Julgamento de acusados de matar Chiquinho Campaner deve terminar hoje
Tribunal do júri definirá destino do vigilante Cícero Alves Peixoto e do empresário Manuel Bento Santana

Deve ser concluído hoje, quarta-feira, 18 de outubro, o julgamento de Cícero Alves Peixoto e Manuel Bento Santana da Cruz, acusados de, há cerca de quatro anos, assassinar o então prefeito de Ribeirão Bonito , Francisco Campaner, o “Chiquinho Campaner” e pela tentativa de homicídio de outras duas vítimas. O destino dos réus será definido por um júri popular no Fórum de Ribeirão Bonito.
O homicídio de Campaner ocorreu no dia 26 de dezembro de 2019, em uma estrada de terra na zona rural do município. Além do prefeito, o chefe de gabinete, Edmo Gonçalo Marchetti, e o amigo do prefeito, Ary Santa Rosa, também estavam no carro e foram baleados, mas sobreviveram.
O julgamento começou ontem às 9h e deve terminar somente hoje devido ao grande número de depoimentos previsto. Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), foram arroladas duas vítimas e 25 testemunhas para serem ouvidas, uma de acusação e 24 comuns às partes.
O Conselho de Sentença foi formado por sete jurados, sorteados momentos antes do início do julgamento, e que está sendo presidido pelo juiz de Direito, Victor Trevizan Cove.
Os réus respondem por homicídio por motivo torpe; traição, de emboscada ou recurso que dificulte defesa; para assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime; e crime consumado.
O delegado Geraldo de Souza Filho, que comandou o inquérito do assassinato de Campaner e que chegou a ser homenageado pelo Governo do Estado de São Paulo por ter desvendado o Caso Chiquinho Campaner e descoberto e prendido os supostos autores do bárbaro crime, afirmou ontem que espera que os réus paguem por todos os crimes que cometeram. “Esperamos Justiça”, declarou ele.
JÚRI
A sessão de julgamento de ontem começou às 9h e seguiu até às 18h. Foram ouvidas as duas vítimas, cerca de oito testemunhas do caso e ainda houve o interrogatório dos dois réus.
Depois da suspensão da sessão, os jurados foram encaminhados a hotéis de Ribeirão Bonito acompanhados por oficiais de Justiça e policiais militares, pois eles têm que ficar incomunicáveis até às 9h de hoje, quando o tribunal do júri será retomado.
O advogado de São Carlos, Arlindo Basílio, atua como assistente de acusação no caso.
DEBATES
Hoje, o julgamento recomeça às 9h e poderá ter até 9h horas de debate. O Ministério Público terá 2h30 para apresentação da acusação e a defesa terá o mesmo tempo para colocar seus argumentos.
Se a Promotoria desejar terá mais 2h para contra-argumentar as teses da defesa. Da mesma forma, o advogado de defesa terá também suas 2h para a réplica. Assim, se isso se confirmar a sessão deve entrar noite adentro hoje até a sentença ser proferida.
PARA ENTENDER O CASO
O assassinato de Chiquinho Campaner aconteceu na tarde de 26 de dezembro de 2019. A Polícia Civil chegou até um dos suspeitos, o vigilante Cícero Alves Peixoto, de 56 anos, no dia 2 de janeiro. Peixoto confessou a participação, mas negou que tenha atirado no prefeito.
Em depoimento ele revelou que os tiros que mataram Campaner teriam sido desferidos pelo empresário do setor de transporte Manuel Bento Santana da Cruz.
O crime teria sido motivado pelo cancelamento de um contrato de transporte escolar e a falta de pagamento de serviços prestados à prefeitura, segundo a Polícia Civil. O empresário prestava serviço há mais de uma década e a empresa foi substituída. O contrato, segundo a polícia, era apenas verbal.
O empresário se entregou à polícia no dia 3 de janeiro de 2020 e, em primeiro depoimento, negou envolvimento no assassinato do prefeito, segundo sua advogada. A Polícia Civil diz que os suspeitos contam versões divergentes e reafirma a participação dos dois, mas não divulgou o nome do autor dos disparos.
No dia 30 de janeiro de 2020, a Justiça concedeu a prorrogação das prisões temporárias dos dois suspeitos. No dia 3 de fevereiro de 2020, o empresário mudou sua versão dos fatos e admitiu que estava no local do assassinato.
No dia 7 de fevereiro de 2020, os dois suspeitos participaram de uma acareação e mantiveram as versões divergentes sobre quem atirou em Chiquinho Campaner em dezembro do ano passado.
O inquérito policial foi concluído e relatado ao Ministério Público em 17 de fevereiro de 2020. De acordo com a Polícia Civil, o empresário do setor de transporte Manuel Bento Santana da Cruz foi quem atirou contra o carro do prefeito. A prisão preventiva dos dois foi decretada no dia seguinte.
No dia 28 de janeiro , o então governador João Doria e o então secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, homenagearam três policiais civis das cidades de São Carlos e Ribeirão Bonito, com o certificado ‘Policial Nota 10’.
A solenidade em tal ocasião aconteceu na sede do Palácio dos Bandeirantes, na zona oeste da Capital Paulista. O delegado de polícia, Geraldo de Souza Filho, da Delegacia Seccional da Polícia Civil de São Carlos (SP), o investigador Maurício Lara Giampedro, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) do mesmo município e o escrivão de polícia, Igor Rodrigo Gonzaga Serrano, da Delegacia da Polícia Civil de Ribeirão Bonito, foram reconhecidos pelo esclarecimento do homicídio que vitimou o prefeito de Ribeirão Bonito (SP), Francisco José Campaner em dezembro de 2019.
Em dezembro de 2022, a Justiça Criminal cancelou o julgamento dos acusados de matar Chiquinho Campaner no final da tarde de 26 de dezembro de 2019, na Estrada Municipal Domingos Caron, situada nas proximidades de um Haras, e que dá acesso à Rodovia Professor Luís Augusto de Oliveira (SP-215).
O adiamento ocorreu porque a defesa do empresário Manuel Bento Santana da Cruz, recorreu junto ao Tribunal de Justiça, que estaria analisando o processo, a fim de decidir se o mesmo poderia ou não ser desmembrado, e ambos os acusados serem julgados separadamente. Finalmente, ontem, 17 de outubro, quase 4 anos depois do crime, os acusados serão julgados.
QUEM ERA CHIQUINHO CAMPANER
Francisco Campaner, o “Chiquinho Campaner” tinha 57 anos e era um político bastante conhecido em Ribeirão Bonito, cidade para a qual foi eleito prefeito por quatro mandatos (1982, 1989, 2001 e 2005) e cuja Câmara Municipal presidiu três vezes, a última entre 2005 e 2006.
O político e advogado, solteiro e sem filhos, disputou o cargo de prefeito em 2012, quando era o terceiro candidato mais votado, e voltou a concorrer em 2016, já como membro do PSDB, quando venceu as eleições com 3.132 votos, 47, 96% do total.
Como vereador, ele teve uma destacada atuação, principalmente na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que em 2002 investigou casos de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Bonito que culminaram na cassação do então prefeito Antonio Sérgio de Melo Buzzá em 2002. Meses depois, Buzzá seria preso devido às acusações de corrupção e peculato.