhor da inteligência no país”: o Inmetro começou a acompanhar cada etapa da produção das provas, fez-se um contrato longo com a gráfica que imprime os testes, reforçou-se a segurança e a logística.
Isso, no entanto, não evitou deslizes: nesta semana, mais de mil candidatos no Rio de Janeiro receberam os cartões de confirmação de inscrição com o endereço errado do local de provas. O MEC afirma que avisou os estudantes do problema.
A fiscalização do exame, considerada na última edição uma das fraquezas do Enem (um aplicadora de uma cidade da Bahia vazou parte do tema da redação para o filho dela), foi um dos pontos atacados pelo Inep. A presidente do órgão, Malvina Tuttman, disse que o treinamento dos fiscais seria “intensificado”.
O próprio futuro político de Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, depende do sucesso desta edição, afirmam especialistas. Segundo o cientista político Milton Lahuerta, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), o Enem é um “telhado de vidro” em uma eventual campanha. “De jeito nenhum será um tema confortável. O que aconteceu [erros nas provas anteriores] já é suficientemente complexo”, diz.
Haddad é o fiador do novo modelo do Enem, em vigor desde a prova de 2009, e sucesso desta edição ajudaria a consolidá-lo. Concebido pelo então ministro Paulo Renato Souza (PSDB), em 1998, como um instrumento de avaliação do ensino médio, o exame passou a ter também a função de seleção em universidades federais. A ideia de Haddad é que, no futuro, o Enem passe a ser utilizado por todas elas como único método de entrada dos estudantes, acabando com o vestibular.
Uma das maiores mudanças no Enem foi o método de correção: passou-se a utilizar a TRI (Teoria de Resposta ao Item), que atribui “níveis de dificuldade” às questões e impede, por exemplo, que um aluno que chutou e acertou a maior parte das questões tire uma nota maior do que aquele que acertou questões mais difíceis.
Além da seleção para universidades, o Enem também é usado pelos estudantes que querem uma bolsa no Prouni (Programa Universidade para Todos) ou um crédito no Fies (Financiamento Estudantil).
Problemas
O novo modelo vem enfrentando problemas desde que começou. No primeiro ano, a prova foi furtada da gráfica, o que forçou o cancelamento do exame a apenas dois dias da realização. Com a mudança de data, várias universidades desistiram de utilizar o exame como seleção.
Em 2010, novos problemas: mesmo com a prova cercada de maiores cuidados, o cabeçalho dos cartões de resposta do primeiro dia veio invertido; além disso, estudantes receberam alguns cadernos de provas com erros de impressão, o que obrigou o MEC a fazer um novo teste para eles dias depois. Não bastasse, um repórter de Pernambuco vazou o tema da redação de dentro do banheiro de um dos locais de prova.
Alunos também reclamaram que tiveram as redações zeradas –segundo eles, injustamente. Isso tudo provocou uma batalha de liminares que provocou o cancelamento da prova, por parte da Justiça. O MEC conseguiu reverter a decisão e o processo de seleção continuou.{jcomments on}