Fossa Séptica Biodigestiva da Embrapa completa 20 anos
Tecnologia criada em São Carlos revolucionou saneamento rural ao apresentar alternativa que impede contaminação do solo e lençol freático
Há vinte anos o pesquisador e veterinário da Embrapa Instrumentação, unidade de São Carlos (SP), Antonio Pereira de Novaes, apresentou a tecnologia e o protótipo da Fossa Séptica Biodigestora como um instrumento para o saneamento rural, que impacta na redução da contaminação do lençol freático das comunidades que vivem no campo. A tecnologia ultrapassa as conexões hidráulicas e mecanismo de despoluição ao entregar melhoria na qualidade de vida do brasileiro.
A Fossa Séptica Biodigestora nessas duas décadas já beneficiou 57 mil pessoas com aproximadamente 12 mil instaladas, nas 5 regiões do país. Dentro das estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados da pesquisa PNAD DE 2015, o Brasil possui cerca de 31,2 milhões de habitantes morando na área rural e comunidades isoladas.
Desta população, existem 3,2 milhões de brasileiros que não possuem banheiro, ou seja, defecam ao ar livre; cerca de 17 milhões de brasileiros ainda sofrem com o problema crônico e grave da falta de saneamento básico e estão expostos à contaminação por doenças veiculadas pela urina, fezes e água, tais como hepatite, cólera, salmonelose e verminoses.
No sábado, 10 de julho, é comemorado em São Carlos o Dia Municipal de Saneamento Básico Rural, em homenagem ao criador da Fossa Séptica Biodigestora, Antonio Pereira de Novaes. A data marca o dia do nascimento de Novaes. A tecnologia vem sendo adotada no saneamento na área rural. São Carlos é o único município brasileiro que tem esse dia, criado em 2013 pela Câmara e Prefeitura.
EFICÁCIA – A tecnologia é simples no conceito e foi baseada por Novaes no sistema digestivo dos ruminantes, como por exemplo, o boi. O equipamento é composto por várias câmaras que processam o resíduo fazendo a filtragem das impurezas aos moldes do sistema digestivo dos ruminantes. “Transferir esse conhecimento para os biodigestores foi um salto para o saneamento no país”, disse o químico e pesquisador da Embrapa, Wilson Tadeu Lopes da Silva.
Segundo ele, hoje parece óbvio aplicar o sistema que a natureza utiliza em tecnologia. “Novaes usou o conceito da vida ao transpor de forma similar o sistema digestivo dos ruminantes para um mecanismo tecnológico, com viabilidade econômica, robustez na durabilidade e facilidade de manipulação, ideal para áreas isoladas e individualizadas rurais, para o tratamento do esgoto. A fossa séptica biodigestora alia todos esses conceitos”.
O instrumento surgiu para contrapor as fossas rudimentares que é o buraco no chão onde são depositadas as fezes humanas que após o tempo de vida útil é lacrada e passa-se para outro espaço. “Porém, com o tempo o resíduo permeia o solo e atinge o lençol freático contaminando a água potável que as famílias usam em casa. Vira um ciclo de proliferação de doenças e gastos”.
Outra maneira utilizada para descarte do esgoto é despejar o resíduo em rios próximos da residência. A ação contamina a água de outros moradores que vivem ao redor do rio. Todas essas opções trazem danos ambientais e impacto na qualidade de vida das pessoas. “São soluções muitas vezes simples e baratas, contudo, inadequadas”.
Nesse sentido, a ideia de Novaes foi ao encontro do simples e barato ao apresentar um sistema que pode ser montado pelo dono da propriedade com peças que são encontradas em loja de material de construção. A Embrapa tem uma página na internet com informações relativas ao equipamento como com o manual de montagem, modelo de peças, e a aplicação, como perguntas e respostas e a importância do saneamento rural, além de oferecer informações para a manutenção cotidiana do sistema. Confira em www.embrapa.br/tema-saneamento-basico-rural .
A tecnologia traz ainda um ganho ambiental adicional com o reuso da água extraída da fossa séptica como fertilizante agrícola. “Com isso fecha-se o ciclo. Além de se fazer o tratamento do esgoto, o líquido tratado gerado pela filtragem traz nutrientes para a fertilização do solo. Isso leva à redução de fertilizante industrializado e aumenta a produtividade agrícola do produtor”.
Uma fossa biodigestora custa em média R$ 1.500,00 e basicamente pode ser montada em dois dias de trabalho.
PRÊMIOS – Os avanços nos 20 anos ocorrem com pesquisas na inovação da tecnologia adotada. Paralelamente percebeu-se que não bastava ser barata e robusta, necessitava que as pessoas tivessem conhecimento da informação por meio de textos simples e objetivos. Outra etapa foi o reconhecimento científico com publicações de artigos nas revistas especializadas, e a inscrição em concursos de inovação tecnológica. Com isso, a tecnologia conquistou o Prêmio de Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil em 2003; Prêmio ABERJE 2003, categoria Vídeo de Comunicação Externa na Etapa Regional Centro-Oeste/Leste, além do terceiro lugar no Prêmio Mercocidades, entregue em Montevidéu, no Canadá.