Mulheres nunca consumiram tanta bebida alcoólica
Pesquisa divulgada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo aponta que, há 15 anos, a proporção do consumo de bebida alcoólica era de duas mulheres para cada dez homens. Hoje, são oito para cada dez, o que representa um aumento de 300%. No mesmo estudo, constatou-se que quanto mais instruída for a mulher, o risco de ingerir bebida alcoólica também aumenta – ao contrário dos homens. Isso porque aqueles com baixo grau de instrução apresentam oito vezes mais chances de chegar ao alcoolismo.
Segundo dados de um estudo elaborado pelo Ministério da Saúde, em seis anos houve um crescimento de 2,4% no número de mulheres que tomam mais do que quatro doses no mesmo dia, o que equivaleria a 1, 140 litros de cerveja, 480 mililitros de vinho ou 144 mililitros de destilado, como vodka e uísque. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica como “consumo pesado” para o sexo feminino passar de uma dose de bebida alcoólica em um mesmo dia. Portanto, quatro doses extrapolariam a categoria.
De acordo com a psicóloga Diana Vergara, o cenário pode ser explicado devido às mudanças culturais ocorridas na última década. “A relação do maior grau de instrução com o consumo de bebida alcoólica pode ser explicada devido à independência adquirida pela mulher. Hoje, ela ganha o próprio dinheiro, paga as próprias contas e quer sair para beber com as amigas, que se encontram na mesma situação”, explica.
No entanto, Vergara ressalta que muitas vezes o consumo do álcool no caso das mulheres acontece quando elas querem lidar com circunstâncias de estresse e abrandar sintomas depressivos, enquanto os homens são motivados por ocasiões sociais, como assistir ao lado de amigos uma partida de futebol. “Isso não significa que a mulher também não saia simplesmente para se divertir entre amigos, mas, geralmente, o término de um relacionamento, frustração profissional e acontecimentos pontuais que podem desencadear uma reação depressiva também contribuem para que a mulher beba mais”, afirma.
O problema, porém, está quando beber se transforma em comportamento abusivo, ou seja, quando a mulher, apesar de ter enfrentado problemas interpessoais, legais ou físicos devido ao consumo do álcool, ainda assim recorra à bebida. “Já vi casos de pacientes relatarem que caíram em festas, ficando, inclusive, com hematomas. Ou então que foram proibidas de entrar em casas noturnas porque brigaram durante o ápice da bebedeira e mesmo assim continuaram bebendo. Se situações como as citadas se tornam recorrentes, podemos considerar abuso, o que futuramente se transformará em dependência. Por isso, moderação é fundamental”, salienta a psicóloga.