Extração de pedras portuguesas corre riscos em São Carlos
O uso das pedras são-carlenses vai além dos limites do município. Um exemplo notável é o Shopping Dom Pedro, em Campinas
As pedras portuguesas, conhecidas por seu uso estético e versátil em calçamentos, têm uma história que remonta ao século XIX em Portugal e chegaram ao Brasil no século XX, tornando-se um ícone nos projetos de paisagismo do país. Utilizadas em obras emblemáticas, como o Calçadão de Ipanema, no Rio de Janeiro, e o Largo de São Sebastião, em Manaus, essas pedras representam uma herança cultural e artística que atravessa gerações.
O Rio de Janeiro, aliás, detém a maior extensão mundial de calçadas revestidas com pedras portuguesas, somando impressionantes 1,218 milhão de metros quadrados. Mas se o calçamento em pedras portuguesas é um símbolo da Cidade Maravilhosa, em São Carlos, no interior de São Paulo, a tradição ganha uma cor particular.
A cidade, conhecida como a “Capital da Alta Tecnologia”, também é famosa pela sua pedra portuguesa amarela, um material exclusivo da região. Popularmente chamada de “Pedra São Carlos”, essa variação se diferencia das cores mais comuns – branca, vermelha, preta e cinza – e é amplamente utilizada em obras locais e em outras partes do país. Angelo César Brás, ou Cesinha, como é conhecido, trabalha há mais de 20 anos com a extração e venda dessa pedra. “Já entreguei para o Brasil inteiro. Alguns amigos até exportaram. Aqui em São Carlos, muitas calçadas são feitas dessa pedra, assim como a catedral, o cemitério, e, antigamente, o calçadão”, conta o empresário. Ele lamenta, contudo, a retirada das pedras do antigo calçadão da cidade, substituídas por outro tipo de pavimento pelo poder público.
O uso das pedras são-carlenses vai além dos limites do município. Um exemplo notável é o Shopping Dom Pedro, em Campinas, que utiliza a pedra de São Carlos tanto na área externa quanto interna, conferindo um toque único ao empreendimento.
No entanto, o futuro dessa tradição está ameaçado. A lei municipal nº 13.944, de 12 de dezembro de 2006, proíbe a abertura de novas áreas de mineração nas Áreas de Proteção e Recuperação de Mananciais de São Carlos (APREM/SC). Sem a possibilidade de novas extrações, a pedra portuguesa amarela corre o risco de desaparecer, levando consigo uma importante referência cultural e econômica da região.
“Não podemos deixar acabar com a pedra portuguesa, pois muita gente conhece a cidade como a ‘Capital da Pedra Portuguesa Amarela’”, alerta Cesinha. Para ele, é fundamental que a legislação seja revista para garantir a continuidade da produção. A preocupação é compartilhada por Matheus e Camila, um casal que trabalha no setor e já teme pelo futuro. “Temos que proteger o meio ambiente, mas também nossos empregos. Basta modificar um item na lei, onde a histórica pedra continua sendo produzida e nós continuamos trabalhando. Esperamos que tanto os vereadores quanto a prefeitura pensem com carinho nessa situação”, desabafam.